Menina, eu despertei madrugadinha, com as penosas,
acredita? A ideia era participar de um desses webinars do British Council, gostei que só do assunto, lance de
avaliação, tal e coisa, ando mesmo determinada a erradicar as provas
convencionais do meu cotidiano escolar, aliás, deveras honestly speaking, ando mais empenhada ainda em varrer a poeira do
cotidiano escolar para baixo do capacho da minha nada mole vida, rarará, penso
que minha contribuição nessa área foi pobre, porém limpinha, rarará, já deu,
cara, já deu, o tapetinho trapo e farrapo está mesmo de bom tamanho, quem
quiser, pegue daí, se vire nos seus trinta. Trintinha de sala de aula,
camarada, tudo errado, tão gostoso... Aconteceu que, de última hora, em cima do
laço, o povo lá cancelou, acredita? Adiado para amanhã o seminário, quando eu digo. Digo
nada. Observo. “Barco perdido, bem carregado!”, hein, Dona Rita? Tá dentro?
Deixe, rarará! Aproveitemos o ensejo para arejar o brogue embolorado.
A questão toda é a seguinte, malandro: envelheço. Do dedão ao cocuruto. A
dilatados passos, rarará. Consequentemente, dispenso pressa, agitação, aperreio,
compromissos inadiáveis: ninguém me cobre coisa alguma, não sou obrigada, nem
estou disposta, com licença. A madame
não assistiu à matéria do Fantástico, fez muito bem, a propósito. “Mulher 5.0”,
tá direito isso, Arnaldo? Vi porque Ronaldo vê essa bosta, que jeito? Posta em
sossego, rarará, no aconchego do nosso sagrado ninho de amor e desavença, rarará,
a minha pessoa lia, compenetradamente, falando franco, tirei a cara do meu
Rodrigues por causa de Fernandinha Torres, adoro Fernanda Torres, bicho, a
danada vai fechar as 50 primaveras agora em setembro, parece mentira, né não?
Pois, criatura, a pançuda aqui interrompeu a leitura no ato, na certeza do
revide aprumado, apostando o rim: a jovem senhora vai lavar, enxaguar, passar
ferro, pendurar nos cabides. Na lata! A cria de Fernandona, ora anciã sapatona, chega para
causar, tira onda, cara. Apareceu uma desmiolada cuspindo besteira, uma tal
Vera, fiquei cansada, esgotada, escutando a loura doida latir heresia, essa
Vera é o cão de camisolão, uma lançadeira: canta, dança, rema, surfa e sapateia,
salta de paraquedas. Desvario, insensatez, uma maluquice: fêmea-fenômeno,
copias? O queixo de Fernandinha foi bater no canto da parede, presenciando o
depoimento de Vera 'Vitalidade' virada na vespa: um vulcão em atividade, rarará. Em dado momento, ela
disparou: olha, gente! Não sou a mais indicada para fazer palestra
motivacional! É mais negócio convidarem Vera! Chamem Vera, rarará!!
Desesperador imaginar
que a gente pode envelhecer demais, envelhecer de todo, de empalidecer,
enrugar, entrevar. Caducar, a ponto de não se perceber humana, desconhecer,
ignorar completamente o afeto no olho de outra pessoa. A morte ali, de raspão,
errando o endereço, esquecida de despachar o pacote. Matusalém desencarna é atrasado:
“descansou!”, “descansei!”, quem sabe...? Por isso, simpatizo com a Doutrina –
o bonde da esperança – uma alucinação consoladora, cara. Cinquentar, pelo contrário, é o lado doce, o
que sinto, escrevo: cinquentar é a revista da alegria: cabeça, ombro, joelho e
pés reconciliados. Tivesse adivinhado, a pançuda autora do brogue prescindiria,
sem susto, da juventude transviada, tanto tormento desnecessário, sinceramente.
Os capricornianos nascem idosos, descompassados, portanto. A criança caprina é
velha, o adolescente caprino é velho, a respeito disso, a gorducha metida à
cronista discursa, com o mais profundo conhecimento. Engraçado que, da noite
pro dia, pimba!, a gente encontra a ponta do fio, começa a desatar os nós cegos,
a gente vai desenrolando o novelo, sem maiores dificuldades. Isso de lipo,
plástica, correr maratona, escalar montanha, nem se aflija, o divã e a tarja
preta dão conta do recado. Cinquentar é conviver com a presbiopia, enxergando
muito mais claro. A gente interpreta melhor a escassez, o excesso, o silêncio,
o ruído, a entrelinha. A gente tem graça, personalidade, estilo, enredo, vocabulário, gramática, autonomia, ousadia, perebas infinitas, colares de cicatrizes. Lastro, rarará. Resposta. Do tempo. Ao tempo. Na caixinha de costura, a gente conserva a resposta lapidada. Prata afiada. Convém não provocar. Alfinetinhos cuidadosamente guardados no veludo do estojo.
Discordo que sua contribuição foi pequena em sala de aula.
ResponderExcluirBom professor não se mede pelo Lattes! As antas com doutorados moram ao lado e se multiplicam aos milhares. Falta tato, atenção, falta - antes de tudo - muita humanidade. É preciso ser humano antes de tudo e isso não consta nos currículos da graduação ;)
'Lattes' mais alto, kkkkkkkkkkkk... Felipe, meu caro, você é nobre. Inoxidável. :)
Excluirpresbiopia... espero que não me alcance aos 5.0, rsrsrs, quem sabe aos 9.0, e daí eu possa recebê-la de olhos bem abertos e dizer que dessa vida, tudo vi, li e aprendi. Daí depois disso, só me restará relembrar com muito, o gosto da juventude.
ResponderExcluirUm amigo cronista!! :):):)
ResponderExcluirLindo! Simone de Beavoir dizia: "há algo de amedrontador em toda metamorfose".... Mas eu acrescentaria, como bem disseste: há algo de paciência, de mais ternura com a vida, com os outros, sem muita pressa, sem muita impaciência, "enxergando muito mais claro". LASTRO.
ResponderExcluirParabéns pela crônica! palminhas...
bjs, Lu