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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Maninha

Aproximou-se a tempo de conter o tombo. Sorte grande teve a menina que, súbito, de um pé de flor, na trança de seus braços, despencara. Lembrou-se da criança do sonho, vestidinha de nuvem, cachinhos dourados de luz... no ar. Guria etérea, algodão-doce rebento de fumaça: a filha adorada que a vida lhe negara. A família sabe. Pretendia chamá-la Rafaela.


MANINHA - no nordeste, maninha é a mulher que, por algum problema orgânico, não consegue engravidar.

Para nossa Rafaela, que está linda, como sempre, e completamente recuperada. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Razão e sensibilidade

Nada de novo sob o acanhadíssimo sol de julho. Julho, de dia, tem vez que é assim mesmo: tudo esplendorosamente tinindo de lindo – luz de céu azul de brigadeiro... E um frio de torar, justamente no lugar da solda, ali na emenda, é de lascar o cano. Estourei o champanhe! Meu resfriado fez aniversário, falei? Um mimo! A galera discente que dispõe do privilégio da minha agradabilíssima tutela, rarará, da minha adorável, inoxidável companhia, portanto, na sala de aula e na rede, here, there and everywhere, rarará, não perde um capítulo, sequer, da lengalenga. A molecada aposta o que nem tem, acredita? “Coelho sai? Não sai! Se sair? Espirra! A professora vem! Vem? Acho que a professora não vem... Anteontem, veio? Veio só o fiapo, coitada! Ontem? Trabalhou pela metade, à noite, deu dó, foi de pior a pior, piorando, piorando, pobrezinha”... Depois de amanhã é domingo, e segunda-feira, ninguém sabe o que será, rarará! A galera discente sabe de mim..., rastreia os lances, lupas nas palminhas jovens, rosadas: tome-lhe febre, tome-lhe tosse, tome-lhe prostração, tome-lhe coice, tome-lhe pancada, e tome-lhe desvelo e carinho dessa gente miúda que vai muito longe, aposto. A galera discente pretende demais saber de mim, fato. Esmiúça, detalhadamente, os escanteios da novela. A galera discente, de sangue quente, demonstra bem o que sente. Pão é pão, faca é faca, xodó é xodó, chamego é chamego. Penso que ajuda conhecer, na vera, quem faz trincheira contra o cúmulo da sacanagem, da injustiça, enfileirado, empertigado, do mesmo lado indignado da gente. O futuro vai lhes aparar a crista, o topete. Tempo haverá. O futuro regula a medida, já aprendemos? Eu gosto. Eu e eles somos o que importa, é minha mentira? Eu gosto. Adoeço das vias respiratórias superiores e inferiores, isso em meados de maio, impreterivelmente, tiro e queda, batata. Adoeço tanto, logo eu, essa parede... Adoeço, igualmente a uma magricela desnutrida, um contra-senso. Adoeço de morrer, para recuperar mais ou menos mais para menos a sempre meio debilitada saúde, a propósito, quem mandou ser gorda? Qual é o gordo que esbanja saúde, minha senhora, rarará? Uma bela hora, ao cair da tarde, pimba!, melhoro, certamente. Melhoro, ah, melhoro muito. Depois da manhã seguinte a da proclamação da Independência, o pronto restabelecimento acontecendo em concomitância com a primavera, de sete de setembro em diante, favas contadas. Até lá, trapo, farrapo humano. Não existe reza liquidificada com vitamina C, cara leitora, que minimize a tristeza, a indigência. Mezinha, melzinho, própolis, gengibre, bolinha multicolorida, injeção, nebulização, pastilha, chazinho descongestionante, vick pirena, lambedor de pequi??? Venha o raio que o parta, madame! Os abnegados cientistas escavam grossas camadas de deserto, os pesquisadores pesquisam de vergar a espinhela, sagazes, freneticamente, ninguém, até o presente, vislumbrou o gorro da cabeça do fio do novelo: o tratamento! O tratamento são os ares e os mares de Recife: a cura para a minha vigorosa, inquebrantável otorrinobroncofaringolaringosinusite alérgica e renitente.
Caçula é foda, uma categoria de gente exacerbada de pantim, de salamaleque, reclamando prioridades, afagos, descabidas regalias. Gente cheia de pra que tanto é caçula, verdade seja dita. Sou caçulíssima, assumo. Pueril, piegas, sentimentalóide - uma paçoca besta no meio do mundo. Quando minha mãe raspou o tacho, a irmã encostada na minha pessoa, moça de tudo, vivia era solta de canga e corda, namorando no portão e no olho da rua, já dava era beijo na boca, o cabra chegando junto, amolegando, rarará... Noutras palavras, nasci e me criei paparicada, dengo e laços de fita: sou frágil, handle with care, maneje com cuidado. Tonta e tola, magoável, um melindre, sentida feito carne de porco, demasiadamente delicada: caçula. Vai ver, vem daí a avaria, o gravíssimo defeito, insuperável: humanidade nas entranhas. A lei, pra mim, serve é pra servir, pra eu ver se presta. Uma disposição natural para obedecer, para desobedecer, principalmente, sem trauma, na cara dura, desde que tal conduta me pareça ajuizada, apropriada para o próximo, simpática e gentil. Gentil e sensata. Desata o nó? Contribui? Facilita? Faz sentido? Salva a pátria encurralada? Faço. Birra de caçula. Vá queixar-se para o bispo, neném, porque eu faço. Deus me deu humanidade para suplantar, da estrada alheia, o austero não desajustado, que está na lei, mas não lhe cabe. Não se aplica, não procede, não convém, um solto som que não lhe cabe. Isso não é para qualquer um, concordemos. Pois vejo, no fundo do poço do olho d'água do sujeito, que aquele não, definitivamente, está no mais íntimo da lei, mas não lhe coube, nem por sonho!, bradaria Dona Rita! PP? Tamanho errado! É um não que não lhe cabe. Complicar me dói na clavícula. Coração dói? Pronto. Simplificar a vida é rumar reto para o amor, meu aluno sabe. Favorece-me o doce aroma do abraço ilimitado - gesto imensamente fácil -, a geleia das palavras tenras, mansas, aveludadas, o ouvido atento para alcançar a outra banda da cidade, do minuciosamente exposto ao providencialmente velado, tenho ouvidos de tuberculoso, ouvidos e cabeça, cabeça que precisa desempenhar mais funções, suponho, além dessa aí: separar os suntuosos brincos, das orelhas tapadas. Abuso do talento para a graça, para o riso desavergonhado, nada é tão importante... Recorro a ela: minha natureza. Informal, inteligível, rasa, espontânea. Extirpem-me o fígado, conservem-me a rudimentar simplicidade. Esse bem-querer estrábico, abobalhado, difuso, indistinto, essa preferência absoluta pelas coisinhas profundas: os abismos da pessoa - a pessoa, sobretudo, sobre tudo. Essa ternura tão antiga, o desencanto de esperar... Meu trabalho é urgência urgentíssima... sobre tudo. Espero não. Faço. Dura lex, sed látex, Sabino. A lei é dura, mas estica. Conforme o apelo da razão e da sensibilidade. Há que prevalecer a razão da sensibilidade. Sensibilizemo-nos, meus queridos, com os ásperos imprevistos da caminhada. Sistema cai? Não cai! Se cair? Caça com gato, porra! Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima! Cada criatura, dentro daquela instituição de ensino, pesquisa, dedobol e outras mumunhas, cada peregrino, cada viajante, vale mais que regulamentos vários, normas de cachorro grande e pequeno, abrigadas sob seus rijos, impassíveis blocos de concreto. Acumulo vinte e oito anos de magistério quase sério, dos quais, quase vinte, mano, de casa. Serviço público: cafezinho acondicionado e envelhecido em solenes barris de carvalho, longa trajetória de incansável labuta pública, comendo pastel de giz adoidado, "espicha a corda, dá teu jeito, otária!", Maria Vaselina!, para melhor servi-los. Poeira suficiente para diferenciar o legal do abusivo, o solitário do solidário, o bacana do chato de galocha, o entrave operacional circunstancialmente justificado... da conversa para ninar o boi, pior!, da picuinha deliberada. Diferencio a fiação desencapada... das humanas artérias. Calibrosas. De tanto sapo. Nós somos maiores que a miríade de Institutos Federais desta nação desgovernada, vivo de lembrar quem parece insistir em esquecer-se. Eu e eles (meus meninos...) somos o que importa. Morro antes de admitir que tem de ser de outra maneira.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pedra de toque

Ando pela tampa com esse papo de cura gay, sabiam? Que Mané estudo e acompanhamento do “fenômeno” coisíssima nenhuma! Como assim? Rato de laboratório em processo de recondicionamento ao comportamento sexual saudável? O contribuinte nasce para aprender a ampliar a sua capacidade de dar e de receber amor, por cima de pau e seixo. Revoguem-se as disposições em contrário. Rapaz, João Campos e Marco Feliciano, essas duas aberrações sob forma de carne, osso, ignorância, prepotência, cinismo, sarcasmo, altíssimo índice de desumanidade e espiritodeporquice, não me representam. Nem aqui, nem na China capitalista. Amanheci assim, descompensada, essa história de respeito à criatura, latejando nas entranhas, pinicando as frenéticas fibras do meu miolo mole. A diferença entre Marco Feliciano e a minha humilde pessoa reside na irrefutável circunstância de que eu não mando nem no meu cachorro boiola, não sou presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias dos filhos da pátria amada, para regozijo aliviado da civilização moderna local e internacional, rarará, segura a onda dessa doida de pedra... Ah, me lembrei de um detalhezinho: gosto de ser humana. Ser humana, meu bravo brado de alegria. Porque eu não sou presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, minha modesta interferência, na mente e no coração da sociedade brasileira, é um cisco, um cabelinho de sapo, absolutamente inofensiva, razão por que perambulo alhures, insignificantemente, apesar do considerável volume, rarará, vou pousando a alma penada e o corpanzil desengonçado, ali e acolá, sem que me concedam um vintém de cortesia ou crédito, não amealho um centavo para o chá das cinco, sigo propalando, aos quatro cantos do vasto mundo, para passar o meu e os outros tempos (o relógio lento dos meus simpáticos 34 leitores entediados), ‘haja desocupação, macacada!, olha a louça suja dando cria na pia da cozinha!’, rarará, veiculo abobrinhas diversas, devidamente desconexas e destrambelhadas, conversinhas miúdas de mim para comigo, entabuladas com os botões da blusa gasta, rarará, atuo mesmo é na imensidão do anonimato desse quadradinho branco rindo-se todo da minha inominável besteira, rarará, atuo muitíssimo mais restritamente que o honorável pastor, o senhor dos anéis de Saturno, o enviado, rarará – o cara-pálida que gerencia o torto e o direito dos homens da nação, uma barbaridade, obviululantemente.
A condição de mulher da vida me confere direitos inalienáveis, penso. Não passo de pobre mulher dessa vida bandida vinda antes das montanhas e dos bichos, bichos os quais, a propósito, curtem esse lance de relação com o mesmo sexo, faz priscas eras, rarará, idem para os pacatos cidadãos e as moçoilas de bem, vida, louca vida, vida breve, o fato é que sou, desde as mais remotas primaveras, passado imemorial com pedigree, quando não havia planeta, não havia tiranossauro, nem pé, nem pata, muito menos parafuso, quando a vaca não mugia porque a vaca não existia, rarará, aconteceu, na raiz da vida, um dia, madame, no qual a vaca mocha não existia, fique a senhora muito ciente disso, minha senhora, pense! Sou. Ad infinitum, sou. Penso muito a respeito, aliás, adoro essa palavra respeito..., penso muito a respeito da obscuridade do já decorrido e ultrapassado – o eloquente silêncio das origens... Também penso uma baba no cu de boi do presente... Penso, sobretudo, no soberano futuro encapuzado, logo à frente, a irrefreável caminhada rumo ao reticente, o prosseguir, que, incontestavelmente, gera e encerra a vaporosa partícula de tudo. Tenho refletido muito sobre o berço, o túmulo, sobre a finalidade de tudo, provavelmente por causa dessa deficiência estrogênica que me compele a sofrer de envelhecência precoce, ainda nem fechei a casinha dos cinquenta, imagine, sinto-me, porém, definhar, precipitada, peremptoriamente, as petalazinhas dos braços e da face murchando, morrer é certo como dois mais dois somam quatro, predileto leitor amigo, rarará, é abrir os olhinhos míopes e enxergar bem direitinho o inexorável, uma bela hora dessas, Pluft, o fantasminha! Vou lhe dar um toque de recolher, de reconsiderar, de reavaliar o quilate da atitude equivocada, amantíssimo, perante o nobre semelhante: morre-se, ninguém duvide. Morre-se, impreterivelmente. Morre-se inteira, do cocuruto à ponta, morre-se, indefinidamente. Conservo intacta minha profunda fé no Deus da temperança, da generosidade delicada, da aliança, da inserção e da liberalidade: meu céu, meu íntimo, o microcosmo da minha matéria. Não me resta outra alternativa de conforto e de consolo, ante a agonia da solidão da gente, senão a certeza absoluta do provisório fracionamento. Fui e serei sempre 100 % Deus do amor absoluto, nós dois tubarão e rêmora: comensalismo, ninguém se fere: paz na igualdade. Sou, de Deus, agora, o encardido da unha poída, trata-se de uma pequena, transitória fase, uva passa, tudo passa, é desse jeito. Retornarei, portanto, ao Seu luminoso colo acolchoado, como se retorna ao mar do ventre, na manhã nascente, para a fusão prometida: refulgiremos, plenos – os maus, os malas, os bons, os mais ou menos, os hipócritas, os mesquinhos, as pererecas, as lagartixas e Deus. Deus, eu e os demais heterossexuais, os homossexuais discretíssimos, as bichas más histéricas e espalhafatosas, os bi, os tri, os trans e os tetra, as Genis preferindo amar com os bichos, bonitinhas... – a pipoca! O imenso bloco sem cordão de isolamento, o insano bloco repleto de razão, rarará, versátil, eclético, o elasticíssimo bloco flex dos terráqueos atarantados, bloco decantado, melhorando, melhorado, depurado de ir e vir, avançar, eternamente, esgarçado para o acolhimento dos camaradas alienígenas, inclusive, rarará – a agremiação carnavalesca Essa porra vai na marra, no palco da praça, evoé!, arrebentando os grilhões dos tornozelos, dos joelhos e dos tímpanos: a mesmíssima sublime, solene e límpida energia contagiante, faça-se a luz!, rubra estrela incandescente! Como sempre, desde sempre. Todas as ciências juntas, mais as culturas e as contraculturas, a Portela e a Tradição, o agnosticismo fanático, o ateísmo partidário, a indiferença, a hostilidade, a devoção desatenta, o fundamentalismo torpe, a fé cega, o egoísmo, o ódio mortal, a faca amolada, os totens, os tabus, os seres, os dizeres, as peras e o nada, tudo alcança Deus: ao sanatório geral cabe progredir e prosperar, meu dengo. Aos trancos e barrancos, evolucionemos, integradores, aglutinantes. Amar é mandamento. Beijemos as saias rodadas e rendadas, cravejadas de arco-íris, do supremo, esfíngico Mestre. Seu dever e destino é estender a mão, irmão. Natural, incondicionalmente.