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sábado, 31 de agosto de 2013

Recado

As ilícitas alminhas sebosas do mundo, ‘não aceite imitação’, rarará!, as pecinhas hemorragia de sangue: ‘originais de fábrica’, rarará!, as pústulas perdoem-me a franqueza, perdoem-me os malignos, os ruins de carteirinha, bondade é fundamental. Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho. Enrouqueço de cantar o verso, trinta anos entoando a cantiga: da primeira vez, era a cidade, da segunda, o cais: a eternidade. Assobio por aí, estrada afora, a contagiante melodia - um pipoco, fala a verdade! – MÚSICA, o nome dela - olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça!, isso e aquilo, trinta anos para compreender o espírito da palavra. Better late, somente hoje, por volta das nove e meia da manhã. Antônio Brasileiro, a bênção. Wave, garota, se não quer dizer azul de Ipanema, deveria. Wave é céu e mar abertos, índigo assombro de beleza. Vamos ser aluados, desatentos, descansados do sentido da vida, a moçada aposto que sabe: minha cabecinha de vento reage lento, dispara sete dias depois do prazo, rarará, nem toda feiticeira é corcunda, idiotice com pedigree também acomete as professorinhas, meu camarada! Trinta anos para captar a mensagem do nobre guru passarinho Jobim, rarará! Vamos raciocinar no tranco, confere que ninguém é perfeito, a minha tabaquice, tabaquice é nordestinês, visse?, a minha tabaquice, entretanto, ultrapassa, do cognoscível, rarará, os improváveis limites.
Coisas que só o coração pode entender. Minha aluna do PROOOONA TEC TEC TEC, rarará, disse assim: se metade do planeta fosse como a senhora, teacher, o mundo ia ser diferente. Empavonei-me, obviululantemente, breve enguiço da consciência, não sou de compacto plástico tupperware, reconhece? A vaidade e os seus petulantes tentáculos. Vaidade é foda, produz filhotinhos feios, indesejados, vaidade é cogumelo de veneno. Outro dia, cometi a insensatez de perguntar a Ronaldo sobre minhas qualidades, o leitor avalie o nível da besteira, gente besta é a imagem do cão, reitero. Meu marido é um homem bom, razão por que seguimos devidamente casadíssimos, obrigada. O que mais gosto em você? Você é muito boa, ele disse. Boa. De comer com dez talheres, rarará! Boba de boa. Cada vez melhor, neguinho... Carrego no lombo um caminhão de tropeços, deformidades bastante graves, confesso. Defeitos dos quais, a cada vinte e quatro horas, me lembro, defeitos os quais prefiro acreditar que, nos dias pares, ao menos, esqueço. Bacana quando prevalece, ante os gentis olhos alheios, sobre camadas de lodo, a humilde flor da benevolência, da generosidade, boa atitude inspira mais que opinião, a gente sabe. Esse meu jeito de estar no mundo é herança, sobretudo. Meu povo é bom demais: calor - agasalho para o profundo isolamento da humanidade. Acolhe, ampara, envolve, enlaça, vincula, meu povo compadece-se do irmão, partilha a esteira e o pote, como nenhum outro, isso ninguém conteste. Oferece o aconchego de que necessita, é impossível ser feliz sozinho. Sou tiete do hemisfério de bondade das boas pessoas. Bondade pode brotar no deserto, tudo é o exercício. Tudo é o estímulo. Tente de novo. Da poça do umbigo para o quintal, do quintal  para a cidade, o cais do porto, o oceano, a eternidade. Meus alunos enxergam tanta angelitude na minha característica vaselina: a natural, ancestral maleabilidade. Tempo ao tempo, nada pode ser assim tão urgente. Nasci treinada para anciã, parece: antecipo, adio, anulo, reformulo as tarefas, do alicerce à cobertura, nem ligo, faço e refaço acordos sisudos, rarará, tratos de prego batido e ponta virada, vou com a maré, ao sabor das circunstâncias, avoluma-se o fã-clube da gorda maluca, agregando correligionários, angario importantes aliados, rarará, isso tudo é muito engraçado. Ocorre que a minha seara é um idioma forasteiro pairando acima da letra, da voz, de nós, verbo indiferente à raiz da nossa história, descuidado do nosso modesto paradeiro. Há quem escolha morrer sem tomar conhecimento da língua do patrão. Faz sentido, o que é que eu posso contra a vontade, contra a corrente do pálido desencanto? Quanto mais quero, mais aprendo. Acato, pois. Respeito. O patrão sorveu o néctar da canção brasileira e cuspiu um desmantelo de signos esquisitos que o artista grava sem entender uma vírgula, rarará, três vivas para o artista parado nas paradas de sucesso. Só que não.Tall and tan and young and lovely the girl from Ipanema goes walking and when she passes each one she passes goes ah… E pretendem que eu ache que ficou bom, rarará! The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together? Fuck off! Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ataúde

Os produtos da Pantene são para lá de Bagdá de bons, desacredite piamente do cabeleireiro de grife – no mais das vezes, o cara é aquela esquisitice no bojo das calças, androgênese inconclusiva com pedigree, a gente não encontra nexo nos trinta e sete sexos que o sujeito arregimenta para a cosmogonia de si mesmo, frango com tudo dentro da fisiologia tênue, quebradiça... e da cabecinha de vento, fosforescência magrinha de torar, rarará, criaturinhas tanto mirradas quanto espalhafatosas, cacatuas dando ideia, caleidoscópicas calopsitas: espécimes genuinamente psicodélicos os respeitáveis profissionais da chapa quente, fala sério, rarará, haja transformação, transmutação! Haja transcendência! Bicho doido é cabeleireiro, a senhora desacredite. Piamente. Meu cabeleireiro (e os que moram nele, rarará!) é supimpa - o melhor cabeleireiro do Rio de Janeiro em peso. Vive de ser do bem, de me fazer bonita e de comer meu juízo de paçoca com essa gosma de conversa de xampu importado, tome-lhe papa rala de papo, furado e pegajoso, o mingau de saliva grudando nos cachos da pessoa, uma meleca. O kit resgate da hora é alemão, salvo engano, coisa finíssima, garante revitalização imediata da cor das mechas, hidratação profunda, das camadas mais intrínsecas para fora, assim como da superfície desvalida para os recônditos do fio, nutrição da raiz às pontas duplas e triplas, completa regeneração, reforma íntima, rarará, “gente besta é a imagem do cão!”, do topo da juventude acumulada parideira e instruideira de todas as coisas, sabidinha de tudo, alive and kicking, asseverava a dona da banca: Dona Rita. Comigo não, violão! De Pantene é que eu vou sambar até cair no chão. Gente besta é a imagem do cão. A bênção, Dona Rita, minha saudosa mãezinha – meu oásis, a rainha do deserto!
O tambor de todos os ritmos marca da marcha a cadência: passa boi, passa boiada, no duro rufar do tempo. Time goes by, não dá para acontecer de outra maneira, perdão pela ríspida sentença. Os contumazes pesquisadores da Pantene, na tenra aurora de um pequeno dia, all of a sudden - pimba! - realized/realised (os ingleses expressam-se plenos, magnificamente, nesse particular, admitamos!), perceberam, assimilaram, apreenderam, absorveram, realizaram a mais pura verdade: o cabelo envelhece, a senhora já viu isso? Perna bamba e boca seca! Engoli não, engasguei, estupefata! Por muito menos lassos maços de dinheiro, madame, há dois mil e trezentos anos, desapegada que sempre fui, pela graça divina, desapegada de posses e distraída, rarará, desinteressada de patente, rarará, teria partilhado euzinha, com os pares e ímpares da fraterna comunidade científica, a invencionice, a esplêndida descoberta: o cabelo envelhece. Roça, rancor, rinoceronte, tatu, cachorro, calombo e cabelo, meu camarada! Nasceu? No que nasceu, envelhece. Decepe pela raiz. Do contrário, floresce num sorriso. E esvanece.
Atravessamos semanas aflitas, velando nosso amado ancião do reino de tão, tão distante. Nada de mau, nada de mais, “a vida é mesmo coisa muito frágil, uma bobagem, uma irrelevância” : trata-se do pobre cão debilitado desmaiando, ensaiando entregar os pontos, visivelmente esgotado de insistir na dolorosa caminhada. Em casa, carne tensa sobre a alma densa. Queremos ver. Só que não. Foda. À noite, as mãos, os olhos e os ouvidos proliferam: zelo sobre o pelo grisalho. A morte insone, em cima, diligente na tocaia. Morre-se muitas mortes antes do fim. De volta ao começo. O sentimento do mundo açoitando a gente no arfar do bicho. Quase dezessete anos, para um dachshund, é idade: um escândalo, uma extravagância. Portanto, transbordamento de caridade do bicho. Dos quase dezessete anos de Nicolau, os cinco últimos, Nicolau vai vivendo somente para doar-se, para me ensinar eternidade. Consinto na despedida porque aprendi a lição, nobilíssimo amigo. Segue em paz o teu destino de infinita luz. Dói quando respiro, apenas.Te amo.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Bingo

Lindo. Bruno caçoa. Duvida de seu trotinho manco atrevido, ousando riscar modesto o claro chão de estrelas sobre a extensa mesa da cantina: lauto banquete de palavras aquecidas. Bingo! Somente para variar o velho verso permanente – Bruno verso: inverso permanente –, Bruno mira o eixo da mosca, pimba!, acerta-lhe justo o meio da testa. Quem manda rabiscar medíocre, criatura abreviada? Bem feito. Houvesse tomado a rédea, domesticado a nossa vã literatura – cavalo brabo, bicho arisco cuspindo fogo pelas ventas - a criatura peitava o desafio, duvida? Apostava era do dobro o triplo, na zebra vento galopante. Menina, a criatura ruim de lábia sabe de cor tantos adjetivos anchos e surpreendentes: ver viés de preciosidade no bolar de Bruno é uma coisa que é mesmo uma coisa muitíssimo b(d)ela. 


Para Bruno, descaradamente, por suas ricas ideias.