Minha amiga, eu vou lhe mandar um papo reto: um elefante
incomoda muita gente, dois elefantes incomodam, incomodam muito mais! A pobre, ingênua
docente desavisada, meu nome e completo sobrenome, a senhora entende que sou
essa maria-mole abestada que para reabilitar não há um só remédio em toda a medicina, a maria-mole de crachá de
besta, a anta irrecuperável dá asa à cobra criada, depois é sem trégua essa
peleja, o danado do menino não dá um refresco, só quer ser o best friend, no divã da intimidade da
professorinha, mais por dentro que um talinho de macaxeira, da nada mole vida
da gente. Atendendo a inúmeros, insistentes pedidos, todos muito bem
representados pelo glorioso Felipe Santos, esse cara é você, meu querido, rá rá
rá, Felipe é um dos meus 27 leitores da atualidade, sendo que dou a ele essa
condição de mandar na minha crônica de fio a pavio, dou e arreganho (o
espectador assíduo, interativo, envolvido, tagarela, na fila de autógrafos, rá
rá rá, tem comigo todas as prioridades, digo logo!), concedo-lhe o direito somente
porque, se, nos carnavais acontecidos antigamente, a presente escrevinhadora
desconhecia o significado do complexo verbete fidelidade, ignorando outrora seu sabor de mel, seu cheiro de flores
orvalhadas (eita!), minha senhora, por causa de Felipe, preciso admitir, preciso
reconhecer, por causa de Felipe, hoje sei. Deus é fiel, mas Felipe, minha
senhora, na dedicação ao fuchique, Felipe
arregaça! Felipe e seus blue caps,
léguas de mim cometer a injustiça, rá rá rá, carregam no lombo, estrada afora, este
bloguinho sujo, torto e inconsequente, é mais ou menos por aí. Para vocês,
portanto, Lipe, Wel, Lulu, Luciana, Raquel, Fulano, Sicrano, Beltrana, Clara,
Ana e quem mais chegar, rá rá rá, abraços e beijinhos e carinhos, e a história
doida para se desenrolar. Bom passeio. Toca o bonde, macacada!
Perfil devidamente esculhambadamente concluído, voltei
para Recife, a cidade das minhas angústias e da minha brutal felicidade, a
minha eterna morada. A vida, conforme deduzimos, seguiu sim, sem susto, sem
grandes novidades. No primeiro dia de janeiro de 2008, no miolo do olho do
furacão de uma ressaca descomunal (a mardita quando não mata, faz um estrago,
ninguém se iluda, madame!), recordei-me daquela noite paulistana (baderna maiúscula,
sem fronteira!), me veio o codinome, a senha, bem direitinho, na cabeça,
acessei o par perfeito apenas para
ter raiva, para ler que as minhas belas mensagens, certamente enviadas pelos
mais nobres e cultos homens de bem do mundo inteiro, rá rá rá, haviam sido
terminantemente bloqueadas. Lu, no MSN, esclarecendo: “tia, nem adianta, muito tempo sem visitar o site, agora, minha linda, só
pagando!” Promoção de verão: seja cliente VIP por três meses! A bagatela de R$ 19,90! Paguei, a senhora me
acredite (qualquer um dispõe de três reles, inofensivos minutos para o elogio da loucura!), paguei
ressabiada, paguei no cartão, pelada de medo, paguei para me arrepender com
farofa. Das mais de cinquenta mensagens recebidas, um horror, uma coisa de nem
se comentar (haja gente burra, cafona e descomposturada, viu?), das mais de
cinquenta (dá pra tu???), nenhuma restara. Dias depois, depois da escola, estropiada
de cansaço, tarde que só, já de madrugada, notei, na minha caixa de entrada, um
e-mail meio diferente. Começava assim: encontramos
um perfil compatível com o seu. A grande vantagem de ser VIP então,
compreendi, era aquela! O sujeito VIP tira um cochilo na rede, rá rá rá,
enquanto a laboriosa equipe de cupidos desocupados cuida do serviço pesado, a
difícil busca da agulha decente, no amplo palheiro, aglomerado de desavergonhados. O tal
perfil? Ei-lo: NOME: Teleofilus. NATURALIDADE: Rio de Janeiro. IDADE: cinquenta
e uns. DESCRIÇÃO: nem jovem nem velho, nem alto nem baixo, nem gordo nem magro,
nem feio nem bonito, humano só, e demasiado. FRASE DE APRESENTAÇÃO: se a vida
insiste em te dar limão, meu camarada, faça uma boa limonada, com muito açúcar.
Sofri uma leve tontura, não convém mentir neste momento da mais pura verdade. O velho do Rio, rá rá
rá, usara as minhas mesmíssimas palavras!! Tínhamos idade e disponibilidade para
acolher, na palma da mão, cada deslumbramento que a mágica do acaso nos trouxesse, decerto, alguém
precisava estender o braço, foi dessa maneira que imaginei. Bebi um pouco, por cima da ressaca, mais duas ou
três taças do vinho tinto da coragem com a qual raríssimamente posso contar,
nesse quesito, especificamente, nunca fui uma vasta mulher, pelo contrário, assemelho-me
a um prato de papa, um balde de banha, um humílimo baguinho de jaca. Mais para
lá do que para cá, finalmente, acenei: um
olá despretensioso pela coincidência na referência ao limão, Teleofilus.
Com extraordinário senso de humor, a tão característica e apaixonante irreverência,
aquela graça toda, o riso fácil que desperta e adormece dentro dele, dia após
dia, Ronaldo respondeu: “olha que meu limão
dá bom caldo! Experimenta!”
Hoje estou com um pendor para confissões, como diria o
Mestre Braga, vontade de abrir meu peito em praça pública. Quem for pessoa discreta, e se aborrecer com derrames desses, tenha a
bondade de não continuar a ler isto, na próxima sexta-feira.
Para todos os corações apaixonados.