A historinha do tip-top
gigante tamanho GG é boa, dá caldo para umas quatro laudas e meia, que um causo
hilário puxa sempre outro, que puxa outro, que puxa outro... Um chiste, uma
muganga, uma anedota, uma pilhéria, uma careta, um trupicão, um gracejo – toda matéria-prima colorida e divertida,
caleidoscópica e inusitada, fomentadora de ruidosa gargalhada fêmea por cem
multiplicada, meus companheiros e minhas companheiras de vadiagem, aproveitando
a vibe de comandista de greve, rá rá rá, toda risada escancarada é antibiótica,
antipirética, antihelmíntica, anti-inflamatória e fecunda, é um laboratório,
uma espaçonave, um tsunami, uma bomba de chocolate no sistema imunológico da
gente, levanta o defunto, pela graça divina. Posso pincelar o assunto, guardando
a cereja para um dia nublado e sem tema estimulante, até porque tenciono
discorrer, longa e peremptoriamente, sobre sexo na maturidade (ui!), para dar
ibope. Depois. O negócio é mais ou menos o seguinte: mosquitos de todas as
fragrâncias combinaram de passar o inverno com a gente, faz uma semana já, que
eu amanheço e anoiteço empacotada num
meio tip-top - saca aquela roupinha de neném? Pois pronto - um só não, comprei
foi logo quatro, um rosa, um roxo, um cinza clarinho e um vermelho gengiva. Compraria
mais até, para estoque, não estivesse o produto esgotado, recebi, desconsolada,
a notícia ontem de tarde. Não sou a única gorda alérgica à picada de muriçoca,
dentro dessa paradisíaca turística cidade, um alento. As bolotas viram
perebinhas, não as bolotas camaradas gordas de Cabo Frio, refiro-me às bolotas
das minhas próprias canelas, fico parecendo um guri buchudo comido de catapora,
a sucursal do inferno, um aleijo. Vestida assim, rapaz, não tem sex appeal que
prevaleça sobre a palhaça indumentária, surpreendo-me dantesca ante os espelhos
do quarto, do hall e dos banheiros, chega me assusto, para, no instante
seguinte, rir de rasgar o bico, com a
camisola do dia então, por cima do macaquinho, creindeuspai, nem queira olhar a
misura, eita parangolé mais ridículo e brochante. Ronaldo ri de se acabar, de
perder o tom, pergunta se é uniforme, meu marido é como eu sempre esperei que
fosse um marido para a minha pessoa, um homem bom de doer, sensível, sincero,
honesto, decente, trabalhador, respeitador, provedor até debaixo d’água, mas,
sobre todas essas coisas de suma importância para uma mulher que pretende se
amarrar, meu marido é um gozador. Quem conhece Ronaldo, está cansado de
conhecer e de tirar muito bom proveito do seu extraordinário senso de humor,
amém.
Cibelle me telefonou
ontem logo cedo, tinha uma novidade para contar. Cibelle é a melhor professora
de Espanhol do Rio de Janeiro e adjacências, mas ela é paulista da gema.
Trabalhamos juntas no IFF, comemos juntas, dia a dia, o pão que o diabo
amassou, compartilhamos, solidárias, as desventuras da complicadíssima tarefa
de lecionar língua estrangeira numa escola onde as línguas estrangeiras não
alcançam o pódio. Entra direção, sai direção e a peleja continua, uma
brutalidade. Nenhuma gestão chegou mesmo de leve a perceber como a nossa
disciplina precisa ser tratada. Realizamos, apesar dos pesares, um bom
trabalho. No quesito jogo de cintura, Cibelle me passa a perna quarenta e oito
vezes, a bicha é magrinha, ágil feito um grilo, uma vantagem descomunal,
comparada à minha circunferência abdominal de elefante-marinho. Cibelle é muito mais jovem, tem o
gás que eu tinha, aquela disposição firme, porém gentil e conciliadora, para lidar com a teia
burocrática na qual a instituição, tão incipiente e cruelmente nos insere, nós,
os professores de idiomas, Cibelle tem aquela disposição que não desejo mais
ter, mister esclarecer logo essa questão, afinal de contas. Um dia desses,
Cibelle me procurou, precisava de ajuda para preparar-se para a prova de Inglês
do doutorado. Fiquei com preguiça, só de ouvir. Acontece que Cibelle não é uma
pessoa a quem a gente possa dirigir um robusto e sonoro não, sem sofrer. É amizade
demais, é consideração demais, é parceria demais, é carinho demais. Topei,
fazer o quê. A gente começou a estudar bem direitinho, com hora marcada e tudo,
e eu fiz o que pude, honradíssima que estava com a confiança depositada nessa
pernambucana lenta e ociosa, devagar quase parando. O projeto dela é massa, a
defesa ia ser massa, tinha certeza absoluta, que Cibelle não é fraca não. Pois
muito bem, a maga arrebentou no tal exame, acertou muito mais do que carecia
para passar, deu um banho. Cibelle me telefonou ontem logo cedo, tinha uma
novidade para contar. Passou no doutorado, 'óbvio ululante'. Alguém duvidava?
Como me orgulho da minha amiga. Amiga mesmo, parece que de vidas passadas, a
vida tem disso. A parte ruim é que ela anda doida para nos deixar, voltar para
São Paulo, uma lástima, uma perda irreparável. Vai conseguir, aposto, me diga
aí você o que ela não consegue... O noivo anda por lá, solto na buraqueira...
Ela não é besta de consentir nessa doidice nem mais um minuto. Cibelle vai ser
doutora, vai se casar, vai constituir família, vai ser muito feliz porque
merece demais. Eu não pretendo perdê-la de vista, pelo menos até seu caçula se
formar doutor. Ou professor de idiomas. Amigo é coisa pra se guardar debaixo de
sete chaves, dentro do coração. “Você parece comigo, nenhum senhor te
acompanha, você também, se dá um beijo, dá abrigo... Se dá um riso, dá um tiro”!
Vamos que vamos. Parabéns, querida. Boa sorte.
Eita, mulher, que lindo.... normalmente rio com as suas crônicas, mas com essa não deu... Tô aqui em uma salinha da USP, e chorei de emoção... Obrigada, Dri, você é mesmo amiga de outras encarnações... Te adoro!! Beijim!
ResponderExcluirCibi