A
minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela. Fez um desembarque
fascinante no maior show da Terra: o grêmio recreativo escola
de samba carnavalesco bloquinho de notas de inutilidade pública FUCHIQUE, rarará, dos meus olhos a
menina. Em edição extraordinária, hoje é quinta-feira!, o plantão do blog tem a
enorme satisfação de comunicar aos diletos leitores que o menino dark recuperou o telefone e o viço.Vão-se os anéis de fumo, ficam-me os dedos
estarrecidos. De todo contratempo resta uma fatia de agridoce lição, uma
reflexão atônita para a gente aprender a tocar o barquinho furado da vida: tarefinha
besta torrão de açúcar, travoso indigesto dever de casa - um parafuso solto de
ensinamento, querendo ou não, violão, no coração de melão do futuro do homem
jovem, sempre fica. Bater o martelo encerrando o assunto? Uma precipitação,
madame. Gente é como a gente, não nasceu para ser parida e esquecida. Recebi
muitos cumprimentos superlativos lança-perfume confete e serpentina, rarará,
pela historinha anterior. Duvido eu cair nessa esparrela. Acolho, modestamente,
as gentis palavras, sou-lhes muitíssimo grata, apesar dos pezinhos roliços bem assentados
no chão de barro batido da mais pura verdade, capricorniana elemento terra é
fogo: menos, fechado? Vamos combinar, rapaziada sangue bom desocupada: no frigir
dos ovos, angu demais, mirrado recheio. Tudo somado, trata-se de mero
descomedimento. Maiúsculo exagero.
Ainda ontem, à bem-vinda hora do almoço, conversava com
Iracema e Bianca, duas queridas colegas de trabalho e de vadiagem, rarará,
sobre este meu diário de bordo cotidianamente acessado, sabe-se lá por quais
fulanos, beltranos e sicranos, nas bisonhas espeluncas do caminho. Indiscutivelmente,
dei a fuça e o verbo à tapa. E fiz uma
legião de seguidores. Estabeleceram-se, com o respeitável público, vínculos
sagazes de simpatia quase amor, assim como estrangulamentos vertendo deboche,
repúdio e asco. Seja por profunda identificação interpretativa – sintonia moral,
intelectual, social, emocional e afetiva - apresentemos a questão dessa
maneira, seja por aguda distonia - discordâncias
íntimas, viscerais, seja por antipatia funda, rancor augusto beirando as raias
da loucura, o fato é que constataram que escrevo porque sei fazê-lo. Sigo
altiva e atávica, vou riscando a areia virgem, abrindo sulcos de onde escorre o
sumo dos relatos. Com a lâmina afiada das garrinhas pregueadas e artríticas dos
tataravós adorados – um povo meigo e valente - rasgo o neutro solo inviolado. I couldn't care less... Escrevo
de improviso, desleixada, blusa desabotoada, aberta às flores e às armas. Sem
subterfúgios. Sem mel e sem chupeta. Sem planejamento. Sem censura. Escrevo
sobre o que a vista alcança e a memória escoa. Escrevo sobre o que o compassivo
coração, de cara, na lata, aprova ou condena. Quando condena, a senhora
reparou, é entre dentes. Sorrindo largo, depois.
“Nunca imaginei que você tivesse tanto peito”. Pérola de
Robson, um sujeito cheio de compromissos, certamente sem tempo para uma
investigação mais criteriosa das medidas da minha caixa torácica, rarará. Ocorre
que a curva perigosa dos cinquenta, querido amigo, precisa nos trazer alguma
coisa além de dores reumáticas. Acumular aniversários é um santo remédio para
os ressentimentos e as suscetibilidades, pode confiar. Os temores arrefecem, as angústias
atrofiam-se, as mágoas encolhem, as picuinhas liquefazem-se. A pessoa se aproxima do próprio eixo, redesenha escolhas, define novas prioridades. Deita a cabeça no travesseiro, impressionada com a órbita de um mal entendido hiperbólico, súbito perdendo o gás, o contorno, sumindo na madrugada, poeira cósmica, infinitamente pequeno. Ninguém tem que
gostar do cidadão, se não deseja, se não consegue. Jesus Cristo, em algumas rodas, sequer é conhecido, que dirá amado. O amor pode esperar milênios... no ar. Inaugurado o último trajeto, meu chapa, daqui para a imortalidade, apesar de todos os pesares, interessa mais estar de bem com o companheiro de
viagem. De repente, conquistei a minha paz. Por mais extravagantes, estapafúrdios mesmo, me pareçam
os acontecimentos, nunca mais hei de perdê-la.