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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Parola

O heterônimo da minha pessoa é este: Maria Desori, uma humilde criada, ao seu incondicional dispor, fidedigna leitora. Saca Desori? Pronto. Irremediavelmente desorientada “à sombra do mundo injusto”, como nunca outrora visto na mal contada história do meu país idolatrado. Desorientada com certificação e tudo, vai para o lattes mais alto, acumula mais pontos, quem sabe. Uma doidice, uma doidice, bicho. Onde já se viu um inverno atrasado igual a esse, gentes? Uma semana tiritando dentro do freezer da sudeste geladeira, a cidade se acabando debaixo d’água cortante, quando, veja bem, depois de amanhã, te amo: é sol de primavera. Frio do estupor, o pau da venta congelado. Café é um trem que não pode ser mais ou menos, presta ou não presta, nesses termos. Sigo economizando quanto posso, no pretinho da predileção: Três Corações Premium – Estrada Real: café bom, menina, bom arretado, caro para caralho. Findo o último pacote, danou-se, a cauda espanando o soalho do poço: a família que se ajeite com percevejo moído e torrado, uma lástima. O Governo despeja na telinha que o rombo é despesa com o serviço público. Decepem-lhe a cabeça, o braço forte, a mão vazia. Proventos congelados. O Governo quer porque quer que eu assuma que a esculhambação é culpa minha, maluco. Entre um oceano de responsabilidades pelo esculacho, tudo nos meus costados, mais essa agora. “Logo eu, bom funcionário, cumpridor dos meus horários, um amor quase exemplar”. Uma doidice. Uma maldade. O Governo virou-se nos pentelhos de Jane Fonda para equilibrar as contas, reanimar o afogado, a senhora engole? O sujeito nem precisa ser muito ilustrado pra constatar o obviululante: a merda virou boné faz tempo, mas relaxe. Os bancos continuarão comendo lucro, de rodo. Os ricos continuarão bastante ricos, afagando bens, notas e barras. O mantra é ancestral: o de cima sobe e o de baixo desce. Ôm. O fundo do poço tem ralo. A senhora pode liquefazer-se: derreta, escorra, no inferno sobra tanto espaço. A senhora foda-se aí, recolhida à insignificância do seu minúsculo subterrâneo quadrado. Ando rabugenta, azeda, cansada. Às vezes, ensaio uma conversa (a)fiada, dou fé, aquela esquisitice: arremessam-me ao (ab)surdo vácuo. Deve haver uma explicação. Endureci um tanto. Já fui mais agradável às retinas e aos ouvidos da galera, aposto. Priscas eras. Piada, chiste, gargalhada folote desatinada, amenidades guimaraes.com... A farra. No tempo de ‘como vai?’ significar ‘oi’, sem cobiçar qualquer desdobramento, aprofundamento, sinceridade na resposta. A menos que o espichado resultasse em palhaçada. Parece que esses dois anos geraram assuntos indigestos, incompatíveis comigo, com quem me escuta, uma maluquice. Não sei direito. O fato é que hoje identifico em mim, por exemplo, uma brutal inabilidade para circular entre os grupos whatsappianos aos quais pertenço. Pertenço? Tenho sempre a sensação de bijuteria, sinto que a verdade passa longe, espia o delírio da guduxa fora da casinha. Tenho que descobrir na terapia, madame, por que me aborrecem os diminutivos. Fofinha, amiguinha, queridinha, florzinha amarelinha bonitinha... Como é que uma criatura troca figurinha engraçadinha coloridinha carinhosinha docinha desse jeito, em nome de Jesus, me fala? Inverossimilzinho paquinhas. E as correntes? E os vídeos? Fábio de Melo é um homem extraordinariamente bonito. Sensível. Inteligente. Articulado. Uma árvore de Natal. Vaidoso e afetado a ponto de eu não conseguir terminar de assistir à palestra, alguém entre os viventes me entende? Preocupado demais com os trajes e os músculos e a cútis e o bigode e a barbicha e o melhor ângulo, para um padre, I’m sorry. Sobre o olhar sobre as coisas, sobre ideologia, nem discuto. Lamento. Claro que a questão é a maturidade para ignorar certos comentários, carregar no coração somente o que se encaixa. Chegaram-me os anos, não a sabedoria. Pobre menina balofinha desolada. Falta empatia, cumplicidade. Vaza hipocrisia. Transborda desafeto. Aqui, acolá, menina, é um pega na virada, uma farpa, um deboche, um sopapo, um veneno. A gente se estranha. Aquele passatempo de procurar antes ser bom, bom de doer, simples e bom, sem se exibir, sem diminuir, sem preterir, sem trair, sem ferir, quem foi que escondeu da gente? Aí, na real, penso que as relações virtuais são relações humanas, uma loucura, tudo gente. Vontade de silêncio. “Há sorrisos que não são de felicidade, mas sim um modo de chorar com bondade.”. Reproduzo a frase inteira, completamente esquecida de quem disse. 


3 comentários:

  1. Eu já reclamei muito dessas correntes no whatsapp, mas de tanto reclamar sem efeito, já me rendi. Toda vez que me deparo com uma eu leio. Leio de verdade, leio até o final e depois paro e reflito. A que ponto chegou a pessoa que acredita que o 13° salário foi extinto em uma votação secreta e de última hora com unanimidade e voto de partidos que sequer existem. É muita desinformação de um lado e mau-caratismo de outro. O coração das pessoas está ficando cada vez mais duro (ou já era, a internet só exibiu sob a premissa do anonimato o que antes era escondido pelo olho no olho), hoje em dia o diálogo nem sempre serve, as pessoas estão fechadas, se trancaram nos seus infinitos particulares onde pelo visto só tem o pior de cada uma delas, com o perdão do trocadilho.

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  2. Eu entendo e compartilho muitas vezes dessa vontade do silencio

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  3. Esqueci de assinar, luciana. Beijo

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