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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Compartes

A historinha do tip-top gigante tamanho GG é boa, dá caldo para umas quatro laudas e meia, que um causo hilário puxa sempre outro, que puxa outro, que puxa outro... Um chiste, uma muganga, uma anedota, uma pilhéria, uma careta, um trupicão,  um gracejo – toda matéria-prima colorida e divertida, caleidoscópica e inusitada, fomentadora de ruidosa gargalhada fêmea por cem multiplicada, meus companheiros e minhas companheiras de vadiagem, aproveitando a vibe de comandista de greve, rá rá rá, toda risada escancarada é antibiótica, antipirética, antihelmíntica, anti-inflamatória e fecunda, é um laboratório, uma espaçonave, um tsunami, uma bomba de chocolate no sistema imunológico da gente, levanta o defunto, pela graça divina. Posso pincelar o assunto, guardando a cereja para um dia nublado e sem tema estimulante, até porque tenciono discorrer, longa e peremptoriamente, sobre sexo na maturidade (ui!), para dar ibope. Depois. O negócio é mais ou menos o seguinte: mosquitos de todas as fragrâncias combinaram de passar o inverno com a gente, faz uma semana já, que eu  amanheço e anoiteço empacotada num meio tip-top - saca aquela roupinha de neném? Pois pronto - um só não, comprei foi logo quatro, um rosa, um roxo, um cinza clarinho e um vermelho gengiva. Compraria mais até, para estoque, não estivesse o produto esgotado, recebi, desconsolada, a notícia ontem de tarde. Não sou a única gorda alérgica à picada de muriçoca, dentro dessa paradisíaca turística cidade, um alento. As bolotas viram perebinhas, não as bolotas camaradas gordas de Cabo Frio, refiro-me às bolotas das minhas próprias canelas, fico parecendo um guri buchudo comido de catapora, a sucursal do inferno, um aleijo. Vestida assim, rapaz, não tem sex appeal que prevaleça sobre a palhaça indumentária, surpreendo-me dantesca ante os espelhos do quarto, do hall e dos banheiros, chega me assusto, para, no instante seguinte, rir de rasgar o bico,  com a camisola do dia então, por cima do macaquinho, creindeuspai, nem queira olhar a misura, eita parangolé mais ridículo e brochante. Ronaldo ri de se acabar, de perder o tom, pergunta se é uniforme, meu marido é como eu sempre esperei que fosse um marido para a minha pessoa, um homem bom de doer, sensível, sincero, honesto, decente, trabalhador, respeitador, provedor até debaixo d’água, mas, sobre todas essas coisas de suma importância para uma mulher que pretende se amarrar, meu marido é um gozador. Quem conhece Ronaldo, está cansado de conhecer e de tirar muito bom proveito do seu extraordinário senso de humor, amém.
Cibelle me telefonou ontem logo cedo, tinha uma novidade para contar. Cibelle é a melhor professora de Espanhol do Rio de Janeiro e adjacências, mas ela é paulista da gema. Trabalhamos juntas no IFF, comemos juntas, dia a dia, o pão que o diabo amassou, compartilhamos, solidárias, as desventuras da complicadíssima tarefa de lecionar língua estrangeira numa escola onde as línguas estrangeiras não alcançam o pódio. Entra direção, sai direção e a peleja continua, uma brutalidade. Nenhuma gestão chegou mesmo de leve a perceber como a nossa disciplina precisa ser tratada. Realizamos, apesar dos pesares, um bom trabalho. No quesito jogo de cintura, Cibelle me passa a perna quarenta e oito vezes, a bicha é magrinha, ágil feito um grilo, uma vantagem descomunal, comparada à minha circunferência abdominal de elefante-marinho. Cibelle é muito mais jovem, tem o gás que eu tinha, aquela disposição firme, porém gentil e conciliadora, para lidar com a teia burocrática na qual a instituição, tão incipiente e cruelmente nos insere, nós, os professores de idiomas, Cibelle tem aquela disposição que não desejo mais ter, mister esclarecer logo essa questão, afinal de contas. Um dia desses, Cibelle me procurou, precisava de ajuda para preparar-se para a prova de Inglês do doutorado. Fiquei com preguiça, só de ouvir. Acontece que Cibelle não é uma pessoa a quem a gente possa dirigir um robusto e sonoro não, sem sofrer. É amizade demais, é consideração demais, é parceria demais, é carinho demais. Topei, fazer o quê. A gente começou a estudar bem direitinho, com hora marcada e tudo, e eu fiz o que pude, honradíssima que estava com a confiança depositada nessa pernambucana lenta e ociosa, devagar quase parando. O projeto dela é massa, a defesa ia ser massa, tinha certeza absoluta, que Cibelle não é fraca não. Pois muito bem, a maga arrebentou no tal exame, acertou muito mais do que carecia para passar, deu um banho. Cibelle me telefonou ontem logo cedo, tinha uma novidade para contar. Passou no doutorado, 'óbvio ululante'. Alguém duvidava? Como me orgulho da minha amiga. Amiga mesmo, parece que de vidas passadas, a vida tem disso. A parte ruim é que ela anda doida para nos deixar, voltar para São Paulo, uma lástima, uma perda irreparável. Vai conseguir, aposto, me diga aí você o que ela não consegue... O noivo anda por lá, solto na buraqueira... Ela não é besta de consentir nessa doidice nem mais um minuto. Cibelle vai ser doutora, vai se casar, vai constituir família, vai ser muito feliz porque merece demais. Eu não pretendo perdê-la de vista, pelo menos até seu caçula se formar doutor. Ou professor de idiomas. Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. “Você parece comigo, nenhum senhor te acompanha, você também, se dá um beijo, dá abrigo... Se dá um riso, dá um tiro”! Vamos que vamos. Parabéns, querida. Boa sorte.

Um comentário:

  1. Eita, mulher, que lindo.... normalmente rio com as suas crônicas, mas com essa não deu... Tô aqui em uma salinha da USP, e chorei de emoção... Obrigada, Dri, você é mesmo amiga de outras encarnações... Te adoro!! Beijim!
    Cibi

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