Banho tomado, corpanzil devidamente perfumado, que nunca
fui de renegar um sabonete cheiroso, uma água-de-colônia azul ou esverdeada, dessas
bem fresquinhas, melissa, chá verde, verbena, bergamota, jasmim, lavanda, flor
de laranjeira, huuuuummm... Nada supera uma chuveirada vigorosa no cume do quengo,
eita lá... A pessoa esfria um pouco o juízo fumaçando, borbulhante de dilemas
vários, atribulações de tudo quanto é fragrância, tudo fêmea dando cria, problema
é tudo fêmea no cio, afe, barriga livre para os filhotinhos se espalhando, uma
praga, vai-te! Cochilou, a ninhada ocupa os minguados espaços de razão e bom
senso, o sujeito fica doidinho, um caso sério. As charadas diárias são nível hard, cara, só digo isso. Uma novela
mudar de fase. Desci as escadas, muito da linda, um bibelô balofo trajado de
pijama de ursinho Puh, realiza aí, leitora, rarará: um mimo, uma delicadeza.
Dormi o sono dos justos, hoje à tarde. Aliás, bom conselho, de graça: durma,
minha senhora. Durma de esquecer. Dormir não soluciona porríssima nenhuma, está
certo, mas adia, rarará. Pode até resolver, a senhora sonhando com um palpite seguro
para o bicho, os números da megasena, quem sabe. Acordei desejando desesperadamente
um prato de papa, não se trata de gravidez a essa altura do baile,
asseguro-vos, passei da validade, rarará. Salivando por um mingau, acredita?
Mingau de maisena feito com leite em pó, gosto que me enrosco. A colher de pau
rodopiando na panela, a gente voa quando
começa a pensar... Na escola, isso em 1837, a esferográfica imprimia a
palavra 'maisena' com S, S de 'salvem-se
quem puderem-se', rarará, ortografia é mesmo uma paulada, toda hora uma
informação diferente, rarará. O que aprendi sobre modelar a inculta e bela, amores, veio da escola. Nenhum professor
universitário acrescentou uma vírgula, um acento sequer, pasme. Na única escola da minha
vida, tive grandes mestres. Três inesquecíveis professoras de Língua
Portuguesa: Tia Vera, Xênia e Maria José. Zezé, na época, já era uma mulher,
digamos, bastante madura, donde concluo: meus parcos conhecimentos ortográficos
prescreveram, rarará. Tudo igual a mim: ultrapassado, mofado, obsoleto. As
leituras feicibuquianas confirmam: perdi o bonde e a esperança. Na cozinha,
ainda agorinha, repeti um dos mantras zezesianos: atanazar, bocafuzar, fuzuê,
fuzaca e mozarca lembram algazarra. Escrevem-se com Z. Ela inventava uns
recursos mnemônicos extraordinários, quanta criatividade, uma lástima ter
descartado as primorosas apostilas, por outro lado, combinemos: papéis carecas,
desgastados. Não teriam resistido tanto tempo. Um jeito de fazer a moçada
decorar aquelas besteirinhas fundamentais, as consagradas configurações da
última flor do Lácio, caro colégua. Decoreba com pedigree. A gente decorava tanto, de todas as
maneiras. Do geral às particularidades. O trem grudava no cérebro, um esparadrapo. Foi assim, como um resto de sol no mar. Não se apaga. Basta
precisar, bicho. Ao menor apelo, a lição desponta, manifesta-se: uma
besteirinha iluminada. Atualmente, na sala de aula, a realidade é outra, o cabra desavisado que cair na esparrela de mandar um menino
memorizar um cabelinho de sapo, compa, estará inevitavelmente fodido, arrisca-se
a tomar um tiro no meio dos cornos, tamanha a defasagem com S, a brutal incompetência
do pobre docente. Modernidades. Muitos profissionais supimpas, arrojados, ousam trilhar o
caminho de volta, costurar as extremidades, passado e futuro enlaçados no
presente, uma coisa bacana. Avante. Prossigam. Aplaudo. De casa. Convém descansar, descalçar os sapatos. Deixarei um naco de saudade acanhada, sofrerei a
tortura da maior saudade, as frágeis fibras do peito, ai..., dilaceradas. Porém, devo confessar que sinto uma ponta de alívio, a dois
passos de abandonar o barco.
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