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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ti-ti-ti

A propósito da turba de pernilongos hospedada 0800 aqui em casa, anote aí como se faz um repelente natural para bicho e para gente, receita da veterinária dos meus cachorros, Dr.ª Érica Toledo, a melhor das melhores em Cabo Frio e seu entorno, a melhor do país, por que não declarar, reconhecida e emocionada? Quem vê Nicolau, meu primogênito, passado dos 15 anos de vida feliz e muito bem vivida, vendendo saúde, apesar do caçula toda hora no encalço, enchendo a paciência, o caçula é Valentim, nosso menino hiperativo e mimado, quem vê meu raçudo Nicolau, bate o martelo, concorda comigo até debaixo d’água, contra certos fatos bem no meio das fuças do sujeito, meus amigos e minhas amigas, não existe contra-argumento. Foi a gente armar a tenda na cidade, meus cachorros deram de empolar, era pereba pra todo lado, fiquei aperreada, pensei logo numa doença ruim, foi a doutora quem me tranquilizou: mosquito. A solução é a pessoa misturar álcool de cereal com óleo johnson’s mais cravo da índia, e borrifar no pêlo. E na pele. Um santo remédio. Dessa vez, mais sabidinha, preparei dois frascos, um fica na sala, o outro no quarto, para facilitar o acesso. Encurto a história contando que são precisamente 19:06, escrevo-lhes do sofá, a luz acesa, a nuvem de muriçoca zunindo no meu pé de ouvido, sem sentir uma picadinha sequer, a solução é o estouro da boiada, um milagre no coração dessa singela família. Por falar nele, o coração - terra que ninguém anda - rapaz, outra preocupação que não sai da minha cabeça é a danada da dirofilariose, ainda tem isso. Previne-se a doença, popularmente conhecida como verme do coração, uma doença letal, fatal para o animal, tremo toda só de tocar no assunto, com milbemax, os cachorros são medicados mensalmente, aliás, é o seguinte, nos dias de vaca magra, eu passo sem fluoxetina numa boa, a boa e velha fluoxetina - minha alegria encapsulada. Eles sem milbemax, nunca de núncares, jamais.

Hoje fiz a primeira ultrassonografia abdominal da minha vida inteira, a cardiologista que mandou. Não abri o bico para saber a razão da solicitação, toda vida fui pau mandado, desde pequenininha, coisa que nunca fui, pequenininha, rá rá rá. Confesso que me lembrei muito dos meus tempos de caneira inveterada, cada carraspana de entronchar, eu só peço a Deus um pouco de malandragem e de fígado preservado, para o médico examinar... Aguardemos o resultado, confiantes na infinita benevolência do Pai, pai é pai, seja feita a Sua vontade. Aproveitei a espera da sala de espera da clínica, para ler. Li um bocado... De fofoca. Gostei de saber que Sônia Braga é do tipo que ainda manda flores, foi Juliana Paes quem recebeu o ramalhete, no Projac, acompanhado de um recadinho do coração. Vocês sabiam que Sônia Braga acha que a escolha de Juliana Paes para a Gabriela de Walcyr, não poderia ter sido melhor? Achei gentil. Sobe para Sônia Braga! Na curva perigosa das 70 primaveras, o maracujá de gaveta tinha mais é que desapegar do personagem da vida inteira, vamos combinar. Fiquei chateada com o fim do casamento de Vanessa Giácomo e Daniel Dantas, uma parelha tão bonitinha, os filhos tão miúdos, Helena, mulher, dá uma pena, né? Quem chifrou quem, a revista não divulgou, não posso, portanto, compartilhar. Gostei da discrição do casal, apartaram-se com toda elegância, é isso aí, a vida é de veneta, a vida segue, proferindo disponibilidades. Sobe para Vanessa e Daniel! Acabou-se o que era doce para os pombinhos de meia-idade Patrícia Pillar e Ciro Gomes. Bruno Gagliasso e a respectiva também terminaram o relacionamento, contam-se numa mão os astros ainda casados, nos corredores da respeitada emissora, mas o comichão é para eu comentar  o ocaso do ano, o desenlace do século, na minha modesta opinião. Tande do voleibol, aquela girafa com alopecia, aquilo deve ser um jiló, uma criatura intragável aquele varapau atabacado, aposto minhas córneas, separou-se da atriz adormecida Lizandra Souto. Eu sabia. Como ela conseguiu se  atrepar num coqueiro todos esses anos, eis a pergunta que não  quer calar, tá ligado? Dia desses, noutra espera de sala de espera, li um depoimento dele sobre a esposa e sobre o próprio casamento, bem na linha trocar de mulher é trocar seis por meia dúzia, uma cavalice, uma idiotice que me deu náusea. Pois Tande plantou uma galhada fenomenal na testa de Lizandra. Eu ela, propunha divórcio na lata, sem pestanejar, na data da publicação da famigerada entrevista. A moça ignorou o chamado da arte, cobriu com chale o decote, disparou, faces rubras e febris, para os braços do príncipe encantado. O poste encantado lhe amassou as rosas, lhe queimou as fotos, lhe beijou no altar. A moça virou do lar. A alma de artista da moça, entretanto, eventually sucumbiu, cheirando a talco, ao brado retumbante do tablado, a moça, das cinzas renascida, vai integrar o elenco da próxima trama global das 21:15, salvo engano, com os meus mais sinceros votos de profícuo recomeço. Salve, engano! Falando sério, aconselhamento matrimonial nunca foi, não é, nunca vai ser a minha praia, eu me casei no susto. Até que a morte me leve de Ronaldo, tenho fé. Ninguém meta a colher nesse angu de caroço, se tiver um pingo de juízo, a fórmula do casamento bem sucedido é feito a fórmula da coca-cola, um mistério insondável. A madame nem gaste seu rico dinheirinho com esses volumes de auto-ajuda, os quais, como o próprio nome sugere, logram ajudar quem os escreve a engordar suas respectivas contas bancárias, e só. Por outro lado, do lado de baixo do Equador, assim como do lado de cima, pecado é uma mulher fêmea, macho, transexual, pansexual, hermafrodita ou operada, num lapso de consciência, consentir, desavisada, que o homem amado interfira no seu destino, no seu talento, na sua vital e transcendental vocação profissional. O homem amado não tem o direito. Trabalho é templo. Trabalho é religião. Esporte, na minha cartilha, também. L’amour toujours! Viva el amor y la revolución!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Compartes

A historinha do tip-top gigante tamanho GG é boa, dá caldo para umas quatro laudas e meia, que um causo hilário puxa sempre outro, que puxa outro, que puxa outro... Um chiste, uma muganga, uma anedota, uma pilhéria, uma careta, um trupicão,  um gracejo – toda matéria-prima colorida e divertida, caleidoscópica e inusitada, fomentadora de ruidosa gargalhada fêmea por cem multiplicada, meus companheiros e minhas companheiras de vadiagem, aproveitando a vibe de comandista de greve, rá rá rá, toda risada escancarada é antibiótica, antipirética, antihelmíntica, anti-inflamatória e fecunda, é um laboratório, uma espaçonave, um tsunami, uma bomba de chocolate no sistema imunológico da gente, levanta o defunto, pela graça divina. Posso pincelar o assunto, guardando a cereja para um dia nublado e sem tema estimulante, até porque tenciono discorrer, longa e peremptoriamente, sobre sexo na maturidade (ui!), para dar ibope. Depois. O negócio é mais ou menos o seguinte: mosquitos de todas as fragrâncias combinaram de passar o inverno com a gente, faz uma semana já, que eu  amanheço e anoiteço empacotada num meio tip-top - saca aquela roupinha de neném? Pois pronto - um só não, comprei foi logo quatro, um rosa, um roxo, um cinza clarinho e um vermelho gengiva. Compraria mais até, para estoque, não estivesse o produto esgotado, recebi, desconsolada, a notícia ontem de tarde. Não sou a única gorda alérgica à picada de muriçoca, dentro dessa paradisíaca turística cidade, um alento. As bolotas viram perebinhas, não as bolotas camaradas gordas de Cabo Frio, refiro-me às bolotas das minhas próprias canelas, fico parecendo um guri buchudo comido de catapora, a sucursal do inferno, um aleijo. Vestida assim, rapaz, não tem sex appeal que prevaleça sobre a palhaça indumentária, surpreendo-me dantesca ante os espelhos do quarto, do hall e dos banheiros, chega me assusto, para, no instante seguinte, rir de rasgar o bico,  com a camisola do dia então, por cima do macaquinho, creindeuspai, nem queira olhar a misura, eita parangolé mais ridículo e brochante. Ronaldo ri de se acabar, de perder o tom, pergunta se é uniforme, meu marido é como eu sempre esperei que fosse um marido para a minha pessoa, um homem bom de doer, sensível, sincero, honesto, decente, trabalhador, respeitador, provedor até debaixo d’água, mas, sobre todas essas coisas de suma importância para uma mulher que pretende se amarrar, meu marido é um gozador. Quem conhece Ronaldo, está cansado de conhecer e de tirar muito bom proveito do seu extraordinário senso de humor, amém.
Cibelle me telefonou ontem logo cedo, tinha uma novidade para contar. Cibelle é a melhor professora de Espanhol do Rio de Janeiro e adjacências, mas ela é paulista da gema. Trabalhamos juntas no IFF, comemos juntas, dia a dia, o pão que o diabo amassou, compartilhamos, solidárias, as desventuras da complicadíssima tarefa de lecionar língua estrangeira numa escola onde as línguas estrangeiras não alcançam o pódio. Entra direção, sai direção e a peleja continua, uma brutalidade. Nenhuma gestão chegou mesmo de leve a perceber como a nossa disciplina precisa ser tratada. Realizamos, apesar dos pesares, um bom trabalho. No quesito jogo de cintura, Cibelle me passa a perna quarenta e oito vezes, a bicha é magrinha, ágil feito um grilo, uma vantagem descomunal, comparada à minha circunferência abdominal de elefante-marinho. Cibelle é muito mais jovem, tem o gás que eu tinha, aquela disposição firme, porém gentil e conciliadora, para lidar com a teia burocrática na qual a instituição, tão incipiente e cruelmente nos insere, nós, os professores de idiomas, Cibelle tem aquela disposição que não desejo mais ter, mister esclarecer logo essa questão, afinal de contas. Um dia desses, Cibelle me procurou, precisava de ajuda para preparar-se para a prova de Inglês do doutorado. Fiquei com preguiça, só de ouvir. Acontece que Cibelle não é uma pessoa a quem a gente possa dirigir um robusto e sonoro não, sem sofrer. É amizade demais, é consideração demais, é parceria demais, é carinho demais. Topei, fazer o quê. A gente começou a estudar bem direitinho, com hora marcada e tudo, e eu fiz o que pude, honradíssima que estava com a confiança depositada nessa pernambucana lenta e ociosa, devagar quase parando. O projeto dela é massa, a defesa ia ser massa, tinha certeza absoluta, que Cibelle não é fraca não. Pois muito bem, a maga arrebentou no tal exame, acertou muito mais do que carecia para passar, deu um banho. Cibelle me telefonou ontem logo cedo, tinha uma novidade para contar. Passou no doutorado, 'óbvio ululante'. Alguém duvidava? Como me orgulho da minha amiga. Amiga mesmo, parece que de vidas passadas, a vida tem disso. A parte ruim é que ela anda doida para nos deixar, voltar para São Paulo, uma lástima, uma perda irreparável. Vai conseguir, aposto, me diga aí você o que ela não consegue... O noivo anda por lá, solto na buraqueira... Ela não é besta de consentir nessa doidice nem mais um minuto. Cibelle vai ser doutora, vai se casar, vai constituir família, vai ser muito feliz porque merece demais. Eu não pretendo perdê-la de vista, pelo menos até seu caçula se formar doutor. Ou professor de idiomas. Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. “Você parece comigo, nenhum senhor te acompanha, você também, se dá um beijo, dá abrigo... Se dá um riso, dá um tiro”! Vamos que vamos. Parabéns, querida. Boa sorte.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Despeito

O café da manhã de cuscuz com ovo cochicha o mote da historinha de hoje, bem no pé do meu ouvido, e agorinha mesmo vocês vão entender por quê. Eu tive a sorte e a alegria de conviver com duas extraordinárias professoras de Língua Portuguesa, isso no Colégio Nossa Senhora do Carmo, lá pra 1930: Xênia e Zezé. Naquele tempo, o ensino ainda não padecia do bombardeio voraz e inútil das modernidades psicopedagógicas, metodológicas, didático-paradidáticas e psicodélicas que aniquilam a sua ossada e todos os seus sentidos, nessa nova era uma vez; era, na época, uma coisa totalmente diferente, me lembro até hoje dos recursos mnemônicos, sim, meus amigos e minhas amigas da Band, recursos mnemônicos aos quais sobrevivi sem quaisquer traumas, os quais me impedem, graças a Deus, duzentos anos depois, de trocar 'ss' por 'cedilha', 'g' por 'j', e o raio que o parta, jazendo a culpa disso tudo sobre os ombros largos de Maria José, grande mestra, uma parede, sabida como ela só, outra mulher que, ainda mocinha, tive a oportunidade de invejar. “Atanazar, bocafuzar, fuzuê, fuzaca e mozarca lembram algazarra”, não é isso mesmo, Tia Zezé? Tudo escrito com 'z'. Nas minhas aulas, atualmente, a memorização rola solta, mas eu tenho muito medo de ir presa. Xênia, pela minha pessoa, fez muito ou tudo, não sei bem... Xênia não me ensinou a gostar de ler, com ela aprendi a gostar de escrever. Gosto que me enrosco. Mais uma companheira de viagem pra eu invejar até morrer. O que ninguém sabia, mas vai saber pelas vias do meu bucho furado, é do meu tremendo orgulho de reencontrá-la, colega de trabalho na ocasião, nos meus primeiros dias de então Escola Técnica Federal de Pernambuco, fiquei tão contente que chorei, e ela compreendeu, que me conhecia como a palma da mão de giz. Quando me mudei para cabo Frio, Xênia acabara de assumir a direção de ensino, imagino com que afinco e competência, apesar de estar passada da hora de parar, uma aposentadoria adiada e adiada, para o bem de todos e felicidade geral da comunidade. Como sinto falta dessa delicadeza, desse compromisso, dessa inteligência, dessa generosidade...! Entrei na universidade só para desaprender Português e ficar mais apaixonada pela língua do patrão, quem diria, estranha é a vida... De cara, assumi a monitoria de Inglês... Para nunca mais brincar de outra coisa. Voltando ao assunto sem sair dele, a assessoria do prefeito de Cabo Frio – VIVER AQUI É MELHOR, anda meio desligada, sem sentir os seus pés no chão. A propaganda do prefeito, alardeando os grandes, efetivos investimentos na educação, vi ainda ontem na TV, vê-se de um tudo na TV, residindo o perigo em acreditar, a propaganda ostenta criancinhas bem lindas, bem nutridas, calçadas e uniformizadas, todas elas divertindo-se a valer, num amplo e asseado pátio de escola bem linda, sob o vigilante olhar de tias e babás muito lindas e bem pagas, um troço espetacular, irretocável, não fosse um detalhezinho sem importância: Um erro cabeludo! Sabe por quê? Não digo qual, nem que a vaca tussa! Observem os dizeres sobre os sorrisos dos protagonistas, ria, curta e compartilhe. Ou não.

Meu sobrinho Alexandre não vale nada, e foi dele que roubei a versão gay de Gabriela, roubei porque achei de uma criatividade, não sei o que tem veado para ser tão criativo, Humberto Martins com um cu no queixo, kkkkkk, postei no facebook, chama-se Gaybriela. Por falar nisso, acabo de me lembrar da historinha que ainda não contei, minhas tergiversões são aquilo que me salva das intempéries do cotidiano, pela graça divina. A Gabriela de Walcyr Carrasco homenageia o centenário de Jorge Amado. Diz que é uma inspiração livre, o que deve querer dizer que o autor faz o que quer com o texto do outro, como bem lhe apraz, deve ser isso. De Jorge Amado li três livros apenas: Mar Morto, Capitães da Areia e Os Pastores da Noite, gostando demais de todos, mas preferindo o último, disparado. Ah, li Navegação de Cabotagem quase todo, desisti de concluir não me ocorre agora por qual razão, preguiça, suponho, ou saí para beber, naquele tempo eu enchia a lata sem constrangimento, mas me lembro de que estava achando o negócio bem bacana, tenho essas esquisitices. Se eu, num mau dia, revelar quantas leituras inacabadas fiz, meus alunos não me respeitam nunca mais, aluno é alma sebosa, raça da pior categoria, quem não sabe, saiba. Menos os meus adorados e adoráveis, “óbvio ululante”. Sei que Gabriela Cravo e Canela tem pra mais de sessenta anos, é uma obra famosíssima, traduzida para várias línguas e tal, mas não tenho a mínima loção da idade do personagem central da trama. Sábado, por cima de toda moleza e febre, fui fazer a unha no salão, sou testemunha de que salão de beleza melhora a mazela de qualquer Amélia. Lá, minhas amigas e meus amigos da Record, não se falava em outra coisa. Gabriela Paes está na boca do povo, coitada. Bom para ela. O comentário inicial dizia respeito à idade, mas eu nem interferi, fiquei quieta, escutando. Uma moça argumentou, com toda a certeza desse mundo, que Juliana está muito velha para o papel, que a Gabriela de Jorge é uma menina. Eu de cá, só espremendo o juízo, tentando me lembrar da cara de Gabriela Sônia Braga no filme, um filme maravilhoso, só consegui me lembrar de que saí do cinema e entrei na loja de disco para comprar a trilha sonora, que adquiri também em CD, isso oitenta e seis anos mais tarde. “Casa de sombra, vida de monge, quanta cachaça na minha doooor”... Quanta cachaça na minha dor... ‘A versão nova é livremente inspirada no livro’, arrisquei, mas só eu ouvi. A moça é que estava inspirada... E indignada. A moça vira a tal cena da transa de Nacib mais Gabriela, na sexta-feira, Nacib comendo de Gabriela até o bagaço. “Que coisa horrorosa aquele peito de Juliana Paes, parecia um ovo estrelado!”, essa a sua avaliação. Eu de cá, matutando se é estrelado ou estralado, ou outra coisa, mas saquei a mensagem, deixei de lado. Juliana Paes foi namorada do irmão de um amigo meu da escola, a gente conversou muito sobre ela uma vez. Ele me contou o que eu intuía, que ela é uma mulher muito legal, descolada, simples, simpática, o irmão dele não conseguiu segurar a onda de ficar com ela, depois que ela começou a aparecer na mídia, o babaca de carteirinha. Não acho ela linda não. E acho. Acho lindo como ela se expõe, com aquele olhão de quer matar papai, de dente no quarador, em tudo quanto é canto, acho linda a autenticidade dela, que ninguém paga suas contas, acho linda a entrega absoluta à gravidez, engordando muito mais do que o recomendado, a devoção ao pequeno Pedro, que ainda deve estar mamando, se duvidar. Vi uma entrevista com ela no programa de Regina Casé, fiquei abismada, só dava ela sambando feito uma doida, balançando as tetas enormes, “Pedro vai mamar o quanto quiser”, confirmava, entre sorrisos. Ela deve ter perdido muito peso para interpretar Gabriela. Deve se acabar nas massagens e drenagens e nos tratamentos de ‘reconstituição de beleza’. Vai ver esqueceu-se de mexer no peito. Ou tem um implante de silicone já marcado para dois dias depois do último capítulo da novela. Ou não. A impressão que me dá é a de que a gente perdeu a referência, com o peito original de fábrica sob o sério risco de extinção. O peito original, essa espécie envergonhada. A beleza não pôe mesa, gaiola bonita não dá comida a passarinho. Jorge Amado viveu mais de cinquenta anos amigado com uma mulher feia, linda para o seu olhar. A beleza esteve, está e estará nos olhos de quem a vê. De Zeinha li três livros, de capa a capa, esperando sobrar um dinheirinho para comprar mais: Anarquistas Graças a Deus, Um chapéu para viagem e A casa do Rio Vermelho. Sou muito fã de Zélia Gattai, pela graça e leveza com que ela imprimiu suas belas memórias no papel, para a posteridade, para o deleite daquele que gosta e vive de recordar, como eu. Estaria Jorge satisfeito com o resultado da livre inspiração em cartaz, com a escolha da protagonista?  Estivesse entre os vivos, seria o caso de contar com a preciosa ajuda de Chico Xavier, uma psicografia do próprio autor esclareceria tudo. Confesso que já entrei na fase de não conseguir perder meio capítulo, apesar da participação de Maitê Proença, tão insossa, a bichinha, ainda mais contracenando com aquele gigante, a Laura Cardoso. Aposto meu baço, que os ovinhos fritos de Juliana, Nhô Jorginho Amado do  Brasil os aprovaria, maravilhado e estupefato, de boca aberta, escorrendo água. Eu, hein?

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Junho

Quem não pode Nova Iorque, Zeca Baleiro sabe e ensina, quem não pode Nova Iorque... Vai de Madureira, meus amigos e minhas amigas da Rede Globo. A gente viajou no feriadão do corpo de Cristo, uma excursão pra longe pra raio, o comboio foi bater em Grussaí, passei tanto tempo no sacolejo do asfalto, vi a hora chegar a hora de apear em Recife, haja vista a demasia de poeira e de demora. O lugar é São João da Barra, aquele do conhaque de alcatrão, achei simpático, afora um pedaço de terra acolá, que o mar tá recuperando na raça e na unha, o povo invadiu, construiu, a água pegou ar, arrepiou-se, veio com a macaca, varrendo tudo, a onda lambendo pau, pedra e beira de estrada, é o fim do caminho. Vi, da janela, uma singela amostra de Campos dos Goytacazes, terra feia do cão, bem que me alertaram, meu olhar exigente, acostumado às formosidades do meu rincão, benzadeus, fiquei abismada com tanta escassez de belezura. Acomodamo-nos modestamente num SESC honrado e decente, por sinal, pense num SESC gigante e multiplique por seis, é mais ou menos o tamanho. Dentro de quatro dias, a gente num viu metade da área cercada, pra onde se olhava era o mundo, o mundo sem porteira, visão de imensidão, o mundo, preste atenção, o mundo é um moinho, inté a vista se atrapaia, cansa e não alcança. O saldo do passeio é esse resfriado aloprado, três dias de febre já, moída de corpo e de alma, do cocuruto à sola do pé, a gente se arvora a cutucar coisa que não devia, só dá é nisso. Mas foi bom. Deu-se que o tempo virou, na horinha mesmo que a gente chegou na minha pequenina Grussaí. Choveu, choveu, a chuva botou seu barraco no chão. Choveu canivete, da quinta-feira até o domingo, por essa luz que me atravessa as carnes, pela graça divina. Pra onde se andava, tome-lhe aguaceiro. Eu, metida a cavalo do cão, pinotando pra lá e pra cá, feito uma jia acrobata, até hidroginástica fiz, ceguinha de pai e mãe, dentro da piscina, cada pingo dessa grossura, o dilúvio comendo no centro e o povo mais eu, com mais de mil, na atividade física regular recomendada, é cada doidice, que Deus me livre. Na volta, comprei um caminhão de vitamina C, jurava que ia dar certo. Qual o quê. Adiei a constipação bem uns quize dias ou mais, porém a bicha chegou foi estribada. Minha vida eu levo assim, de sol a sol, fungando, corizando e espirrando, desde que, para a minha pessoa, o mundo é o mundo.
Meu amigo Bruno me pediu uma crônica nova semana passada. Aposto o que não tenho na certeza absoluta de que meus leitores dispersaram-se tem é tempo, que ninguém é besta de ensinar caminho a doido, deitar na linha do trem e esperar por quem não vem. Confesso que andei desmotivada. Quanto mais leio, menos quero escrever, calçada de vergonha, a mais pura verdade. Ainda faço uma lista dos sessenta e três maiores cronistas de todos os tempos, Bruno encabeçando a supracitada, e dou esse caso por encerrado, ora bolas. Nem disposição para dar um trato na aparência desse blog eu tenho. Sonho com uma configuração minimalista, tudo às claras, mas não pego a vassoura. Tinha uma professora em Petrolina, coitada, que não devia bater muito bem da cachola, Elisabet o nome dela, de Português, uma das mulheres mais sabidas que já tive oportunidade de invejar, Bet me dizia que eu não era escritora por falta de disciplina, avalie a sandice. Nem se eu fosse militar, colega. Nem se eu fosse militar.
Teve um arraial porreta em Grussaí, isso no sábado da inundação. A gente chegou na festa num trem, uma autêntica maria fumaça linda de morrer, para ser perfeita a serpente de ferro carecia só de uma meia dúzia daqueles botes infláveis do Titanic. Teve quem ficasse nos chalés, debaixo das cobertas, os descontentes, que sempre os há... Eu não. Desembestei no terreiro, atolada na lama até as tranças, espanando a asa feito uma pata, farejando pamonha. Nem adianta eu querer saber por qual arte do diabo vim parar nessa cidade de arraial com pizza, espetinho e cachorro quente. Pra não dizer que não falei das flores, comi um pedaço de bolo de milho mais coca-cola. Não tinha café. Nem pra fazer um chá.
São João acende a fogueira do meu coração, é isso. Minha mãe era a maior especialista em comida de milho, que tive a oportunidade de invejar. Gastava muito do seu precioso tempo, esquecida das coisas da vida, ocupada em ornamentar, minuciosa, o alto dos pratos, com pó de canela. Fazia desenhos geométricos sobre as travessas de canjica, perguntando-me se estava ficando bonito. Será arte? Deixa chover, deixa a chuva molhar... Dentro do peito tem um fogo ardendo que nunca, nada vai apagar. Eu sei que é junho, esse relógio lento, esse punhal de lesma, esse morcego em volta do candeeiro e o chumbo de um velho pensamento. Boas festas.

Para Bruno.