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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Na medida

Quem assiste ao Fantástico, aquele programa global baixo astral de fim de fim de semana, cuja musiquinha de abertura suscita umas duzentas dúzias de suicídio por domingo, o sujeito escuta os primeiros acordes e corta os pulsos, para não assistir ao raiar das primeiras más horas da segunda-feira, o dia da graça, da caça e do caçador, quem vê o programa, acompanhou a carreira desembestada, com os pés na bunda, de Renata e de Zeca, com mais de mil, atrás da medida certa. A minha medida é errada de nascença. Eu vejo Fantástico, vi o quadro de cabo a rabo, e cansei, só de ver o desenrolar dos acontecimentos, aquela doideira de estica e puxa e pedala e pinota e sobe e desce e haja folha e haja folha e haja folha e haja fumo. Uma fadiga na musculatura da carne e no oco do estambo do amigo telespectador, vamos combinar. Na minha modesta opinião, que ninguém pediu, mas eu dou assim mesmo, o espaço aqui é meu, veio ler porque quis, se não quiser mais ler, não leia, faça o que bem entende, bata a cara na porta até ficar torta, na minha modesta opinião, Zeca é uma gracinha com pedigree, assim, assado ou cozinhado, que carinha mais linda lá da mãe dele. Acho até que o gostosinho já ganhou um pesinho depois da tal maratona, quem diabos liga. Renata melhorou um tanto, admito, falta agora inventarem uma medida certa para modular  o volume e o timbre da voz da jovem senhora, alguém há de concordar comigo que o som entra rasgado, arranhando as paredes do tímpano, se você disser que ela desafina, amor, saiba que isso em mim provoca imensa... Empatia. Essa semana estreou o medidinha certa, uma iniciativa bacana, a gente que dá aula percebe como a moçada, nem menina nem mulher, nem homem nem menino, do dia para a noite, dana-se a engordar, é uma fase realmente difícil, os tempos são outros, “as grades do condomínio servem para trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão”, foi-se o que era bom, foi-se a brincadeira de rua, foi-se a rua, enfim, joga-se futebol virtual, come-se combo e está tudo muito certo, é o escrete canarinho Hipertensinhos da flor da idade F.C., que acabou de chegar.
Por falar em medida certa, as minhas medidas estão ótimas... De jogar fora. Explico. Faz uns quinze, vinte dias, minhas articulações começaram a incomodar demais, mais do que a minha resignação espiritualista toma que o jugo é teu pode suportar.  Eu estou sempre condor, rá rá rá, mas, recentemente, meus amigos e minhas amigas, o bicho que era de pegar, pegou. E estraçalhou. Quem desconhece a história, precisa saber que eu sofro de artrite e de artrose, tenho tanto pinçamento na cervical, a minha espinha dorsal não lembra em nada a espinha dorsal de um reles mortal, parece mais um paninho bordado com gosto, daqueles de enfeitar o miolo da tampa do fogão. No miolo da crise, desviando da prolixidade, é o seguinte: tirando as unha e as pestana, o resto é uma pustema só. “Moro numa cidade cheia de ritmo” com uma reumatologista dentro, uma apenas, na água e no sal, para se fazer um chá. Consulta é lá para meados de junho e olhe lá. Necessity is the mother of all invention. Na melhor hora da necessidade, inventei de me aconselhar com um terapeuta holístico. O sujeito pode não ser uma brastemp, mas bota a maior banca. Tem clínicas, no plural, no Rio de Janeiro, é o cão de camisolão, dizem. Vem estalar os osso do povo do interior, a cada quinze dias, se o paciente for troncho demais, o paciente vai uma semana para o Rio, ele vem para Cabo Frio na semana seguinte, um transtorno maior do mundo na vida do sujeito, vamos combinar. Se o assunto é medir, o assunto é com ele, o sujeito devia ser estilista, rá rá rá. Meia hora de consulta daquelas cobradas a peso de ouro, o sujeito já me apavorando com os numerais anotados. A revelação foi curta e grossa: absolutamente nada no meu lado esquerdo é do tamanho do seu correspondente, no direito. Cada diferença absurda, de cair o queixo. Basta a continha da clavícula, um bibelô: 15 cm de um lado, 18 cm do outro. Vai pras cabeça do concurso de Musa das Troncha ou não vai? Segundo o especialista, eu peso muito mais do lado esquerdo. De repente, tudo fez todo o sentido. Meu tornozelo esquerdo inchou numa manhã de abril de 2008, para nunca mais na vida desinchar, não houve nove novenas que dessem jeito nisso. Segundo o especialista, tem pedaço da ossada, que pode endireitar. O tratamento naturaterapêutico é longo e indecente de tão caro, agora só falta prestar. O primeiro passo é entrar de sola numa desintoxicação do demo, noventa intermináveis dias sem os prazeres da carne vermelha. Nada de picanha, maminha, chocolate, costela, salame, linguiça, chocolate, coração, bacon, presunto, ovo, queijos amarelos, chocolate, café, refrigerante, chocolate, abacate, amendoim, castanha, doce, chocolate, manteiga, batata, inhame, macaxeira e chocolate. Também não posso comer comida que saia de uma lata, é mole? Jantar até às 19 horas, depois disso, deu fome, é psicológico, chupe o dedo que passa, meu bem. Nos próximos quinze dias, iniciam-se as sessões de acupuntura, de sementinhas várias por dentro dos ouvido (um embrião de pomar?) e de um troço chamado quiropraxia. Já pesquisei, já pesquisei, tome aí: “Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Quiropraxia é uma profissão da saúde que lida com o diagnóstico, tratamento e a prevenção das desordens do sistema neuro-músculo-esquelético e dos efeitos destas desordens na saúde em geral. Há uma ênfase em técnicas manuais, incluindo o ajuste e/ou a manipulação articular, com um enfoque particular nas subluxações”. Noutras palavras, a quiropraxia é uma estalação de osso sem dó, nem piedade. Experimentei no pescoço, pensei que ia sair da cama direto pra cadeira de roda, dá uma aflição triste, tomara que valha a pena. A pessoa com dor chama periquito de meu louro, vende os cornos para o diabo, e parcelado, pode apostar. Eu nem pretendo desentortar de todo, ficar cem por cento, quem dera... Desejo, na medida do possível, voltar a sorrir, meu sorriso salva vidas. Ronaldão brinca que, se tivesse carregado a fita métrica para Recife, jamais teria contraído esse matrimônio. O matrimônio na medida certa para o nosso bem querer. Brinco que os tortinhos se atraem feito abelha pousada na flor, e vamos nós dois seguindo, carrapatados, do jeito que a vida quer. Sou sob medida pros carinhos teus, meu amigo. Se ajeite comigo, dê graças a Deus.

2 comentários:

  1. De cara nova o blog...e eu rindo horrores das suas dores...não foi por maldade...foi pensando nas minhas aqui tb...na estalação de coluna, pé, joelho...todo santo dia antes de sair da cama, que por sinal acontece a prestação, senão travo que não levanto mais !!! Mais uma ótima crônica. Bjo. Evelyn

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  2. Ronaldo disse: Como prometi no santo altar da Igreja N.S. do Bom Parto a Padre Roberto," Na pobreza e sempre ela, na saúde e na doença". Esqueça não, estamos juntos. A dor da gente é dor de menino acanhado, menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar. Que salta aos olhos igual a um gemido calado. A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar.

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