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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Canto de esperar

O que é que a gente não faz por amor, doce e meiga senhorinha saudosa dos meus relatos chinfrins assim, assaz desarranjados... Atendendo a insistentes pedidos professos e hesitantes, rarará, declaro aberta a nova temporada de caça à tenra ninhada de coelhinhos pintados da cor do verão, todos devidamente entocados na surradérrima cartola da escrevinhadeira, parede e fundo once again recauchutados, agora cobertos de orvalhadas folhas frescas. Próspero Ano Novo, meu fuchique amado, idolatrado, salve! Próspero Ano Novo, fidelíssimo companheiro de tão profundos cortes, abismos minando banalidades! Pois fiz foi colorir de verde os láparos mirrados, pobrezinhos..., no mesmíssimo tom esmeralda dos extravagantes sapatos, dos boás de plumas, do batom, das lentes do pincenê, do meu chapéu de três pontas... Em 2014, como do fino ar que respiro, necessito do obséquio da dancing queen only seventeen: a esperança! You can jive! Have the time of your life, jovem rainha drag e louca! On the spotlight, quebra tudo na solidão dessa pista!
Aposto que a leitora lembrou-se imediatamente do Quintana, aquele lance sensacional da maluquete atirando-se do décimo segundo andar do edifício, encontrada miraculosamente incólume na calçada, tal e coisa, acho lindo o poema do Quintana, apesar de que ando meio enjoada dele, o poema. Quintana é foda de bom, falo a verdade, cê sabe. Nos últimos, sei lá, dez, quinze anos, vira e mexe, um sujeito, sem dúvida muito ocupado fazendo dinheiro e dívida, sem tempo para um café da tarde mais os olhinhos míopes pousados num livro novo, o sujeito vai e copia os providenciais versinhos clorofilados, cola na minha, rarará, acrescenta uma meia dúzia de ocos votos de amor e paz e está feito o serviço. Perdi a conta dos dezembros em que Maria Doida de Pedra saltou superficialíssima, sem um dedo de alma, para o asfalto da sala da minha casa. Comigo não, violão. Por mais crucial, inevitável a frase requentada, sou da patota que embasbaca com farofa é quando o sujeito apresenta um samba inédito, de sua própria lavra, ou então, tão seu no miolo do sentimento, feito se fosse. Tem a música jurássica do Roberto, a madame ouviu? Uma cafonice. Confesso minha dificuldade em escutar Roberto Carlos, ando meio enfastiada do rei do Brasil, no dia que eu mentir, cê sabe. A sorte da gente é que o povo gosta tanto de gravar Roberto Carlos, que dá para encarar o melaço, a cocadinha enfarosa, desde que na voz dos outros. Marisa Monte, por exemplo, esculacha, vibra todas as fibras do meu velho peito de algodão de aço, se dá de cantar a cafonice do cara. Sente o céu, repara o mar, esse é o luar que eu quero ver no teu olhar... Eu te amo tanto, que teu pranto fez-se canto pra mim... Sorria, por favor, tenha esperança. Céu, mar, luar, "eu te amo tanto": singela prece. Sorria, por favor, tenha esperança. A leitora se pergunta por que o assunto descambou para o papo firme dessa lâmina afiada. Melhor desconversar. Silêncio, do talho à sutura. A cicatriz risonha há de contar detalhes do final bem feliz, da minha história bastante triste.

Um comentário:

  1. Que tal um "poeminha do contra" pras pedras no caminho em 2014?

    "Todos estes que aí estão
    Atravancando o meu caminho,
    Eles passarão.
    Eu passarinho!"
    -Mario Quintana

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