Meu irmão morou no Rio de Janeiro muitos anos. Aprendeu
toda safadeza, irresponsabilidade, imprudência e outras milongas mais, com o
‘descolado’ condutor carioca - cariocas
nascem bambas, cariocas nascem craques, cariocas não gostam de sinal fechado - apinhou todas as lições de malandragem no saco, arrastou o maldito acervo de
volta para casa; Ivomar, ao volante, parece pilotar um avião, minha cunhada, coitadinha, vive sobressaltada, à base de
calmante, queda-se paralisada ao lado dele, não é moleza a pessoa atravessar o
asfalto como quem, súbito, decola, expande as asas altaneiro, segue a toda,
vencendo o tempo e cortando o espaço. Sinto na pele a agonia, conheço o drama,
Ronaldo é um motorista talentoso, agílimo, muitíssimo experiente, tal e coisa,
mas apresenta o mesmíssimo arrogante cacoete dos demais compatriotas: por cima
de pau e pedra, Ronaldo precisa chegar antes do resto da humanidade, ponto
final do último parágrafo. Coisa de babaca, babaca de carteirinha. Jamais terei
condição intelectual e psicológica de assimilar tamanha babaquice. Meu
calhambeque, o glorioso Pelomeno, foi brutalmente atingido por um ônibus, isso
para as bandas de Niterói, não faz muito tempo. A traseira ficou um maracujá de
gaveta, a porrada foi violenta, procuro ainda compreender como e por que
sobrevivemos, sobretudo isso: por que sobrevivemos? Velocidade demais, audácia
demais para quem anseia do futuro algum presente. Penso que foi livramento, um
milagre de Seu Biu, certamente, Seu Biu, depois de morto, virou esse poderoso
anjo da guarda da gente. Ganhamos uma segunda chance. Seu Biu salva e
acabou-se, você que decida como tocar o bonde daí pra frente. Para não dizer
que não falei das flores, machuquei o joelho, uma bobagem, super
superficialmente. O motorista do ônibus também vinha apressado pra tirar a mãe
da forca, claro: ele é carioca, ele é carioca, basta o jeitinho de ele andar...
Meu primeiro veículo automotor foi o busão nosso de cada dia, rarará. Éramos
tão íntimos, que eu o considerava todinho meu, rarará. Estudei e trabalhei, anos
e anos a fio, montada num Gol: grande ônibus lotado. Meu segundo automóvel, rarará,
adquirido a custo, com o suor do meu emprego, chamava-se Silva, era um Palio
prata, bonitinho e possante, conservadérrimo, PRATA = SILVER = SILVA, rarará. Esse
Uno é, portanto, o meu terceiro carro, o primeiro zero quilômetro da minha vida de pobre,
rarará, daí o nome de batismo dele: Pelomeno = PELO MENOS, é zero, rarará. O
quarto é consequência da culpa, suspeito, um pedido de desculpa, um remorso salobro, um profundo
arrependimento, espero. Meu marido me comprou um Jac 3 novinho em folha, o
bicho vai sair da concessionária para a mão daquela que ora lhes relata o
acontecimento. Prego batido, ponta virada: esse vai se chamar Tequila, por
causa daquela música bacaninha do Skank: seu nome é Jackie Tequila, rarará. Escolhi o
nome principalmente pela assombrosa circunstância na qual ele cruzou o meu
caminho (um cálice, sal e limão, por gentileza, para ontem!!), para ser um membro da família, oxente! Aprenda uma lição, assíduo leitor da minha incondicional preferência: há coisas no correr dessa nada mole vida, que, para uma pernambucana naturalmente desacelerada suportar, só bebendo! Só bebendo!
kkkkkk O título foi o mais atrativo pra mim confesso. Boa parte dessa história eu já conheço, né? Enfim, fui ver que tal de Jac 3 é esse. Uau! Lindo o carro, amei demais. kkkkkkkk E esses cariocas... Ntsi, ntsi, ntsi. Por isso não quero dirigir, pra quem mal sabe diferenciar esquerda pra direita, dirigir é suicídio. hahaha Enfim, termino o meu comentário com uma frase diva/linda proferida pela autora dessa crônica envolvente. "Toda araruta tem seu dia de mingau."
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk o nome é muito apropriado pras circunstâncias! Dá-lhe Tequila!
ResponderExcluirEssa história me lembrou sabe o que? Aquele errinho de interpretação de alguém quando você nos contou essa história no finado ano letivo 2012/2013. Lembra que você disse que tinha "apanhado um ônibus" e entenderam que você tinha APANHADO NO ÔNIBUS?! Meu Deus só de lembrar já passo mal hein!
Eu tenho um medo precoce de direção, nunca vou dirigir, sinto isso no meu destino. Vou ter que ser podre de rico pra contratar um motorista pra mim. Logo eu, que tenho uma linda coordenação motora elogiada ao longo de toda minha vida por todos à minha volta (inclusive aquela professora da quinta série... lembra do elogio que ela me fez? Eu não conseguia cortar um pedaço de papel em linha reta e a insensível dispara na minha cara sem dó nem piedade: Menino, você não tem coordenação motora não?! Guardo esse momento no fundo do meu coração até hoje)vai ser difícil estacionar, frear, andar de ré então... pesadelo, só de saber que terei que pensar o contrário do que quero fazer pro carro poder andar nesse caso, dá um cala frio. Pelo bem dos brasileiros não vou dirigir tão cedo. O governo deveria me agradecer por essa abdicação, vai economizar muito no SUS.
Beijão Drica!
Como sempre...ótima! Adoro seu jeito de escrever, sempre dinâmica! bjs
ResponderExcluirMônica Athayde