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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Negra luz

Passa, nuvem negra, larga o dia e vê se leva o mal que me arrasou, pra que não faça sofrer mais ninguém... Já esclareci um bocado, tenho certeza disso; torno, entretantomente, a repetir setenta vezes vezes sete, feito aquela historinha da bíblia, Pedro e Jesus trocando uma figurinha, uma historinha de perdão ao irmão filho de uma égua, o cara apronta, apronta, apronta, apronta, e tome-lhe perdão no meio dos cornos!, perdoai setenta vezes vezes sete!, li alhures, nem foi nas escrituras, nunca li a bíblia lida assim, espontaneamente, nem leitura demorada, nem leitura corridinha, que dirá salteada: o pequeno e vasto, o lenitivo gesto de ir lá buscar o livro santo, abrir, folhear, pousar os olhinhos míopes num versículo salvador da pátria da humanidade; engraçado, nisso jamais pensara, estou pensando nisso exatamente agora, mentira que não leio a bíblia, leio a bíblia, acabo de perceber, leio a bíblia dentro de outros livros, tanta gente usa e abusa das sagradas escrituras, transcreve trechos, interpreta a palavra que era para ter p maiúsculo, suponho, algumas palavras anteriormente escrevinhadas aqui, também, parece, herege incorrigível!, tanta gente interpreta a palavra santa conforme o seu estrabismo, a sua alucinação, a sua própria falta de juízo, a cada doido o seu crachá, a sua bandeirola e o respectivo ansiolítico, amém. Às vezes, só escuto mesmo, aliás, escuto aonde vou, escuto muito as pessoas falarem sobre as coisas santas, escuto tudinho e fico bem quietinha, sou de uma ignorância deplorável, calculando por alto a insipiência, desconfio que, para subir aos céus, vou precisar de descer mil oitocentos degraus e outro tanto, decerto, despencarei sem atrito, queda livre e desimpedida, para quicar solenemente, em seguida, do fundo do poço dos exames de consciência inquieta, buliçosa, arrependida, para a cobertura master do paraíso, aposto minha medula, que sou boazinha de todo, boazinha demais da conta, em praticamente dois terços dos trezentos e sessenta e cinco dias. Além do mais ou menos, certos assuntos, minha senhora, dependendo de como se me apresentem, Virgem Santíssima, eu sofro desse defeito de fábrica, um caso sério, uma temeridade, confesso porque sou esse baú de bocarra aberta: na minha modestíssima, desimportantíssima concepção, ninguém se importa com o meu achômetro, rarará, somente por causa disso - pura pirraça!  - prossigo palpitando, rarará: na minha inútil concepção, se é para o sujeito discorrer sobre as coisas santas, esse sujeito tem de viver pecando, tem de ser pecador igual a mim, pecar mais do que eu até, para acumular bastante conhecimento de causa e efeito, primeiramente. Segundamente, tem de presumir, experimentar e acolher, de frente para trás e de trás para adiante, o lado escuro do ser; tem de, nos dias pares, é claro, perder o norte e a compostura, tem de amanhecer, vez por outra, desolado, deprimido, com o diabo no couro e o ovinho virado, a fim de esganar, sem culpa, o seu amado semelhante, tem de, portanto, inalar o mau cheiro e refletir o lado mais obscuro do ser  – a ambição, a vaidade, a inveja, a aspereza, a preguiça, a covardia, a imensa suscetibilidade da criatura entre reles criaturas, a inconsistência, a perversidade da alma da gente -  terceiramente, o sujeito tem de ler de cegar, ler de tudo que há para ser lido, ler e apreciar o fétido e o feio de assombrar criancinha, ler e consentir, ler e aprender, sem reservas, sem rasuras, sem dogmatismos, tarefa dificílima, a senhora concorda, tem de estudar de perder a beira da pestana, tem de honrar pai e mãe e a nossa Língua Portuguesa, tem de respeitar a ortografia, a gramática, a morfologia, a sintaxe, olha a concordância aí, gente!, o sujeito tem de reverenciar a semântica, as figuras de linguagem, a coesão, a coerência, o raio que o parta, etc. e etc. Morro de arriscar umas fichas, não adianta, não dá pé, nunca consegui disponibilizar tempo, atenção, raciocínio e compaixão para desfrute do cidadão que sequer tente expressar-se com sobriedade, naturalidade, clareza e um mínimo de discernimento. Meus calvos alunos, carequinhas de ouvir, já memorizaram: simplificar a vida é caminhar para o amor. Não enfeite o maracá além da medida, quem não pode com o pote, não pega na rodilha. Com relação à retórica, oratória, eloquência de miolo, de lábios e de falanges, rarará, lembrei-me de uma categoria à parte: os espíritas e suas badaladas psicofonias e psicografias: o palestrante espírita palestra em parceria, idem para o escrevinhador espírita, a senhora analise aí, com um Vinícius de Moraes, um Rubem Braga, sei lá, um Rui Barbosa cochichando na oitiva, quero ver quem não arrebenta, o contribuinte vira o bamba do bambu, pinta a sapequeira, fecha de badoque, rarará... O bom é que dividem-se, assim, as responsabilidades da troça ou do aplauso: metade para o escrevinhador ou o conferencista, metade para o assoprador da novidade... Alivia-se, assado, sobremaneira, o fardo. Noutras desnecessárias palavras, não venhais de ‘seje esperto e esteje atento’, meu pobre coração de melão ensurdece, recrudesce, impando de impaciência, passa a corrente e a chave.
Fofíssimos leitores do meu caderninho de notas, a banda toca desse jeito: apesar do meu indiscutível talento para a redação de singelas belezuras, rarará, e de estapafúrdias tolices, cada escrevinhado ‘itálico’ do blog é da autoria de gente mais sabidinha que eu, combinado? Hoje não ligo a TV, nem mesmo pra ver o Jô. Não vou sair, se ligarem ‘não estou’. Está difícil ser eu sem reclamar de tudo. Se eu tivesse de opinar sobre a conduta dos ginecologistas e dos psiquiatras do planeta, no quesito climatério e menopausa, esclareceria, de uma vez por todas, para que não restassem vestígios de falsas ilusões – uma desumanidade – esclareceria que somos ratinhos de laboratório, cobaias fêmeas expostas à experimentação, esse povo não tem a menor ideia do que vem a ser esse Pokémon, esses médicos estão muito longe de acertar o alvo, de adivinhar o que fazer com esse sexo subitamente vulnerável, fragílimo, desorientado, ensandecido, desamparado. Cada caso é único, afirmam. Sei... O climatério é um mistério ainda por revelar-se em toda sua magnitude, na sua esmagadora onipotência. Nenhum desses especialistas lhe dirá quando e como o climatério vai se manifestar, quais estágios de dor, de angústia, de melancolia, de palpitação, de frio glacial, de calor vulcânico, de asfixia, ele atingirá. De onde emerge? De que forma se instala? Pra que tanta força? Por que pode ser tão devastador, tão confuso? Não existem quaisquer garantias de conforto, de refrigério, não existe prazo para o pesadelo terminar. Um dia de paz? Um fiapo de alegria? Semanas de insônia? Meses de choro convulso? Anos de fadiga, de agonia? Sinto-me outras: diversas alminhas obsessas, réstias encarceradas na masmorra do peito sufocado. Pela tormenta que tenho atravessado, minha senhora, afirmo catedraticamente: não escolha a solidão. Despreze os malas, des-pre-ze, sem possibilidade de reconciliação, despreze de verdade, até o fim do mundo. O mundo é mega-grande. Todos os malas merecem viver, desde que à distância segura, léguas abaixo de você. Converse. Muito. De perder a voz e o fio da meada. Converse com a vizinha, com o poste, com o abajur, com o psicanalista, com as plantinhas de verdade, com as mudinhas de plástico..., converse, principalmente, com os cachorrinhos, excelentes ouvintes de olhar aceso, devotado. Dispense o noticiário e os beijos de língua da novela, o surto brota desses rejuntes mal acabados. Evite aglomerações, pânico e claustrofobia dão a piscadela, de leve, e provocam bárbaros desastres. Conte com um marido amoroso, que tenha culhões para aguentar o tranco e providenciar, sem achaque, o chá de alfazema e as cápsulas de amora. Cerque-se de afeto, de gente maneira, de boa companhia, de amigos de fé. Há amigos leais, quero que creia. Lance mão de qualquer medicação que lhe proporcione um bem-estar ocasional, relativo, as minhas bolinhas para o momento são estradiol e acetato de noretisterona, alprazolam e cloridrato de sertralina. Psicoterapia na veia. Sobretudo, mantenha-se em prece, faça constantes orações, acreditando inteira na vibração, na expansão da sua infinita luz interior, pois que você é um prolongamento dessa explosão de energia cósmica - suprema, maravilhosa, poderosa, abrasadora, restauradora, regeneradora, fecunda, eterna - Deus? Deusa. Deve ser mulher, num duvido nada disso.

Um comentário:

  1. Esses assuntos do "alto" são complicados. Confesso que não sou de ler a bíblia em casa, mas faço a minha parte indo à missa (quando a preguiça não me amarra à cama, também sou humano kkkk). Essa história de padre não poder casar foi ideia doida da cabeça de um Papa podre no meio desses tantos outros da Idade Média, tudo pra segurar os bens da Igreja na Igreja. Acho que isso afasta um pouco o sacerdote da vida humana, assim como tantas outras coisas. Colocar o sacerdote num pedestal não é o caminho que Deus nos deixou, veja Jesus: quer exemplo de humildade e humanidade maior que ele?
    Quando li a parte sobre as psicografias lembrei de uma coisinha que li hoje no facebook "Chico Xavier foi a primeira impressora sem fio do Brasil" kkkkkk achei o máximo.
    E o alprazolam? vou querer três quilos e embrulha pra viagem por favor, essa semana vai ser difícil!!

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