Pesquisar este blog

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pedra de toque

Ando pela tampa com esse papo de cura gay, sabiam? Que Mané estudo e acompanhamento do “fenômeno” coisíssima nenhuma! Como assim? Rato de laboratório em processo de recondicionamento ao comportamento sexual saudável? O contribuinte nasce para aprender a ampliar a sua capacidade de dar e de receber amor, por cima de pau e seixo. Revoguem-se as disposições em contrário. Rapaz, João Campos e Marco Feliciano, essas duas aberrações sob forma de carne, osso, ignorância, prepotência, cinismo, sarcasmo, altíssimo índice de desumanidade e espiritodeporquice, não me representam. Nem aqui, nem na China capitalista. Amanheci assim, descompensada, essa história de respeito à criatura, latejando nas entranhas, pinicando as frenéticas fibras do meu miolo mole. A diferença entre Marco Feliciano e a minha humilde pessoa reside na irrefutável circunstância de que eu não mando nem no meu cachorro boiola, não sou presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias dos filhos da pátria amada, para regozijo aliviado da civilização moderna local e internacional, rarará, segura a onda dessa doida de pedra... Ah, me lembrei de um detalhezinho: gosto de ser humana. Ser humana, meu bravo brado de alegria. Porque eu não sou presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, minha modesta interferência, na mente e no coração da sociedade brasileira, é um cisco, um cabelinho de sapo, absolutamente inofensiva, razão por que perambulo alhures, insignificantemente, apesar do considerável volume, rarará, vou pousando a alma penada e o corpanzil desengonçado, ali e acolá, sem que me concedam um vintém de cortesia ou crédito, não amealho um centavo para o chá das cinco, sigo propalando, aos quatro cantos do vasto mundo, para passar o meu e os outros tempos (o relógio lento dos meus simpáticos 34 leitores entediados), ‘haja desocupação, macacada!, olha a louça suja dando cria na pia da cozinha!’, rarará, veiculo abobrinhas diversas, devidamente desconexas e destrambelhadas, conversinhas miúdas de mim para comigo, entabuladas com os botões da blusa gasta, rarará, atuo mesmo é na imensidão do anonimato desse quadradinho branco rindo-se todo da minha inominável besteira, rarará, atuo muitíssimo mais restritamente que o honorável pastor, o senhor dos anéis de Saturno, o enviado, rarará – o cara-pálida que gerencia o torto e o direito dos homens da nação, uma barbaridade, obviululantemente.
A condição de mulher da vida me confere direitos inalienáveis, penso. Não passo de pobre mulher dessa vida bandida vinda antes das montanhas e dos bichos, bichos os quais, a propósito, curtem esse lance de relação com o mesmo sexo, faz priscas eras, rarará, idem para os pacatos cidadãos e as moçoilas de bem, vida, louca vida, vida breve, o fato é que sou, desde as mais remotas primaveras, passado imemorial com pedigree, quando não havia planeta, não havia tiranossauro, nem pé, nem pata, muito menos parafuso, quando a vaca não mugia porque a vaca não existia, rarará, aconteceu, na raiz da vida, um dia, madame, no qual a vaca mocha não existia, fique a senhora muito ciente disso, minha senhora, pense! Sou. Ad infinitum, sou. Penso muito a respeito, aliás, adoro essa palavra respeito..., penso muito a respeito da obscuridade do já decorrido e ultrapassado – o eloquente silêncio das origens... Também penso uma baba no cu de boi do presente... Penso, sobretudo, no soberano futuro encapuzado, logo à frente, a irrefreável caminhada rumo ao reticente, o prosseguir, que, incontestavelmente, gera e encerra a vaporosa partícula de tudo. Tenho refletido muito sobre o berço, o túmulo, sobre a finalidade de tudo, provavelmente por causa dessa deficiência estrogênica que me compele a sofrer de envelhecência precoce, ainda nem fechei a casinha dos cinquenta, imagine, sinto-me, porém, definhar, precipitada, peremptoriamente, as petalazinhas dos braços e da face murchando, morrer é certo como dois mais dois somam quatro, predileto leitor amigo, rarará, é abrir os olhinhos míopes e enxergar bem direitinho o inexorável, uma bela hora dessas, Pluft, o fantasminha! Vou lhe dar um toque de recolher, de reconsiderar, de reavaliar o quilate da atitude equivocada, amantíssimo, perante o nobre semelhante: morre-se, ninguém duvide. Morre-se, impreterivelmente. Morre-se inteira, do cocuruto à ponta, morre-se, indefinidamente. Conservo intacta minha profunda fé no Deus da temperança, da generosidade delicada, da aliança, da inserção e da liberalidade: meu céu, meu íntimo, o microcosmo da minha matéria. Não me resta outra alternativa de conforto e de consolo, ante a agonia da solidão da gente, senão a certeza absoluta do provisório fracionamento. Fui e serei sempre 100 % Deus do amor absoluto, nós dois tubarão e rêmora: comensalismo, ninguém se fere: paz na igualdade. Sou, de Deus, agora, o encardido da unha poída, trata-se de uma pequena, transitória fase, uva passa, tudo passa, é desse jeito. Retornarei, portanto, ao Seu luminoso colo acolchoado, como se retorna ao mar do ventre, na manhã nascente, para a fusão prometida: refulgiremos, plenos – os maus, os malas, os bons, os mais ou menos, os hipócritas, os mesquinhos, as pererecas, as lagartixas e Deus. Deus, eu e os demais heterossexuais, os homossexuais discretíssimos, as bichas más histéricas e espalhafatosas, os bi, os tri, os trans e os tetra, as Genis preferindo amar com os bichos, bonitinhas... – a pipoca! O imenso bloco sem cordão de isolamento, o insano bloco repleto de razão, rarará, versátil, eclético, o elasticíssimo bloco flex dos terráqueos atarantados, bloco decantado, melhorando, melhorado, depurado de ir e vir, avançar, eternamente, esgarçado para o acolhimento dos camaradas alienígenas, inclusive, rarará – a agremiação carnavalesca Essa porra vai na marra, no palco da praça, evoé!, arrebentando os grilhões dos tornozelos, dos joelhos e dos tímpanos: a mesmíssima sublime, solene e límpida energia contagiante, faça-se a luz!, rubra estrela incandescente! Como sempre, desde sempre. Todas as ciências juntas, mais as culturas e as contraculturas, a Portela e a Tradição, o agnosticismo fanático, o ateísmo partidário, a indiferença, a hostilidade, a devoção desatenta, o fundamentalismo torpe, a fé cega, o egoísmo, o ódio mortal, a faca amolada, os totens, os tabus, os seres, os dizeres, as peras e o nada, tudo alcança Deus: ao sanatório geral cabe progredir e prosperar, meu dengo. Aos trancos e barrancos, evolucionemos, integradores, aglutinantes. Amar é mandamento. Beijemos as saias rodadas e rendadas, cravejadas de arco-íris, do supremo, esfíngico Mestre. Seu dever e destino é estender a mão, irmão. Natural, incondicionalmente.

5 comentários:

  1. Essa crônica veio em boa hora. Se segura aí na cadeira... Deputado Russo propõe o açoitamento público de homossexuais. É inacreditável né? Também não acreditei quando li, pesquise aí que você acha! E nós aqui reclamando de Feliciano e companhia... Drica, eu já falei tanto sobre essa tal "cura gay" e fundamentalismo religioso que o povo lá da minha turma já nem me aguenta mais haha. Procuro aliviar nas palavras, sei que tem uma galera grande lá na sala muitíssimo apegada a questões religiosas extremamente discutíveis, mas não dá, eu sinto que o povo vira a cara. Eu nem ligo, Jesus veio pros humilhados, pras minorias, pros rejeitados, se quero imitá-lo então que vou fazer direito. Me exalto realmente falando sobre esse tema, tenho argumentos científicos e o outro lado da discussão tem a "fé", aí o negócio complica. Não que eu não a tenha, só que existe uma grande diferença na fé que eu expresso e sinto (baseada numa interpretação contemporânea dos ensinamentos) e a fé conservadora que predomina. Contra a ciência não há argumentos mas o povo insiste em bater o pé e dizer o contrário lá (uma fofoquinha aqui no pé do ouvido: tem gente em hosp II que é criacionista em pleno século XXI, olha Darwin se estivesse vivo morreria! Me pergunto o que passa pela cabeça dessas pessoas, elas aprendem evolução como se fosse uma fábula??). Fazer o que né? Como já disse eu não ligo. Meu catolicismo é torto? Nossa, e como é! E ainda bem que é!

    ResponderExcluir
  2. Maravilhosa, como sempre!! Querem curar tudo, até a alma!! O mundo já foi mais leve, principalmente na época dos romanos.
    Bjs

    ResponderExcluir
  3. Muito boa,tia!
    Temos que botar a boca no trombone mesmo.
    Eu estou besta com essa notícia que Felipe encontrou sobre o açoitamento público de homossexuais!!
    Beijo
    Manu

    ResponderExcluir