Comecei a semana com o bode amarrado e não foi na sombra,
não mesmo. Aposto que a senhora aposta na mudança do tom da conversa, não mais
que de repente, principalmente se a senhora anda aí na pasmaceira, esparramada
na sua rede social, tomando conta da minha nada mole vida, fofoca de facebook é fogo, o sujeito perde a
repercussão de vista, a fofoqueira senior em questão, sou euzinha com farofa,
admito, a culpa é do meu bucho de piaba, fico antecipando assunto de
historinha, resumindo os próximos capítulos, rá rá rá, marketing, minha
senhora, a senhora sabe. Divulguei, beforehand,
o título da crônica, no livrinho virtual de dar a cara à tapa, danou-se a nêga
do doce, meus trinta e um seguidores, quarenta e sete desafetos, mais um ou
outro leitor neutro circunstancial, todo mundo ficou esperando a Peroba-do-campo, diga aí a mais pura
verdade. De fato, estava armada de afiadas unhas e dentes para espetar o
traseiro dos irmãos cara-de-pau de plantão, uma categoria sui generis de ser vivente, que circula, livremente, impunemente,
nas luxuosas dependências da nossa valorosa instituição de ensino, destilando
diárias, homeopáticas poções mágicas de fel. Debaixo dos caracóis dos cabelos,
madame, vicejam desvios, fraquezas, vulnerabilidades, somos homens de bem e de
mal, disso a senhora nunca se esqueça, orai, pois, joelhos esfolados, orai e
vigiai, a ocasião faz o ladrão, mera distração, já era. Desconfio que o tema é
recorrente, entretanto, nem é o caso de me aperrear com a postergação de tão
pertinente enredo, rá rá rá, pano tem de sobra, tempo haverá, demonstrações
inequívocas de cara-de-pausismo mau caráter com pedigree, a torto e a direito, pululam
no breu dos becos porcamente iluminados, meu bem, é pau de dar em doido, se
brincar, a memória fraca ajudando, acumulo ingredientes para escrever mais de
cem.
Trinta dias redondos, eis o que a minha matemática
capenga registra na madrugada, partindo da antológica, romântica noite dos gatos pardos da posse do
amigo Anderson (e seus Blue Cats, rá
rá rá...), ao clarão da lua e dos castiçais (lembram-se?), um mês certinho, de 29 de outubro até aqui. Meu balanço é favorabilíssimo, percebo a escola, nitidamente, descartando a bagagem sem alça, ganhando fôlego, elasticidade, um pé no sonho, outro no caminhar. Almoçamos juntos quarta-feira, jogando conversa fora, Brunão com a gente, estamos cada dia mais ligados, quem suspeitava disso, pode ter certeza, pode até espalhar. Pretendo
construir, paulatinamente, tijolo com tijolo num desenho lógico, olhos
embotados de cimento e lágrima, uma trilogia vermelha, branca e azul,
emparelhada com a de Kieslowski, sobretudo no quesito rara beleza e poesia
impactante, rá rá rá, uma profusa fatia do fuchique, pode confiar, num futuro
qualquer, na hora exata, uma grossa fatia dedicada ao revolucionário momento
presente, que atravessamos na valsa, embolados de chuva, suor e cerveja, frouxos
de rir, produzindo História e resultados. Celebro a extraordinária conquista da
galera da Licenciatura em Física, soube da ótima avaliação do MEC, fiquei
contente pacas, nosso bebê, o pequeno grande físico Simba, merece todos os
cumprimentos, uma maravilha esse reconhecimento, justamente no alvorecer da sua
gestão. Depois que descobri, da maneira mais torpe e mesquinha, ninguém seja
tolo de achar, entretanto, que aquela amputação de texto existiu, pelo
contrário, jamais acontecerá, preservo meus relatos a ferro, madeira e concreto,
depois que descobri que sou livre para escolher o léxico com que decido sentir
e pensar e redigir as páginas da vida, minha filha, posso fazer o diabo com meu
pomar de palavras, porque aprendi a correr riscos, digna e serena, e porque sei
dar conta do recado, faço bem feitinho, ora bolas, sou, afinal, a proprietária da
terra, dos frutos e das sementes.
Conheci uma professora de Macaé, Sandra o nome dela,
parece que estava por lá ontem, entrevistando uns colegas da Licenciatura, para
sua pesquisa de Mestrado, ou coisa que o valha, uma criatura bacaninha,
conversadeira com farofa, querendo fazer perguntas até para o bispo, acho
sensacional a criatura ter um pique desses para pesquisar, admirável mundo
novo, quisera. Confesso que não trocaria olhares com ela, quem me viu na escola
ontem, nem me viu, a montanha de provas, projetinhos e trabalhinhos mis
soterrou meus restos mortais, eu, com esse corpinho avantajado, fiquei
invisível, submersa na papelada, uma doidice com pedigree, nem tenho mais
idade, vamos combinar. Ergui a cabeça porque nasci enxerida, num dado instante,
entreouvi uma frase dessa moça, Sandra, guardei o nome porque gostei de
escutar: “eu estou ENCANTADA com esse lugar!”. Terra, frutos e sementes dela, sem
a minha interferência, deixo claro, Sandra me contou que a nossa escola tem uma
energia boa, uma vibração positiva, disse que achou um barato a maneira como
nos relacionamos, trabalhando com disposição e alegria, curtiu horrores a
leveza e o bom humor da nossa sala dos professores, elogiou demais os colegas
com quem teve mais contato, a senhora esperava tal depoimento a essa altura do
baile, bela e meiga senhorinha? Nem eu. Quando julguei que houvesse terminado,
Sandra ditou o desfecho dessa historinha para mim: “mas eu acho que tem a ver
com o jeitão do diretor, não é? Ele me deu essa impressão de competência com camaradagem,
tão acessível ele, simpático... esse cara deve ser um grande diretor, não é
não?”. Um samba sobre o infinito. Transbordando
de flores, a calma dos lagos zangou-se, a rosa dos ventos danou-se, o leito dos
rios fartou-se e inundou de água doce a amargura do mar. Avisa em casa, ensina
a teus filhos pequenos, querida amiga recente: é correnteza sem represa. Não se pode deter o coletivo movimento, muito menos dobrar um jovem coração de leão, idealista e amoroso.
Dedico a crônica ao bebê Francisco, filho de João e Karlinha, que saiu do sossego para a confusão do mundo, no dia 30 de novembro. Um belíssimo horizonte para você, querido.
Dedico a crônica ao bebê Francisco, filho de João e Karlinha, que saiu do sossego para a confusão do mundo, no dia 30 de novembro. Um belíssimo horizonte para você, querido.