Pesquisar este blog

domingo, 20 de setembro de 2015

Bagatela

O homem e a singularidade. Cada um com seu cada caos. Por algum acaso, madame, tô enganada? Pergunte-se por qual razão que a razão desconhece, rarará, a minha pessoa, a essa hora miudinha do domingo insosso, já começou a ralar o dedo nessa cuia de lorota. Há quem, a escrever um bilhete mal traçado, prefira parir dois rinocerontes já de chifre, tamanha a dificuldade. Nunca foi meu caso. Preparo uma sopa de letrinha no grau, assim dessa maneira, de sopetão, ligeiro e fácil extremamente fácil, como quem pisa errado, malandro, sem ver de quê, com mais de mil, escorrega. On the other hand, mande a inchadinha fazer uma conta, rarará. Demora, visse? E o resultado ainda sai trocado. Ontem, Bruna, Luca e Patrícia me pegaram com a boca na botija, engolindo um doce mais ou menos da minha grossura, cara, um vexame. Adoro me encontrar com meus meninos, sou completamente furada na venta, diria Dona Rita, doida, doidinha por eles. Tanto beijo, tanto afago, tanto amasso. Vejo a rapaziada sangue bom e entendo perfeitamente a matemática de não me transformar numa colossal uva passa: velha pensa, densa, grave e mal humorada. As crianças entabularam uma conversa bonita, na mesa ao lado, um conteúdo importantíssimo, Física, decerto. Química? Biologia? Inglês não, não era. Percebi, entretanto, que soava tão solene quanto, rarará. Amo demais, amo demais. Meus alunos me irrigam as rugas progressivas, um veio d'água, uma lufada de frescor, de esperança. Por falar nisso de juventude, tal e coisa, mais tarde, assisti ao programa do Serginho. Serginho, aos 64 anos, teve um filho, acredita? Esse aí, minha senhora, sem sombra de dúvida, acredita. Entre os convidados, Simony, nem sei se a grafia é essa, não sendo, fica sendo: Simony - idiota de carteirinha - uma pateta. Sobre o balão mágico, a perfeição em cima da Terra afirmou que aceita o mágico e descarta o balão. Ora bolas capadócias, não foi justamente o balão que lhe conferiu um meteórico sucesso em 1814? Gordofóbica de uma figa, viajando em maionese na cestinha, transitando em torno do próprio cilíndrico umbigo. Achou pouco, protagonizou outras cagadas, a plastrada emblemática culminando exatamente naquele interessante momento Laura Müller. Pintou um papo sobre orgasmo feminino, tudo evoluindo nos conformes, apreciações delicadas, bem cuidadas, tal assunto requer um mínimo de tato, empatia, sinergia. Pois bem, a imbecil, de repente, sem ser chamada a opinar, dispara: “Fingir orgasmo? Ridículo! Ridículo! A mulher tem que dizer o que gosta, tem que mostrar do que gosta!”, pode isso, Arnaldo? O silêncio é ouro, um mugido desse é lata. A psicóloga e sexóloga fechou logo a cara, fiquei só esperando a resposta de quem não se cansa de amparar a garotada vivenciando o problema. Uma profissional que deve cirurgicamente atravessar, mãos de seda, as camadas insondáveis de semelhante abacaxi, adoidadamente, ninguém se iluda, no divã do consultório, faz é tempo. Quanta delicadeza, quanta elegância, quanta generosidade no comentário da moça psicola. Não concordo mais por absoluta falta de espaço. Primeiramente, enquanto a masturbação feminina permanecer envolvida em mantas viciosas de culpa, constrangimento e preconceito, o carrinho vai andar de ré, meu camarada. Primeiramente, de novo, consciência e cautela ao tocar a flor genital da gente, não existe fórmula para, tão rapidamente, desdobrar o tema. Devagar. Lábio carmim e duas risadas? Quisera. Demanda luas de disponibilidade. Primeiramente, por último, não é porque a senhora é bamba no revirado do olho, manda e desmanda no seu clitóris, goza horrores, goza alucinadamente, não é por isso que a frigidez feminina virou bagatela, balela de revista de fofoca de novela. Consegue não? Dê seu jeito. Não. Não mesmo. Da forma mais serena, mais humana e solidária, Laura lembrou a plateia de que fingir prazer pode ser a alternativa para uma mulher impotente. Uma mulher babel, sofrendo, querida leitora desencanada, uma mulher desplugada de si mesma, uma mulher que supõe não merecer a festa, convencida de não dispor de mais nada, além da lenda, para oferecer a alguém na vida. Seguimos fodidos. Pela total incapacidade desse pequeno deslocamento: o breve instante de calçar outros sapatos. Sei pouco, mas arrisco acrescentar que orgasmo não pesa, flutua. Não traz o carimbo da imprescindibilidade, muito menos da simultaneidade. O princípio do prazer é o prazer. E seus múltiplos sentidos. Cada orgasmo é uma revelação, dado o mistério. Um acontecimento lindo, limpo, pessoal e intransferível. Explode sem orgasmo, inclusive, ou, pelo contrário, tão orgasmo, que ata e desata, aglutina e desvincula, mata e gera, convulsiona em nós o ser do mundo. O que não tem vergonha, o que não tem governo, o que nunca terá juízo. 


Para Bruna, Luca e Patrícia. 

sábado, 19 de setembro de 2015

Libelo

“Talvez tenha sido pecado apostar na poesia”... Cantarolando Queixa, a madame, se não escutou, procure incontinenti fazê-lo. Caetanear é preciso. Strongly recomendo. “Você pensa que eu tenho tudo, e vazio me deixa, mas Deus não quer que eu fique mudo”... Caetano é prata, sem vagido, digo logo. Bicha, apenas pare: O maior de todos foi, é, para sempre será “te perdoo por te trair” Francisco. Cara, não está sendo fácil. O contribuinte agitou as anáguas, rodou a baiana no barro do terreiro, desistiu de vez de ler meia palavra, que dirá sentença. Acabou-se. Legendas incluídas no protesto. Duvido a senhora encontrar um filminho à toa, na linha legendado, para a senhora assistir, cevando o pandu com guaraná e pipoca, na horinha incerta mais vã do sabadão rastejado. Cara, não está bolinho. Estreou uma película: A Entidade. Não é minha mentira: A Entidade. Avalio o nível, a qualidade dessa bosta. Devidamente dublada. Maria Desori só queria entender essa maluquice. Não vou arrastar minha chinela até o Xopcentis para ver o desfile da minha história na telona ancha, narração sei lá de quem, vozes atrozes infidelíssimas, alienígenas de todo, a entidade c’est moi, soy yo, eu da Silva, companheira, pode acompanhar daí, a entidade aqui conta tudinho, rarará, na riqueza do detalhe. A maior diversão, portanto, retorna ao ponto de partida: Rubem Braga, aquele abraço. Escolho as 200 crônicas escolhidas, deleite tantas vezes revisitado. Ninguém nunca vai escrever como “esse cara tem me consumido”... Aliás, a pessoa ficando curiosa, interessada, sequer hesite, “peça meu livro, querendo, te empresto”. O leitor de Rubem Braga tem muito com o que se ocupar. Entretenimento de beleza e grife. RB, ao meu paladar, é uma grife literária. Beleza e grife: conceitos anos-luz de significarem o mesmo, a propósito. Grife é grife, o sujeito podendo, arreganhe. Beleza não é pano, não é sapato. Beleza é cada suspiro alegre e triste do Velho Braga. Beleza são meus olhos míopes, pobrinhos, tadinhos, ainda surpreendentemente acesos, extasiados, incrustados nessa fisionomia de batata. O leitor de Rubem Braga jamais, em tempo algum, dará a mínima trela para esse brogs 1,99, raquítico, decadente, feio, de pior a pior, feito a cantiga da perua. Só acho. Abandonei a grande ideia do cinema, inventei de fuçar meus textículos lá de trás, coisa da antiga, menina, para quê? Mal comparando, o patamar é o dA Entidade: uma boa bosta. O parâmetro RB nas estrelas, obviululantemente, esmigalha a espinha dorsal desse fuchique.  Arriscado compartilhar e ser ridicularizada até os confins da morte. A questão é procurar entender o que pretendo, de fato, conservando, aos trancos e barrancos, essa pereba de diário, sinceramente. Chorar, gemer, berrar, reclamar, esbofetear o vento, acusar um inocente delinquente, botar a culpa no lombo do primeiro trouxa que, por ventura, se atravesse em minha frente. Dar tiro, porrada, bomba e risada. Licencinha, leitora, mas não faz sentido gastar sua vista nessa joça. Permita-me o breve instante de abrir o pito, esvaziar a esfera, chiar em paz, sem espião, sem plateia. As melhores, as mais honradas, conceituadas, puras, sadias, perfeitas, absolutas, inatacáveis crônicas do Brasil, para download, a um simples toque no teclado, tu cutucando cá no lixão não sei o quê. Francamente, dona. Vá lá. Ou vá catar coquinho, pentear macaco, azeitar o eixo da bola de sol do inverno torto, descaracterizado. Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos.”. Um belo dia de calor, a dor esquece que é a dor. Desaparece.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Parola

O heterônimo da minha pessoa é este: Maria Desori, uma humilde criada, ao seu incondicional dispor, fidedigna leitora. Saca Desori? Pronto. Irremediavelmente desorientada “à sombra do mundo injusto”, como nunca outrora visto na mal contada história do meu país idolatrado. Desorientada com certificação e tudo, vai para o lattes mais alto, acumula mais pontos, quem sabe. Uma doidice, uma doidice, bicho. Onde já se viu um inverno atrasado igual a esse, gentes? Uma semana tiritando dentro do freezer da sudeste geladeira, a cidade se acabando debaixo d’água cortante, quando, veja bem, depois de amanhã, te amo: é sol de primavera. Frio do estupor, o pau da venta congelado. Café é um trem que não pode ser mais ou menos, presta ou não presta, nesses termos. Sigo economizando quanto posso, no pretinho da predileção: Três Corações Premium – Estrada Real: café bom, menina, bom arretado, caro para caralho. Findo o último pacote, danou-se, a cauda espanando o soalho do poço: a família que se ajeite com percevejo moído e torrado, uma lástima. O Governo despeja na telinha que o rombo é despesa com o serviço público. Decepem-lhe a cabeça, o braço forte, a mão vazia. Proventos congelados. O Governo quer porque quer que eu assuma que a esculhambação é culpa minha, maluco. Entre um oceano de responsabilidades pelo esculacho, tudo nos meus costados, mais essa agora. “Logo eu, bom funcionário, cumpridor dos meus horários, um amor quase exemplar”. Uma doidice. Uma maldade. O Governo virou-se nos pentelhos de Jane Fonda para equilibrar as contas, reanimar o afogado, a senhora engole? O sujeito nem precisa ser muito ilustrado pra constatar o obviululante: a merda virou boné faz tempo, mas relaxe. Os bancos continuarão comendo lucro, de rodo. Os ricos continuarão bastante ricos, afagando bens, notas e barras. O mantra é ancestral: o de cima sobe e o de baixo desce. Ôm. O fundo do poço tem ralo. A senhora pode liquefazer-se: derreta, escorra, no inferno sobra tanto espaço. A senhora foda-se aí, recolhida à insignificância do seu minúsculo subterrâneo quadrado. Ando rabugenta, azeda, cansada. Às vezes, ensaio uma conversa (a)fiada, dou fé, aquela esquisitice: arremessam-me ao (ab)surdo vácuo. Deve haver uma explicação. Endureci um tanto. Já fui mais agradável às retinas e aos ouvidos da galera, aposto. Priscas eras. Piada, chiste, gargalhada folote desatinada, amenidades guimaraes.com... A farra. No tempo de ‘como vai?’ significar ‘oi’, sem cobiçar qualquer desdobramento, aprofundamento, sinceridade na resposta. A menos que o espichado resultasse em palhaçada. Parece que esses dois anos geraram assuntos indigestos, incompatíveis comigo, com quem me escuta, uma maluquice. Não sei direito. O fato é que hoje identifico em mim, por exemplo, uma brutal inabilidade para circular entre os grupos whatsappianos aos quais pertenço. Pertenço? Tenho sempre a sensação de bijuteria, sinto que a verdade passa longe, espia o delírio da guduxa fora da casinha. Tenho que descobrir na terapia, madame, por que me aborrecem os diminutivos. Fofinha, amiguinha, queridinha, florzinha amarelinha bonitinha... Como é que uma criatura troca figurinha engraçadinha coloridinha carinhosinha docinha desse jeito, em nome de Jesus, me fala? Inverossimilzinho paquinhas. E as correntes? E os vídeos? Fábio de Melo é um homem extraordinariamente bonito. Sensível. Inteligente. Articulado. Uma árvore de Natal. Vaidoso e afetado a ponto de eu não conseguir terminar de assistir à palestra, alguém entre os viventes me entende? Preocupado demais com os trajes e os músculos e a cútis e o bigode e a barbicha e o melhor ângulo, para um padre, I’m sorry. Sobre o olhar sobre as coisas, sobre ideologia, nem discuto. Lamento. Claro que a questão é a maturidade para ignorar certos comentários, carregar no coração somente o que se encaixa. Chegaram-me os anos, não a sabedoria. Pobre menina balofinha desolada. Falta empatia, cumplicidade. Vaza hipocrisia. Transborda desafeto. Aqui, acolá, menina, é um pega na virada, uma farpa, um deboche, um sopapo, um veneno. A gente se estranha. Aquele passatempo de procurar antes ser bom, bom de doer, simples e bom, sem se exibir, sem diminuir, sem preterir, sem trair, sem ferir, quem foi que escondeu da gente? Aí, na real, penso que as relações virtuais são relações humanas, uma loucura, tudo gente. Vontade de silêncio. “Há sorrisos que não são de felicidade, mas sim um modo de chorar com bondade.”. Reproduzo a frase inteira, completamente esquecida de quem disse. 


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Tromba

"Nunca mais eu chorei, nunca mais, e agora, eu até acho graça da chuva lá fora"... Madame, isso é antigo feito a gente... Ângela Maria convidou Caetano para a regravação, ficou tão, tão... Ou não. A memória apronta. Disfarça. Distorce. "Rodava as horas pra trás, roubava um pouquinho"... A memória é a maior falsificadora de pretéritos instantes. Dona Rita, minha saudosa mainha... Quando meu lábio superior estufava, o bico capricornianamente intumescido ameaçava ganhar as calçadas, dobrar a esquina, rarará, era muito ela quem me dizia "desmancha essa tromba, menina". Não sei as senhoras três leitoras remanescentes desse desafetado brogue sem um pífio suplente de estrela de papel, cada qual eleja o cosmético de emplastrar a fuça de pendurar na janela manhã cedo, a questão toda é que hoje não topo pintar os beiços. Indisposta. Não estou para bocas e acenos, ando azeda, rabugenta, cheinha do meu saco. Bicho, "minha tribo me perdeu", não tenho a menor loção de onde foi se entocar minha patota. Troquei umas concepções com minha irmã mais velha, irmã quase mãe substituta, foi uma conversa assim amolada, oxítona, faltosa de pausa e reticência, farta de queixa desiludida, uma comunicação pretendendo mesmo parecer um fundo desabafo. Iêda jura que se trata da menopausa, a dança dos hormônios, o outono da matriarca, tal e coisa. Bola fora. Me gusta duvidar. Duvido. É mais embaixo. Uma amiga me disse que ninguém precisa perguntar sobre mim, meu estado d'alma salta aos olhos, um letreiro neon na minha cara. Concordo porque transborda de verdade. Prossigo. Convivendo, ué? Do jeito que dá. Novos assombros, as pauladas de sempre, tudo devidamente acompanhado do questionamento reincidente: Por que dei guarida? Por que abri espaço? O que essa criatura faz aqui no meu batente? Cheguei ao improvável ponto de desacreditar de mim, essa guduxa outrora bacaninha, generosa, valente: uma brasa, mora? O homem, cabra vaidoso inveterado. Invertebrado. Não há limite para o desapontamento com a raça. O homem é um pobre coitado. Confete. Por um prato de reconhecimento, o homem inventa o melhor dos futuros, dos presentes e dos passados. A pessoa se desequilibra, não identifica onde, quando, se, de fato, algum dia, o encontro foi humano: amoroso, repleto da eternidade da sinceridade do momento. Sofro de uma saudade do que sequer existiu, talvez. Nostalgia de um lapso, uma onírica passagem de vida azul bebê. Suave, porém potente. Antes da religião, antes da política, antes da ciência, antes da nação, antes da língua, antes da maldade requintada, antes da grana, antes da certeza da individualidade. Saudade de sermos unidade numa gosma cósmica, vagando irmã, além do infinito. "Desmancha essa tromba d’água", São Pedro. Quero sair sol, sair sol. Suor no asfalto.