Banho tomado, corpanzil devidamente perfumado, que nunca
fui de renegar um sabonete cheiroso, uma água-de-colônia azul ou esverdeada, dessas
bem fresquinhas, melissa, chá verde, verbena, bergamota, jasmim, lavanda, flor
de laranjeira, huuuuummm... Nada supera uma chuveirada vigorosa no cume do quengo,
eita lá... A pessoa esfria um pouco o juízo fumaçando, borbulhante de dilemas
vários, atribulações de tudo quanto é fragrância, tudo fêmea dando cria, problema
é tudo fêmea no cio, afe, barriga livre para os filhotinhos se espalhando, uma
praga, vai-te! Cochilou, a ninhada ocupa os minguados espaços de razão e bom
senso, o sujeito fica doidinho, um caso sério. As charadas diárias são nível hard, cara, só digo isso. Uma novela
mudar de fase. Desci as escadas, muito da linda, um bibelô balofo trajado de
pijama de ursinho Puh, realiza aí, leitora, rarará: um mimo, uma delicadeza.
Dormi o sono dos justos, hoje à tarde. Aliás, bom conselho, de graça: durma,
minha senhora. Durma de esquecer. Dormir não soluciona porríssima nenhuma, está
certo, mas adia, rarará. Pode até resolver, a senhora sonhando com um palpite seguro
para o bicho, os números da megasena, quem sabe. Acordei desejando desesperadamente
um prato de papa, não se trata de gravidez a essa altura do baile,
asseguro-vos, passei da validade, rarará. Salivando por um mingau, acredita?
Mingau de maisena feito com leite em pó, gosto que me enrosco. A colher de pau
rodopiando na panela, a gente voa quando
começa a pensar... Na escola, isso em 1837, a esferográfica imprimia a
palavra 'maisena' com S, S de 'salvem-se
quem puderem-se', rarará, ortografia é mesmo uma paulada, toda hora uma
informação diferente, rarará. O que aprendi sobre modelar a inculta e bela, amores, veio da escola. Nenhum professor
universitário acrescentou uma vírgula, um acento sequer, pasme. Na única escola da minha
vida, tive grandes mestres. Três inesquecíveis professoras de Língua
Portuguesa: Tia Vera, Xênia e Maria José. Zezé, na época, já era uma mulher,
digamos, bastante madura, donde concluo: meus parcos conhecimentos ortográficos
prescreveram, rarará. Tudo igual a mim: ultrapassado, mofado, obsoleto. As
leituras feicibuquianas confirmam: perdi o bonde e a esperança. Na cozinha,
ainda agorinha, repeti um dos mantras zezesianos: atanazar, bocafuzar, fuzuê,
fuzaca e mozarca lembram algazarra. Escrevem-se com Z. Ela inventava uns
recursos mnemônicos extraordinários, quanta criatividade, uma lástima ter
descartado as primorosas apostilas, por outro lado, combinemos: papéis carecas,
desgastados. Não teriam resistido tanto tempo. Um jeito de fazer a moçada
decorar aquelas besteirinhas fundamentais, as consagradas configurações da
última flor do Lácio, caro colégua. Decoreba com pedigree. A gente decorava tanto, de todas as
maneiras. Do geral às particularidades. O trem grudava no cérebro, um esparadrapo. Foi assim, como um resto de sol no mar. Não se apaga. Basta
precisar, bicho. Ao menor apelo, a lição desponta, manifesta-se: uma
besteirinha iluminada. Atualmente, na sala de aula, a realidade é outra, o cabra desavisado que cair na esparrela de mandar um menino
memorizar um cabelinho de sapo, compa, estará inevitavelmente fodido, arrisca-se
a tomar um tiro no meio dos cornos, tamanha a defasagem com S, a brutal incompetência
do pobre docente. Modernidades. Muitos profissionais supimpas, arrojados, ousam trilhar o
caminho de volta, costurar as extremidades, passado e futuro enlaçados no
presente, uma coisa bacana. Avante. Prossigam. Aplaudo. De casa. Convém descansar, descalçar os sapatos. Deixarei um naco de saudade acanhada, sofrerei a
tortura da maior saudade, as frágeis fibras do peito, ai..., dilaceradas. Porém, devo confessar que sinto uma ponta de alívio, a dois
passos de abandonar o barco.
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sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Corrente
39,90+39,90+27,00+37,00+49,90+76,00+25,00+17,00+22,00+56,00,
certa como dois e dois quatro, do retorno à drogaria, madame, ainda em outubro.
Mais corticoide, mais metrexato, mais
ocupress colírio, mais concor e mais torlós, só aqui, me lasco. Nunca fiz as contas de precisamente quanto
do meu breve salário é destinado aos malditos fármacos empenhados em melhorar
meu estado geral, é sempre igual, as
folhas caem no quintal, vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo,
tudo embaixo do glorioso tapete vermelho-sangue, rubra seiva de mim, rarará, a nobre
alcatifa do honradíssimo banco do brasileiro enforcado: sonhe, o BB realiza. Conservo a
cabeçuda esperança verde-mata, "mata
ela, mata!", rarará, de desencarnar do azul para o azul, sem dever dois reais
a Seu Ninguém, quem sabe. A senhora não se confundiu: dois dentistas. Um exclusivamente para
providenciar implantes de me extirpar as vísceras. Aliás, na fresta mais dócil e
pura de um pequeno dia, de repente, entenderei por que implante é tão caro.
Hoje não. A dentista cuida de escorar o caco que perde o prumo. Ainda ontem,
recebi uma notícia dramática, um açoite no lombo taludo: "aconselho você a
fazer outro implante, esse dente não se aguenta muito tempo.", pá!!, desse
jeito. Não achei o que vender em casa, tô partindo para as córneas, quero parar
de enxergar meus horizontes, a leitora, acaso, se interessa? Cheguei a pensar
em Ronaldo, rarará, parcelado, em duas vezes. Ronaldo não, nunca de never
more, rarará. Ronaldo, colégua, não tem dinheiro nas galáxias que pague. Pega
a doida de pedra se lembrando daquela música: errei sim, manchei o teu nome... Nome mais sujo que pau de
galinheiro... Manchei o meu nome, mas foste tu mesmo, mundo cruel, o culpado,
rarará... O fundo do poço tem mola. Na maior insegurança, um medo danado do
grave pecado da mentira, eu garanti, capital
letters: o fundo do poço tem mola, minha querida. Tudo, tudo passa. A
dentista é uma querida, muito querida. Tantos momentos cobrindo, remendando,
rebocando, resolvendo como pode, em horários inacreditáveis, coitada, os
problemas cascudos das minhas arcadas corticoidemente afetadas... Como foi que
examinei tanto o sorriso do meu umbigo, desconectada de todo, de todo, dessa
pessoa tão disponível, tão amável, tão querida? Argamassa por cima das chagas. "Quando uma pessoa chora um choro em
desatino, batendo pino, como quem vai arrebentar", é um impacto, uma
descarga, um safanão no centro da mosca da sua cara. Um braço imenso, forte,
içando a sua alma metida à gente, desencarcerando o fantasminha equivocado, lançando
seus destroços de humanidade ao convés do mesmíssimo barco. Cara, somos as
miçangas do colar em torno do pescoço do planeta. O cordão adorna, o cordão resgata, o cordão
estrangula. Qual é a sua escolha? Reescrevo: impossível fugir, é, será sempre o
mesmo barco. Ignoro o germe em questão, percebi, entretanto, claramente: não há,
entre os anestésicos acondicionados no armário da doutora, um que atue na raiz daquela
dor. Sou quase um irremediável caso de focinheira e manicômio, sei de cor. O
minuto de lucidez é para não julgar. Não ofender, não contundir, não esfolar
mais, os psicólogos, psiquiatras e afins multiplicam-se feito preás,
especialistas especializados em mexer nas tais perebas. Minha parte é acudir o
outro. Minha fatia é empatizar, consentir no pranto, respeitar o curso da
lágrima cheia de sal, de som, de sentimento. Oferecer café, cerveja ou um
cálice de vinho. Ensinar uns palavrões eficazes. Liberar meus ombros largos, meus
abraços reconhecidamente acolchoados, meus ouvidos acessíveis. Luar sem amor, amor sem se dar? Na dúvida, olhe em volta. Na dúvida, expanda os limites do corpo, da mente, do coração descompassado. Na dúvida, simplesmente, acolha.
sábado, 3 de outubro de 2015
Azeviche
Solzinho acanhado, não acham? Janelas abertas à manhã
menos ensolarada que a do meu desejo. No momento, uso o notebook de Ronaldo,
minha desvalida máquina jaz em coma profundo, bebeu demais, coitada, mas, cara,
vou dizer, foi somente água mesmo. A quinta-feira passada entrou para a lista
das piores lembranças do casal: triste, triste
de não ter jeito. Graças a Deus, sei muito pouco sobre o que vai na copa
dos telhados, disponho de torneiras e de chuveiros para o mero asseio da
matéria: pele fresca, pratos escorridos, roupa limpa, casa lavada. Tudo tão
singelo. Mínimas alegrias cotidianas cheirando à flor do campo, naturalmente.
Ocorre que a caixa do vizinho transbordou, sobrou pra gente, o teto encharcou -
uma peneira - o toró desceu pelo lustre, uma inundação dessas de cinema. Choveu gato e cachorro, tempestade dentro do nosso quarto. A cama, a cômoda, o guarda-roupa, o som,
meus discos, meus livros e tudo mais. A recuperação do computador é uma
interrogação, me aconselharam a aguardar um tempo, depois, tentar reanimá-lo. Pensei
que contar a história me traria um discreto alívio. Não. É exatamente o contrário. "Sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada"... Quem, senão
a guduxa pirada da bola, choraria um
pomar de pitangas por um pirão de papel? As páginas secaram grudadas, um
desconsolo. O cesto de lixo rejeita. Entretanto, não consigo me desfazer dos
volumes, cinco ao todo. Perdi as 200
crônicas escolhidas. Quietinha, por favor, a madame nunca vai entender o que
estou sentindo. O brogue dá um refresco, quando a coisa fica preta. Até o
transparente, a demora é transtornar, desequilibrar o ambiente, H²O
transparente não escapa, pimba!, fica preta. Aliás, por que preto é ruim? Por
que ruim é preto? Preto é podre. De chique. Noite preta parideira das revelações abissais, incontestes. Seu Raul, o ator Val Perré, aquele negro espetacular da
novela das seis, participou do programa de Fátima Bernardes, não pude escutar
uma palavra, muita mulher cocoricando no salão de beleza, pintou uma torta de
climão, um silêncio espinhoso, rarará, porque eu comentei: esse homem é
estonteante! Acho o cara caprichado, guapo, belo de ver e de morder, acho mesmo.
Aliás, deuses de ébano me tiram o fôlego. Visualiza o que teria sido a antológica
cena do "serve...", com
Fanny inspecionando um Leo negro lindo, tesão, bonito e gostosão de fechar o
comércio? Ainda bem que racismo não existe, pela madona jabuticaba brasileira: valei-nos, Nossa
Senhora Aparecida! Uma situação isolada, decerto. Atípica, esdrúxula, fora da
terra e do ar, apenas isso. Menina, nos idos da faculdade, minha pessoa
arrastava um avião por um colega de sala, um podemos
ser amigos simplesmente, rarará, alto, espatulado, charmoso, distribuidor
de um sorriso da criatura cair dura batendo, rarará, Auríbio, nome feio do cão,
o nome dele é Auríbio, podia ser Apolo, rarará, o infeliz das costa oca nunca
me deu nem as horas, que dirá um dedo de trela. Que interesse causaria uma branquela azeda, tonta, desmiolada? Pra galera, Auríbio era Marrom
ou Negão, um sujeito meio reservado, de pouca conversa, cabra gentil, generoso
demais, parece que ontem mesmo vi Auríbio arrastando o chinelo no Centro de
Artes. Nada como o tempo para passar. O tempo avança, finja que esquece. Acabo
de descobrir que Negão é professor universitário, veja você. Na graduação,
Negão vendia a mãe por um passeio no corredor, um cigarro na cantina, o bicho faltava uma aula empurrada, rarará... O mais surpreendente é que Negão
tornou-se facilitador de biodança, quem imaginaria? Uma tremenda coincidência,
fiz tanta, tanta biodança, tantos anos
da minha vida... Continua vistoso, um bom pedaço de mau caminho. Para o
trânsito, provoca abalroadas, rarará... Desconfio que nós teríamos feito filhos bastante bem apanhados, assaz graciosos, meu chapa.
domingo, 20 de setembro de 2015
Bagatela
O homem e a singularidade. Cada um com seu cada caos. Por
algum acaso, madame, tô enganada? Pergunte-se por qual razão que a razão
desconhece, rarará, a minha pessoa, a essa hora miudinha do domingo insosso, já
começou a ralar o dedo nessa cuia de lorota. Há quem, a escrever um bilhete mal
traçado, prefira parir dois rinocerontes já de chifre, tamanha a dificuldade.
Nunca foi meu caso. Preparo uma sopa de letrinha no grau, assim dessa maneira,
de sopetão, ligeiro e fácil extremamente fácil, como quem pisa errado,
malandro, sem ver de quê, com mais de mil, escorrega. On the other hand, mande a inchadinha fazer uma conta, rarará.
Demora, visse? E o resultado ainda sai trocado. Ontem, Bruna, Luca e Patrícia me pegaram com a boca na
botija, engolindo um doce mais ou menos da minha grossura, cara, um vexame.
Adoro me encontrar com meus meninos, sou completamente furada na venta, diria Dona Rita, doida, doidinha por eles. Tanto
beijo, tanto afago, tanto amasso. Vejo a rapaziada sangue bom e entendo
perfeitamente a matemática de não me transformar numa colossal uva passa: velha pensa,
densa, grave e mal humorada. As crianças entabularam uma conversa bonita, na
mesa ao lado, um conteúdo importantíssimo, Física, decerto. Química? Biologia?
Inglês não, não era. Percebi, entretanto, que soava tão solene quanto, rarará.
Amo demais, amo demais. Meus alunos me irrigam as rugas progressivas, um veio d'água, uma lufada de
frescor, de esperança. Por falar nisso de juventude, tal e coisa, mais tarde,
assisti ao programa do Serginho. Serginho, aos 64 anos, teve um filho,
acredita? Esse aí, minha senhora, sem sombra de dúvida, acredita. Entre os
convidados, Simony, nem sei se a grafia é essa, não sendo, fica sendo: Simony -
idiota de carteirinha - uma pateta. Sobre o balão
mágico, a perfeição em cima da Terra afirmou que aceita o mágico e descarta o balão. Ora bolas capadócias, não foi justamente o balão que lhe
conferiu um meteórico sucesso em 1814? Gordofóbica de uma figa, viajando em
maionese na cestinha, transitando em torno do próprio cilíndrico umbigo. Achou
pouco, protagonizou outras cagadas, a plastrada emblemática culminando exatamente naquele
interessante momento Laura Müller. Pintou um papo sobre orgasmo feminino, tudo
evoluindo nos conformes, apreciações delicadas, bem cuidadas, tal assunto requer
um mínimo de tato, empatia, sinergia. Pois bem, a imbecil, de repente, sem ser
chamada a opinar, dispara: “Fingir orgasmo? Ridículo! Ridículo! A mulher tem
que dizer o que gosta, tem que mostrar do que gosta!”, pode isso, Arnaldo? O silêncio é ouro, um mugido desse é lata. A psicóloga
e sexóloga fechou logo a cara, fiquei só esperando a resposta de quem não se cansa de amparar
a garotada vivenciando o problema. Uma profissional que deve cirurgicamente atravessar,
mãos de seda, as camadas insondáveis de semelhante abacaxi, adoidadamente, ninguém
se iluda, no divã do consultório, faz é tempo. Quanta delicadeza, quanta
elegância, quanta generosidade no comentário da moça psicola. Não concordo mais por absoluta
falta de espaço. Primeiramente, enquanto a masturbação feminina permanecer
envolvida em mantas viciosas de culpa, constrangimento e preconceito, o
carrinho vai andar de ré, meu camarada. Primeiramente, de novo, consciência e
cautela ao tocar a flor genital da gente, não existe fórmula para, tão rapidamente, desdobrar o
tema. Devagar. Lábio carmim e duas risadas? Quisera. Demanda luas de disponibilidade. Primeiramente, por último, não é porque a senhora é
bamba no revirado do olho, manda e desmanda no seu clitóris, goza horrores, goza
alucinadamente, não é por isso que a frigidez feminina virou bagatela, balela
de revista de fofoca de novela. Consegue não? Dê seu jeito. Não. Não mesmo. Da
forma mais serena, mais humana e solidária, Laura lembrou a plateia de que fingir
prazer pode ser a alternativa para uma mulher impotente. Uma mulher babel, sofrendo, querida leitora
desencanada, uma mulher desplugada de si mesma, uma mulher que supõe não merecer a festa, convencida de não dispor
de mais nada, além da lenda, para oferecer a alguém na vida. Seguimos fodidos. Pela total incapacidade desse pequeno deslocamento: o breve instante de calçar outros sapatos. Sei pouco, mas arrisco acrescentar
que orgasmo não pesa, flutua. Não traz o carimbo da imprescindibilidade, muito menos da simultaneidade. O princípio do prazer é o prazer. E seus múltiplos sentidos. Cada orgasmo é uma revelação, dado o mistério. Um acontecimento lindo,
limpo, pessoal e intransferível. Explode sem orgasmo, inclusive, ou, pelo
contrário, tão orgasmo, que ata e desata, aglutina e desvincula, mata e gera,
convulsiona em nós o ser do mundo. O que não tem vergonha, o que não tem
governo, o que nunca terá juízo.
Para Bruna, Luca e Patrícia.
Para Bruna, Luca e Patrícia.
sábado, 19 de setembro de 2015
Libelo
“Talvez
tenha sido pecado apostar na poesia”... Cantarolando Queixa, a madame, se não escutou,
procure incontinenti fazê-lo. Caetanear é preciso. Strongly recomendo. “Você
pensa que eu tenho tudo, e vazio me deixa, mas Deus não quer que eu fique mudo”...
Caetano é prata, sem vagido, digo logo. Bicha, apenas pare: O maior de todos foi,
é, para sempre será “te perdoo por te
trair” Francisco. Cara, não está sendo fácil. O contribuinte agitou as
anáguas, rodou a baiana no barro do terreiro, desistiu de vez de ler meia
palavra, que dirá sentença. Acabou-se. Legendas incluídas no protesto. Duvido a
senhora encontrar um filminho à toa, na linha legendado, para a senhora
assistir, cevando o pandu com guaraná e pipoca, na horinha incerta mais vã do
sabadão rastejado. Cara, não está bolinho. Estreou uma película: A Entidade. Não é minha mentira: A Entidade. Avalio o nível, a qualidade
dessa bosta. Devidamente dublada. Maria Desori só queria entender essa
maluquice. Não vou arrastar minha chinela até o Xopcentis para ver o desfile da minha história na telona ancha,
narração sei lá de quem, vozes atrozes infidelíssimas, alienígenas de todo, a
entidade c’est moi, soy yo, eu da Silva, companheira, pode
acompanhar daí, a entidade aqui conta tudinho, rarará, na riqueza do detalhe. A
maior diversão, portanto, retorna ao ponto de partida: Rubem Braga, aquele
abraço. Escolho as 200 crônicas escolhidas,
deleite tantas vezes revisitado. Ninguém nunca vai escrever como “esse cara tem me consumido”... Aliás, a
pessoa ficando curiosa, interessada, sequer hesite, “peça meu livro, querendo, te empresto”. O leitor de Rubem Braga
tem muito com o que se ocupar. Entretenimento de beleza e grife. RB, ao meu paladar, é uma grife
literária. Beleza e grife: conceitos anos-luz de significarem o mesmo, a
propósito. Grife é grife, o sujeito podendo, arreganhe. Beleza não é pano, não
é sapato. Beleza é cada suspiro alegre e triste do Velho Braga. Beleza são meus olhos míopes, pobrinhos, tadinhos, ainda surpreendentemente
acesos, extasiados, incrustados nessa fisionomia de batata. O leitor de Rubem Braga jamais,
em tempo algum, dará a mínima trela para esse brogs 1,99, raquítico, decadente, feio, de pior a pior, feito a
cantiga da perua. Só acho. Abandonei a grande ideia do cinema, inventei de fuçar meus textículos
lá de trás, coisa da antiga, menina, para quê? Mal comparando, o patamar é o dA Entidade: uma boa bosta. O parâmetro RB nas estrelas, obviululantemente,
esmigalha a espinha dorsal desse fuchique. Arriscado compartilhar e ser ridicularizada
até os confins da morte. A questão é procurar entender o que pretendo, de fato,
conservando, aos trancos e barrancos, essa pereba de diário, sinceramente. Chorar,
gemer, berrar, reclamar, esbofetear o vento, acusar um inocente delinquente, botar a culpa
no lombo do primeiro trouxa que, por ventura, se atravesse em minha frente. Dar
tiro, porrada, bomba e risada.
Licencinha, leitora, mas não faz sentido gastar sua vista nessa joça. Permita-me
o breve instante de abrir o pito, esvaziar a esfera, chiar em paz, sem espião,
sem plateia. As melhores, as mais honradas, conceituadas, puras, sadias, perfeitas,
absolutas, inatacáveis crônicas do Brasil, para download, a um simples toque no teclado, tu cutucando cá no lixão não sei o quê. Francamente, dona. Vá lá. Ou vá catar coquinho, pentear macaco, azeitar o eixo
da bola de sol do inverno torto, descaracterizado. “Talvez não mereçamos
imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos
obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos.”. Um
belo dia de calor, a dor esquece que é a dor. Desaparece.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Parola
O heterônimo da minha pessoa é este: Maria Desori, uma humilde criada, ao seu
incondicional dispor, fidedigna leitora. Saca Desori? Pronto. Irremediavelmente desorientada “à sombra do mundo injusto”, como nunca outrora visto na mal
contada história do meu país idolatrado. Desorientada com certificação e tudo,
vai para o lattes mais alto, acumula
mais pontos, quem sabe. Uma doidice, uma doidice, bicho. Onde já se viu um
inverno atrasado igual a esse, gentes? Uma semana tiritando dentro do freezer da sudeste geladeira, a cidade
se acabando debaixo d’água cortante, quando, veja bem, depois de amanhã, te
amo: é sol de primavera. Frio do estupor, o pau da venta congelado. Café é um
trem que não pode ser mais ou menos, presta ou não presta, nesses termos. Sigo
economizando quanto posso, no pretinho da predileção: Três Corações Premium – Estrada Real: café bom, menina, bom arretado,
caro para caralho. Findo o último pacote, danou-se, a cauda espanando o soalho
do poço: a família que se ajeite com percevejo moído e torrado, uma lástima. O
Governo despeja na telinha que o rombo é despesa com o serviço público. Decepem-lhe
a cabeça, o braço forte, a mão vazia. Proventos congelados. O Governo quer
porque quer que eu assuma que a esculhambação é culpa minha, maluco. Entre um
oceano de responsabilidades pelo esculacho, tudo nos meus costados, mais essa
agora. “Logo eu, bom funcionário,
cumpridor dos meus horários, um amor quase exemplar”. Uma doidice. Uma
maldade. O Governo virou-se nos pentelhos de Jane Fonda para equilibrar as
contas, reanimar o afogado, a senhora engole? O sujeito nem precisa ser muito
ilustrado pra constatar o obviululante: a merda virou boné faz tempo, mas
relaxe. Os bancos continuarão comendo lucro, de rodo. Os ricos continuarão
bastante ricos, afagando bens, notas e barras. O mantra é ancestral: o de cima
sobe e o de baixo desce. Ôm. O fundo do poço tem ralo. A senhora pode
liquefazer-se: derreta, escorra, no inferno sobra tanto espaço. A senhora
foda-se aí, recolhida à insignificância do seu minúsculo subterrâneo quadrado.
Ando rabugenta, azeda, cansada. Às vezes, ensaio uma conversa (a)fiada, dou fé,
aquela esquisitice: arremessam-me ao (ab)surdo vácuo. Deve haver uma
explicação. Endureci um tanto. Já fui mais agradável às retinas e aos ouvidos da
galera, aposto. Priscas eras. Piada, chiste, gargalhada folote desatinada, amenidades
guimaraes.com... A farra. No tempo de ‘como
vai?’ significar ‘oi’, sem cobiçar
qualquer desdobramento, aprofundamento, sinceridade na resposta. A menos que o
espichado resultasse em palhaçada. Parece que esses dois anos geraram assuntos
indigestos, incompatíveis comigo, com quem me escuta, uma maluquice. Não sei
direito. O fato é que hoje identifico em mim, por exemplo, uma brutal
inabilidade para circular entre os grupos whatsappianos
aos quais pertenço. Pertenço? Tenho sempre a sensação de bijuteria, sinto que
a verdade passa longe, espia o delírio da guduxa fora da casinha. Tenho que
descobrir na terapia, madame, por que me aborrecem os diminutivos. Fofinha,
amiguinha, queridinha, florzinha amarelinha bonitinha... Como é que uma
criatura troca figurinha engraçadinha coloridinha carinhosinha docinha desse
jeito, em nome de Jesus, me fala? Inverossimilzinho paquinhas. E as correntes? E os vídeos? Fábio de Melo é
um homem extraordinariamente bonito. Sensível. Inteligente. Articulado. Uma
árvore de Natal. Vaidoso e afetado a ponto de eu não conseguir terminar de
assistir à palestra, alguém entre os viventes me entende? Preocupado demais com
os trajes e os músculos e a cútis e o bigode e a barbicha e o melhor ângulo,
para um padre, I’m sorry. Sobre o
olhar sobre as coisas, sobre ideologia, nem discuto. Lamento. Claro que a questão é a
maturidade para ignorar certos comentários, carregar no coração somente o que se
encaixa. Chegaram-me os anos, não a sabedoria. Pobre menina balofinha desolada.
Falta empatia, cumplicidade. Vaza hipocrisia. Transborda desafeto. Aqui, acolá, menina, é um pega na virada, uma farpa, um deboche, um sopapo, um veneno. A gente se estranha. Aquele
passatempo de procurar antes ser bom, bom de doer, simples e bom, sem se exibir,
sem diminuir, sem preterir, sem trair, sem ferir, quem foi que escondeu da
gente? Aí, na real, penso que as relações virtuais são relações humanas, uma loucura, tudo
gente. Vontade de silêncio. “Há sorrisos que não são de felicidade, mas
sim um modo de chorar com bondade.”. Reproduzo a frase inteira, completamente
esquecida de quem disse.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Tromba
"Nunca
mais eu chorei, nunca mais, e agora, eu até acho graça da chuva lá fora"...
Madame, isso é antigo feito a gente... Ângela Maria convidou Caetano para a
regravação, ficou tão, tão... Ou não. A memória apronta. Disfarça. Distorce. "Rodava as horas pra trás, roubava um
pouquinho"... A memória é a maior falsificadora de pretéritos
instantes. Dona Rita, minha saudosa mainha... Quando meu lábio superior estufava, o bico capricornianamente intumescido ameaçava ganhar as calçadas, dobrar a esquina,
rarará, era muito ela quem me dizia "desmancha essa tromba, menina".
Não sei as senhoras três leitoras remanescentes desse desafetado brogue sem um
pífio suplente de estrela de papel, cada qual eleja o cosmético de emplastrar a
fuça de pendurar na janela manhã cedo, a questão toda é que hoje não topo
pintar os beiços. Indisposta. Não estou para bocas e acenos, ando azeda,
rabugenta, cheinha do meu saco. Bicho, "minha
tribo me perdeu", não tenho a menor loção de onde foi se entocar minha patota. Troquei umas concepções
com minha irmã mais velha, irmã quase mãe substituta, foi uma conversa assim
amolada, oxítona, faltosa de pausa e reticência, farta de queixa desiludida,
uma comunicação pretendendo mesmo parecer um fundo desabafo. Iêda jura que se
trata da menopausa, a dança dos hormônios, o outono da matriarca, tal e coisa.
Bola fora. Me gusta duvidar. Duvido.
É mais embaixo. Uma amiga me disse que ninguém precisa perguntar sobre mim, meu
estado d'alma salta aos olhos, um letreiro neon na minha cara. Concordo porque
transborda de verdade. Prossigo. Convivendo, ué? Do jeito que dá. Novos
assombros, as pauladas de sempre, tudo devidamente acompanhado do
questionamento reincidente: Por que dei guarida? Por que abri espaço? O que
essa criatura faz aqui no meu batente? Cheguei ao improvável ponto de desacreditar de mim,
essa guduxa outrora bacaninha, generosa, valente: uma brasa, mora? O homem, cabra vaidoso inveterado. Invertebrado. Não há limite para o
desapontamento com a raça. O homem é um pobre coitado. Confete. Por um prato de
reconhecimento, o homem inventa o melhor dos futuros, dos presentes e dos
passados. A pessoa se desequilibra, não identifica onde, quando, se, de fato, algum dia, o encontro foi
humano: amoroso, repleto da eternidade da sinceridade do momento. Sofro de uma
saudade do que sequer existiu, talvez. Nostalgia de um lapso, uma onírica passagem de vida azul bebê. Suave, porém potente.
Antes da religião, antes da política, antes da ciência, antes da nação, antes da língua, antes
da maldade requintada, antes da grana, antes da certeza da individualidade. Saudade de
sermos unidade numa gosma cósmica, vagando irmã, além do infinito. "Desmancha essa tromba d’água", São Pedro. Quero sair sol, sair sol. Suor no asfalto.
domingo, 26 de abril de 2015
Pastel de vento
Fui mais cedo para a escola, responsabilidade assentada sobre
os ombros delicados de Paulinha, aquela moça muito da linda e simpática. Na
boa, apenas acho que ela acha que trabalha pouco, cada zureta do miolo com seu
cadastro caprichosamente atualizado, sinceramente. A Gestão de Pessoas é um
departamento tenso, só que não. Não consinto mais, nunca mais, cara. Permutamos
uma gargantilha de besteira, eu e Paula, continhas de éter, palermice a dar com o pau, a aula
introdutória do meu FIC especial de luxo: “Os signos e o amor: desses de
cinema!”, rarará, até quem pretende torar minha língua solta e viva bulindo,
sangrenta e amolada, rarará, até quem aguarda em cólicas o glorioso instante de
lançar o bife ferino ao quintal varrido, para o banquete de Totó esfomeado, rarará,
mesmo os ouvidos mais moucos de mim: os desconhecedores oficiais dos meus
lazeres, interesses e preferências; a patota em peso, curtindo paca tatu cotia
ou amaldiçoando acauã a guducha ruim da bola, todo mundo desse mundo diminuto –
um cabelinho de sapo, really - todo
mundo mesmo, rarará, sabe decorado o capítulo da minha queda patética por
assuntos astrológicos. Adoro. Descobri que a moça não é capricorniana, mas
aquariana! Por causa do ano de nascimento, acredita? Uma informação dessa
relevância pode foder o juízo do sujeito, entendesse? Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai, não
fica nada. Recomendo acompanhamento profissional sério, competente, uma
“psicola” de grife: não restará vértebra sobre vértebra, vaticino, rarará. O ascendente
da cachopa é leão, outra paulada, leão é o bicho. O ascendente é a máscara, a
senhora tá ligada: é como as pessoas enxergam a madame. O signo solar é a
essência, o buraco escuro lá embaixo. Coloco-me à disposição para maiores
esclarecimentos.
Nunca foi do meu feitio espanar a asinha roliça, rasgar a
seda pura da minha própria humilde pessoa boá de pluma irreverente, deixa quieto,
camarada. Rolha de poço é rolha, cortiça, pétala, zero gravidade, a questão é
que virei especialista em planar altiva sobre o fétido entulho da longa
estrada. Pensei, portanto, em compartilhar algodão-doce. Consequência do
relativo “ócio coagido” a que tenho, inch
by inch, bit by bit, me
submetido, começo a sossegar o facho, galera bem que sente, rarará. Venho
conjeturando, pois, a possibilidade de regalar os diletos coleguinhas com
esporádicas visitinhas de brisa aos diversos espaços de árduo, honrado, maciço
trabalho daquela instituição de ensino, pesquisa e blablablá. Olhares plásticos,
cenhos franzidos, incisivos e caninos encarcerados, chega dá uma pena, Helena.
Geral rala, rala de empedrar, rala para caralho. Menos, parça. Bastante menos.
Nem para alinhavar historinha, consinto na sobrecarga. Tive, por exemplo, um comichão
para escrever sobre o “Na moral” da semana passada, uma inutilidade pública,
combinemos. Malafaia e seu inconfundível, destrambelhado parroting, o discurso mais torpe e grotesco de que se tem notícia
dentro e fora de uma igreja, MALAfaia dá uma crônica-baleia. Malafaia, para meus nervos
de aço, já deu, cara. O cotidiano pulula de jubartes, madame, bestas
descomunais, agitando o rabo colossal na vossa fuça. Cochilou, escapole tudo: o
cachimbo, o suquinho de maracujá e camomila, o sonho de valsa, os carneiros e as cabras
pastando solenes no jardim. Zarpa o breve tempo, a saúde, o fim de tarde, a piada, a galhofa, o
pagode, a bolha de sabão, o céu azul e infinito. O amor maior, o tesouro da amizade. Não
consinto. Nunca mais, companheiro. Passe depois. Estou de cama, operada.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Palpite
Segunda-feira desobrigada de relógio, dessa doidice de bater
aquele ponto destrambelhado da escola, de alcançar a remota franja de umas fotocópias mais ou menos
mais para menos, rabisco precário que eu mesma produzi, quero prontinhas amanhã, devidamente fora do prazo de solicitação, professora, rarará, isso lá no raio que o parta, a reprografia habita depois de Marrakech, vou de táxi, cê sabe!, rarará, uma
simpatia louca esparramada pela longa estrada: jardim de dálias desabotoadas,
colorindo as pedras do caminho, rarará, gente do céu, as pessoas
desconhecem-se, a gente se estranha demais, uma bolinha de sabão, pairando no ralo
azul do nada mais vaporoso, pimba!, vira um evento, o acontecimento, rarará, um caso sério. Sobre privilégios, sobre
cuidado, sobre assistência ampla, geral e irrestrita à pançuda gravemente
enferma, meu julgamento é sucinto: quem não vê necessidade disso tudo, não
precisa mais participar, sequer uma reles figuração, cisco megadesimportante, não precisa
mais participar da minha vida bandida. Todo paparico é pouco. Cumpra-se. Vigia o remorso, camarada, rarará! Hoje é
feriado: não estou disposta, com licença, rarará. A madame nunca soube, a minha
pessoa nunca lhe disse, certeza: trabalhei numa escola que ficava na Rua Dália,
eu achava lindo o nome ‘dália’, descobri, na época, que a dália é uma flor
muito da linda, gostava de dar o endereço às pessoas, achava tão bacana ensinar
numa escola de idiomas à Rua Dália, nº180, vá entender como vinguei, rarará, me
criei assim, desse jeito abilolado, minha mãe vivia era repetindo: “você, minha
filha, coitada, só tem tamanho e besteira”.
Decidi experimentar um negócio bem diferente, rarará, fui
tomar um café, no Café do Xopcentis, a menina lá é muito minha amiga, a gente
conversa de cair o chapéu, uma graça. Pois, a leal leitora me acredite, foi
chegar no quiosque, Thaís encostar, olhão arregalado, esbaforida: “tava esperando
a senhora, tenho uma coisa para lhe contar, um minutinho!”, a moça despejou na lata,
agoniada. Parça, ela sonhou comigo. Sonho é uma novela, já tive tantos sonhos premonitórios. Thaís sonhou comigo. Nós duas na cidade, fazendo compras. Em
dado momento, voltávamos para o carro, carregando os pacotes, eu abria a porta
e, adivinha? Sonho ruim, mulher, sonho de acordar suando, desesperada. Eu abria
a porta e tomava um tiro no peito, um tiro fatal, caía dura, mortinha, presunto fresco, por
cima das sacolas. Bom é que me relaciono direitinho com as palavras, poucas
arestas, isso desde guducha pequena,
as palavras botam a cara no sol do meu terreiro, me espreitam, me acodem, oferecidas,
uma solidariedade, uma afinidade porreta com minhas ideias, meu sentimento. Dois dedos de prosa,
Thaís sossegou, coraçãozinho pacificado. Papo massa sobre a interpretação dos
sonhos, blá-blá-blá, tontas representações, Froide exprica, rarará, pregação para derrubar avião. Encurtando a história, a
pobrezinha dormiu pouco ontem, decerto, pensando na família, nas coleguinhas do
passado e do presente, buscando identificar qual papel eu desempenhei, qual substituição assumi, no
pesadelo. Menina, tu me escalasse para ocupar o lugar de quem, rarará? Quem tu gostaria que morresse, menina, rarará? Quem é essa alma que tu curte pacas, mas é um aperreio ter por perto, rarará? Pregação para
derrubar avião, Thaís caiu feito um patinho. A polimiosítica fodida, francamente, nem tanto.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Acidental
Menina, eu despertei madrugadinha, com as penosas,
acredita? A ideia era participar de um desses webinars do British Council, gostei que só do assunto, lance de
avaliação, tal e coisa, ando mesmo determinada a erradicar as provas
convencionais do meu cotidiano escolar, aliás, deveras honestly speaking, ando mais empenhada ainda em varrer a poeira do
cotidiano escolar para baixo do capacho da minha nada mole vida, rarará, penso
que minha contribuição nessa área foi pobre, porém limpinha, rarará, já deu,
cara, já deu, o tapetinho trapo e farrapo está mesmo de bom tamanho, quem
quiser, pegue daí, se vire nos seus trinta. Trintinha de sala de aula,
camarada, tudo errado, tão gostoso... Aconteceu que, de última hora, em cima do
laço, o povo lá cancelou, acredita? Adiado para amanhã o seminário, quando eu digo. Digo
nada. Observo. “Barco perdido, bem carregado!”, hein, Dona Rita? Tá dentro?
Deixe, rarará! Aproveitemos o ensejo para arejar o brogue embolorado.
A questão toda é a seguinte, malandro: envelheço. Do dedão ao cocuruto. A
dilatados passos, rarará. Consequentemente, dispenso pressa, agitação, aperreio,
compromissos inadiáveis: ninguém me cobre coisa alguma, não sou obrigada, nem
estou disposta, com licença. A madame
não assistiu à matéria do Fantástico, fez muito bem, a propósito. “Mulher 5.0”,
tá direito isso, Arnaldo? Vi porque Ronaldo vê essa bosta, que jeito? Posta em
sossego, rarará, no aconchego do nosso sagrado ninho de amor e desavença, rarará,
a minha pessoa lia, compenetradamente, falando franco, tirei a cara do meu
Rodrigues por causa de Fernandinha Torres, adoro Fernanda Torres, bicho, a
danada vai fechar as 50 primaveras agora em setembro, parece mentira, né não?
Pois, criatura, a pançuda aqui interrompeu a leitura no ato, na certeza do
revide aprumado, apostando o rim: a jovem senhora vai lavar, enxaguar, passar
ferro, pendurar nos cabides. Na lata! A cria de Fernandona, ora anciã sapatona, chega para
causar, tira onda, cara. Apareceu uma desmiolada cuspindo besteira, uma tal
Vera, fiquei cansada, esgotada, escutando a loura doida latir heresia, essa
Vera é o cão de camisolão, uma lançadeira: canta, dança, rema, surfa e sapateia,
salta de paraquedas. Desvario, insensatez, uma maluquice: fêmea-fenômeno,
copias? O queixo de Fernandinha foi bater no canto da parede, presenciando o
depoimento de Vera 'Vitalidade' virada na vespa: um vulcão em atividade, rarará. Em dado momento, ela
disparou: olha, gente! Não sou a mais indicada para fazer palestra
motivacional! É mais negócio convidarem Vera! Chamem Vera, rarará!!
Desesperador imaginar
que a gente pode envelhecer demais, envelhecer de todo, de empalidecer,
enrugar, entrevar. Caducar, a ponto de não se perceber humana, desconhecer,
ignorar completamente o afeto no olho de outra pessoa. A morte ali, de raspão,
errando o endereço, esquecida de despachar o pacote. Matusalém desencarna é atrasado:
“descansou!”, “descansei!”, quem sabe...? Por isso, simpatizo com a Doutrina –
o bonde da esperança – uma alucinação consoladora, cara. Cinquentar, pelo contrário, é o lado doce, o
que sinto, escrevo: cinquentar é a revista da alegria: cabeça, ombro, joelho e
pés reconciliados. Tivesse adivinhado, a pançuda autora do brogue prescindiria,
sem susto, da juventude transviada, tanto tormento desnecessário, sinceramente.
Os capricornianos nascem idosos, descompassados, portanto. A criança caprina é
velha, o adolescente caprino é velho, a respeito disso, a gorducha metida à
cronista discursa, com o mais profundo conhecimento. Engraçado que, da noite
pro dia, pimba!, a gente encontra a ponta do fio, começa a desatar os nós cegos,
a gente vai desenrolando o novelo, sem maiores dificuldades. Isso de lipo,
plástica, correr maratona, escalar montanha, nem se aflija, o divã e a tarja
preta dão conta do recado. Cinquentar é conviver com a presbiopia, enxergando
muito mais claro. A gente interpreta melhor a escassez, o excesso, o silêncio,
o ruído, a entrelinha. A gente tem graça, personalidade, estilo, enredo, vocabulário, gramática, autonomia, ousadia, perebas infinitas, colares de cicatrizes. Lastro, rarará. Resposta. Do tempo. Ao tempo. Na caixinha de costura, a gente conserva a resposta lapidada. Prata afiada. Convém não provocar. Alfinetinhos cuidadosamente guardados no veludo do estojo.
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