O
que é que a gente não faz por amor, doce e meiga senhorinha
saudosa dos meus relatos chinfrins assim, assaz desarranjados... Atendendo a insistentes
pedidos professos e hesitantes, rarará, declaro aberta a nova temporada de caça
à tenra ninhada de coelhinhos pintados da cor do verão, todos devidamente entocados
na surradérrima cartola da escrevinhadeira, parede e fundo once again recauchutados, agora cobertos de orvalhadas folhas
frescas. Próspero Ano Novo, meu fuchique amado,
idolatrado, salve! Próspero Ano Novo, fidelíssimo companheiro de tão profundos cortes, abismos minando banalidades! Pois fiz foi colorir de verde os láparos mirrados, pobrezinhos...,
no mesmíssimo tom esmeralda dos extravagantes sapatos, dos boás de plumas, do batom, das
lentes do pincenê, do meu chapéu de três pontas... Em 2014, como do fino ar que
respiro, necessito do obséquio da dancing
queen only seventeen: a
esperança! You can jive! Have the time
of your life, jovem rainha drag e louca! On the spotlight, quebra tudo na solidão dessa
pista!
Aposto que a leitora lembrou-se imediatamente do Quintana,
aquele lance sensacional da maluquete atirando-se do décimo segundo andar do edifício, encontrada miraculosamente incólume na
calçada, tal e coisa, acho lindo o poema do Quintana, apesar de que ando
meio enjoada dele, o poema. Quintana é foda de bom, falo a verdade, cê sabe. Nos últimos, sei lá, dez, quinze
anos, vira e mexe, um sujeito, sem dúvida muito ocupado fazendo dinheiro e
dívida, sem tempo para um café da tarde mais os olhinhos míopes pousados num
livro novo, o sujeito vai e copia os providenciais versinhos clorofilados, cola na minha, rarará, acrescenta
uma meia dúzia de ocos votos de amor e paz e está feito o serviço. Perdi a
conta dos dezembros em que Maria Doida de Pedra saltou superficialíssima, sem um dedo de alma, para o asfalto da sala
da minha casa. Comigo não, violão. Por mais crucial, inevitável a frase requentada,
sou da patota que embasbaca com farofa é quando o sujeito apresenta um samba
inédito, de sua própria lavra, ou então, tão seu no miolo do sentimento, feito
se fosse. Tem a música jurássica do Roberto, a madame ouviu? Uma cafonice. Confesso minha dificuldade
em escutar Roberto Carlos, ando meio enfastiada do rei do Brasil, no dia que eu
mentir, cê sabe. A sorte da gente é que o povo gosta tanto de gravar Roberto Carlos, que
dá para encarar o melaço, a cocadinha enfarosa, desde que na voz dos outros.
Marisa Monte, por exemplo, esculacha, vibra todas as fibras do meu velho peito
de algodão de aço, se dá de cantar a cafonice do cara. Sente
o céu, repara o mar, esse é o luar que eu quero ver no teu olhar... Eu te amo
tanto, que teu pranto fez-se canto pra mim... Sorria, por favor, tenha
esperança. Céu, mar, luar, "eu te amo tanto": singela prece. Sorria, por favor, tenha esperança. A leitora se pergunta por que o assunto descambou para o papo firme dessa lâmina afiada. Melhor
desconversar. Silêncio, do talho à sutura. A cicatriz risonha há de contar detalhes do final bem feliz, da minha história bastante triste.
Que tal um "poeminha do contra" pras pedras no caminho em 2014?
ResponderExcluir"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"
-Mario Quintana