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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Razão e sensibilidade

Nada de novo sob o acanhadíssimo sol de julho. Julho, de dia, tem vez que é assim mesmo: tudo esplendorosamente tinindo de lindo – luz de céu azul de brigadeiro... E um frio de torar, justamente no lugar da solda, ali na emenda, é de lascar o cano. Estourei o champanhe! Meu resfriado fez aniversário, falei? Um mimo! A galera discente que dispõe do privilégio da minha agradabilíssima tutela, rarará, da minha adorável, inoxidável companhia, portanto, na sala de aula e na rede, here, there and everywhere, rarará, não perde um capítulo, sequer, da lengalenga. A molecada aposta o que nem tem, acredita? “Coelho sai? Não sai! Se sair? Espirra! A professora vem! Vem? Acho que a professora não vem... Anteontem, veio? Veio só o fiapo, coitada! Ontem? Trabalhou pela metade, à noite, deu dó, foi de pior a pior, piorando, piorando, pobrezinha”... Depois de amanhã é domingo, e segunda-feira, ninguém sabe o que será, rarará! A galera discente sabe de mim..., rastreia os lances, lupas nas palminhas jovens, rosadas: tome-lhe febre, tome-lhe tosse, tome-lhe prostração, tome-lhe coice, tome-lhe pancada, e tome-lhe desvelo e carinho dessa gente miúda que vai muito longe, aposto. A galera discente pretende demais saber de mim, fato. Esmiúça, detalhadamente, os escanteios da novela. A galera discente, de sangue quente, demonstra bem o que sente. Pão é pão, faca é faca, xodó é xodó, chamego é chamego. Penso que ajuda conhecer, na vera, quem faz trincheira contra o cúmulo da sacanagem, da injustiça, enfileirado, empertigado, do mesmo lado indignado da gente. O futuro vai lhes aparar a crista, o topete. Tempo haverá. O futuro regula a medida, já aprendemos? Eu gosto. Eu e eles somos o que importa, é minha mentira? Eu gosto. Adoeço das vias respiratórias superiores e inferiores, isso em meados de maio, impreterivelmente, tiro e queda, batata. Adoeço tanto, logo eu, essa parede... Adoeço, igualmente a uma magricela desnutrida, um contra-senso. Adoeço de morrer, para recuperar mais ou menos mais para menos a sempre meio debilitada saúde, a propósito, quem mandou ser gorda? Qual é o gordo que esbanja saúde, minha senhora, rarará? Uma bela hora, ao cair da tarde, pimba!, melhoro, certamente. Melhoro, ah, melhoro muito. Depois da manhã seguinte a da proclamação da Independência, o pronto restabelecimento acontecendo em concomitância com a primavera, de sete de setembro em diante, favas contadas. Até lá, trapo, farrapo humano. Não existe reza liquidificada com vitamina C, cara leitora, que minimize a tristeza, a indigência. Mezinha, melzinho, própolis, gengibre, bolinha multicolorida, injeção, nebulização, pastilha, chazinho descongestionante, vick pirena, lambedor de pequi??? Venha o raio que o parta, madame! Os abnegados cientistas escavam grossas camadas de deserto, os pesquisadores pesquisam de vergar a espinhela, sagazes, freneticamente, ninguém, até o presente, vislumbrou o gorro da cabeça do fio do novelo: o tratamento! O tratamento são os ares e os mares de Recife: a cura para a minha vigorosa, inquebrantável otorrinobroncofaringolaringosinusite alérgica e renitente.
Caçula é foda, uma categoria de gente exacerbada de pantim, de salamaleque, reclamando prioridades, afagos, descabidas regalias. Gente cheia de pra que tanto é caçula, verdade seja dita. Sou caçulíssima, assumo. Pueril, piegas, sentimentalóide - uma paçoca besta no meio do mundo. Quando minha mãe raspou o tacho, a irmã encostada na minha pessoa, moça de tudo, vivia era solta de canga e corda, namorando no portão e no olho da rua, já dava era beijo na boca, o cabra chegando junto, amolegando, rarará... Noutras palavras, nasci e me criei paparicada, dengo e laços de fita: sou frágil, handle with care, maneje com cuidado. Tonta e tola, magoável, um melindre, sentida feito carne de porco, demasiadamente delicada: caçula. Vai ver, vem daí a avaria, o gravíssimo defeito, insuperável: humanidade nas entranhas. A lei, pra mim, serve é pra servir, pra eu ver se presta. Uma disposição natural para obedecer, para desobedecer, principalmente, sem trauma, na cara dura, desde que tal conduta me pareça ajuizada, apropriada para o próximo, simpática e gentil. Gentil e sensata. Desata o nó? Contribui? Facilita? Faz sentido? Salva a pátria encurralada? Faço. Birra de caçula. Vá queixar-se para o bispo, neném, porque eu faço. Deus me deu humanidade para suplantar, da estrada alheia, o austero não desajustado, que está na lei, mas não lhe cabe. Não se aplica, não procede, não convém, um solto som que não lhe cabe. Isso não é para qualquer um, concordemos. Pois vejo, no fundo do poço do olho d'água do sujeito, que aquele não, definitivamente, está no mais íntimo da lei, mas não lhe coube, nem por sonho!, bradaria Dona Rita! PP? Tamanho errado! É um não que não lhe cabe. Complicar me dói na clavícula. Coração dói? Pronto. Simplificar a vida é rumar reto para o amor, meu aluno sabe. Favorece-me o doce aroma do abraço ilimitado - gesto imensamente fácil -, a geleia das palavras tenras, mansas, aveludadas, o ouvido atento para alcançar a outra banda da cidade, do minuciosamente exposto ao providencialmente velado, tenho ouvidos de tuberculoso, ouvidos e cabeça, cabeça que precisa desempenhar mais funções, suponho, além dessa aí: separar os suntuosos brincos, das orelhas tapadas. Abuso do talento para a graça, para o riso desavergonhado, nada é tão importante... Recorro a ela: minha natureza. Informal, inteligível, rasa, espontânea. Extirpem-me o fígado, conservem-me a rudimentar simplicidade. Esse bem-querer estrábico, abobalhado, difuso, indistinto, essa preferência absoluta pelas coisinhas profundas: os abismos da pessoa - a pessoa, sobretudo, sobre tudo. Essa ternura tão antiga, o desencanto de esperar... Meu trabalho é urgência urgentíssima... sobre tudo. Espero não. Faço. Dura lex, sed látex, Sabino. A lei é dura, mas estica. Conforme o apelo da razão e da sensibilidade. Há que prevalecer a razão da sensibilidade. Sensibilizemo-nos, meus queridos, com os ásperos imprevistos da caminhada. Sistema cai? Não cai! Se cair? Caça com gato, porra! Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima! Cada criatura, dentro daquela instituição de ensino, pesquisa, dedobol e outras mumunhas, cada peregrino, cada viajante, vale mais que regulamentos vários, normas de cachorro grande e pequeno, abrigadas sob seus rijos, impassíveis blocos de concreto. Acumulo vinte e oito anos de magistério quase sério, dos quais, quase vinte, mano, de casa. Serviço público: cafezinho acondicionado e envelhecido em solenes barris de carvalho, longa trajetória de incansável labuta pública, comendo pastel de giz adoidado, "espicha a corda, dá teu jeito, otária!", Maria Vaselina!, para melhor servi-los. Poeira suficiente para diferenciar o legal do abusivo, o solitário do solidário, o bacana do chato de galocha, o entrave operacional circunstancialmente justificado... da conversa para ninar o boi, pior!, da picuinha deliberada. Diferencio a fiação desencapada... das humanas artérias. Calibrosas. De tanto sapo. Nós somos maiores que a miríade de Institutos Federais desta nação desgovernada, vivo de lembrar quem parece insistir em esquecer-se. Eu e eles (meus meninos...) somos o que importa. Morro antes de admitir que tem de ser de outra maneira.

3 comentários:

  1. Eu concordo com cada vírgula e respaldo todos os fatos aí contados. O que existe de sobra lá e desinformação e desentendimento (em todas as interpretações semânticas possíveis!).

    Também sou filho caçula, três anos mais novo, admito que sou mimado sim e que amo isso hahahaha. De vez em quando até brinco com a minha mãe dizendo que ela ama mais a minha irmã, mas ela sabe que é tudo mentira.

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    1. Tu sabe de uma coisa, Felipe? Tem hora que eu sinto que desembestei, na carreira, kkkkkkkkkkkkkkkkkkk, dormi menina, acordei velha, kkkkkkkkkkkkkk, pulei essa fase da conquista da maturidade pra lidar com certos assuntos... A felicidade é o magote de psicanalista no meio do mundo, kkkkkkkkkkkkk, ajudando a gente a fazer os devidos 'ajustes', kkkkkkkkkkkkk... Beijos.

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  2. Adriana, obrigada pela dica de leitura! Obrigada pela sua razão e, principalmente, pela sua sensibilidade. Diferenciar a fiação desencapada das artérias humanas é para poucos, cada vez menos... Realmente, tem "não" que não é pra gente!
    Beijo enorme!!!
    Patrícia Corado

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