A senhora ouviu por aí que perdi o bonde e a esperança de
virar cronista juramentada: a melhor de todas as minhas historinhas
pé-quebrado, no breve piscar dos olhinhos míopes, pluft!, sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Fa-le-ceu, é mole? Intitulei-a Castelo de Areia, lembro-me bem, uma premonição, correto. Vamos
combinar, o cume da nuca da pessoa chega arrepia, até parece que eu estava
mesmo adivinhando. Historinha conceito A, nota máxima, o presente rabisco não
lhe amarra o cadarço.
Passei a vida inteira morrendo de vergonha de que me
vissem demais da conta: a estatura acrescida, a extravagância do corpinho, isso
somado às idiossincrasias do signo solar, tal e coisa, a senhorinha sabe como
é. Li, uma vez, num almanaque astrológico, que os capricornianos são constantes
nos propósitos, persistentes e obstinados. Entretanto, a cabra é um bicho sem
afetação, circunspecta a bichinha, reservada com farofa de dendê. As cabritas
do zodíaco são idênticas nesse particular, rarará, discretíssimas por natureza,
comedidas, as ‘eminências pardas’ da parada, ação e reação sob o sublime manto
da parcimônia e da prudência, esclareçamos. Dia desses, casualmente, folheando
uma inofensiva revista feminina, descobri, estupefata, que, em São Paulo, a
mulherada pode alugar bolsas caríssimas, dessas de cinco mil patacas para cima,
pela bagatela de cento e trinta e oito reais, e por apenas quarenta e oito horas! Um devaneio patético com data e hora para despertar! A mulherada dá lucro ao dono dessa banca, amiga! Mentira que essa necessidade
existe dentro de uma alma feminina! Mentira que uma beldade pretenda conquistar
algum respeito entre os meros mortais, mentira que uma formosa dama julgue manifestar valia, caráter, credibilidade, seus méritos e virtudes humanas, por meio de um anexo, um apetrecho de luxo que
nem lhe pertence! Gastei uns minutinhos brandos pensando nessa inominável besteira.
Em seguida, danei-me a escrevinhar, animada, virada na bala. Esbanjei tanto
talento, do qual, by the way, não
disponho, rarará, nas brilhantes considerações sobre a supervalorização da forma:
queixo, coxa, busto, bunda, trapinhos chiques e onerosos acessórios: a fugacidade
persuasiva, a transitoriedade turrona e caprichosa – essa opressão plástica comendo
o juízo menos consistente, esse consumismo torpe e irrefletido, deveras solene
e autoritário, cravejado de tamanha superficialidade... e contundência!, veja
bem, a fazer da pessoa gato de marca e sapatinho de grife, endividando-nos com
pedigree, degenerando-nos o bom senso e a consciência, corroendo-nos o nervo do
pudor e do embaraço. Ficou um negócio tão espetacular a minha finada historinha acerca do assunto, madame, ainda mais agora que inventei de aprofundar a incisão na densa
e diáfana (ninguém duvide!) epiderme da doutrina
espírita: o porto, a porta, o consolo
da humanidade. Mais alto o coqueiro,
maior é o tombo. Capricorniano que se preza, nem cogita exibir-se.
Aprendeu, pela dor, que não convém contar vantagens estéticas de qualquer
ordem, menos ainda no resvaladiço departamento de seleção da palavra, rarará. Mister
dispensar supérfluos artifícios.Vós sois
deuses, vós sois a luz do mundo. Tendes não. Sois. Um deslize e o pavão pançudo estufou,
gorducha insensata. Quando dei fé, pimba!,
tome-lhe o machado no lombo de Joana Gibão, rarará: dei com o biquinho no meio do
poste, o computador é um artefato cheio de personalidade e malícia, a memória é
um dispositivo traiçoeiro do cão, não resgatei, portanto, sequer uma sentençazinha solta, menos ordinária, mais ajeitadinha, acredita? Flutuei no ar como se fosse sólida, rarará, caí feito um
patinho, once again, no sítio do anonimato, as Esferas Superiores deceparam-me o texto anterior e as asinhas enxeridas. Ok, then. Rest in peace, sole sand castle
back on the ground! Aquilo que o Mestre não quer, gentil leitora,
nem peleje, jamais dará certo.