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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Estilhaços

Tem vez que penso assim: isso é proposta de mente fraca, cabecinha de vento. Possa ser. Ou falta de uma atividade de fato insuspeita, axiomática, rarará, verdadeiramente nobre fundamental é mesmo o amor, um trem de ferro para eu conduzir ao menos a contento. Imagina aí: meu manifesto, meu traço, minha arquitetura... Um nome na capa. As pessoas vivem muito envolvidas em projetos maiúsculos, mirabolantes, extraordinários, artigo phyno, cara, chega tenho vergonha desse meu proletário poleiro de pato, só mexo com tábua de carne tabula rasa, rarará, mínimas vãs quinquilharias, desse jeito.
A galera dos idos de colégio, isso entre 1978 e 1983 Dondon no Andaraí, rarará, criou um grupo no Whatsapp, o povo cutucou, mas cutucou tanto, descobriram meu esconderijo, adeus lencinho ariano ao sossego, a madame acredita? Todos nós no mundo dos vivos, todos lindos, todos loiros, todos bem, todos vencedores, de fodida restou mesmo a que vos endereça o presente texto, rarará, eu só tenho amigo fazendo um bruto sucesso em Quixeramobim, cara. Amém, rarará? Fatinha endoidou quando me viu, “Adriana!!! Naninha CDF!!!! Lembra que eu copiava tuas respostas, sempre corretíssimas, das apostilas de Xênia, depois me ferrava nas provas?!! Minha enciclopédia querida, que saudade!!!”, isso equivale a me dar um tiro na testa, camarada. Estigma filho legítimo do demo: a criatura nasce, cresce, menstrua, multiplica-se, falece - não se livra nunca, bicho. Essa porra é minha outra polimiosite, fala sério. Um dia, neném, vou entender de onde tiraram a ideia de que aquela moça gorda e triste gostava tanto disso. Meu maior desejo era ser pequena, já contei aqui, bem pixototinha, em todos os sentidos. Estudei em escola particular, minha senhora, estudei lado a lado com gente muito da rica, a espada oscilando no alto do juízo mole, o espectro do deteriorado ensino público me rondando, proibido cochilar, deslizar, matar uma aula, a pena era o cachimbo escapulir, a bolsa sair voando pela janela. Menina, eu tinha que me sustentar no lustre, segurar essa maldita bolsa com o boletim, as unhas e os dentes. Duas alternativas de universidade para Adriana das dores e dos oratórios: a pública. Ou a pública. Podia escolher. Péssimo não foi, mas deixou marcas difíceis de apagar, pereba. Deixou lição boa de conservar.
Amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui. Impressionante minha facilidade em passar do ‘oi’ para a próxima fase. Atravesso o abismo como quem baila. As alegrias e as agonias humanas são muito parecidas, só muda o domicílio. Não temo os homens, não mesmo. Uma virtude da minha alma atormentada, carcomida de mau funcionamento. Portanto, encaro com bastante naturalidade o chá de sumiço de feicibuquianos do meu feici, todos os encarnados da Terra têm direito a sair de circulação um instante, beber um trago, contemplar distintas alvoradas. Quem me levará sou eu, quem regressará sou eu. Ou não. A gente pode não retornar. Liberdade de ir e vir. A gente tem o direito. Isso é bossa nova. Indiscutivelmente. O cabra dana-se a badalar o sino no idioma grego que não combina, rarará, a gente espiando os pés do cabra, o afã de captar a mensagem, compreender a legenda, rarará, né? O sujeito chegado numa análise do discurso, hein, rarará? Viaja. Quantas vezes excluí feicibuquianos por não mais reconhecer um espaço, uma linha de convergência, dentro da visão de mundo do cabra? Não é pecado porque não há pecado. As visões de mundo resultam de referências diferentes, bibliográficas, inclusive, principalmente até, não dá para negar isso. Esse processo todo de eleição me proporcionou a possibilidade de leituras de opinião: ora sensíveis, sensatas, ora rijas, confusas, asfixiantes - revelações HD a respeito de quem me segue ou seguia, sei lá. Vieses de opinião que simplesmente não via. Aposto meu rim esquerdo que houve quem se surpreendesse comigo também, uma maluquice, mas houve. Três vivas para quem se posicionou na parada, para quem, segurando o forninho do nível, rarará, discutiu política, justificou sua postura com estilo e clareza. Eu aprendi que tudo é assunto, tudo se discute, cara, quando a discussão não anda mais, uma convicção abissal prevaleceu, a gente pega o banquinho e vai saindo de fininho. Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Quarta-feira, fui fazer o tratamento alternativo de praxe, uma bolinha de gude de cristal e teria faltado à sessão. O momento era meu, tô pagaaaan(d)o!: minhas palavras ou minhas reticências. Teria subornado o pontífice por meia hora de quietude, ‘silêncio, por favor’. O médico: uma matraca. Campanha dentro do consultório. Uma hemoptise: verbo embrutecido de preconceito, vertendo coágulos de sangue. Eu, na minha serena sobriedade, argumentando: você acha, de coração, que todo mundo tem as mesmas oportunidades? Eu dou minhas vísceras pela escola pública, eu quero a melhor escola pública do continente, os guris lá, usufruindo do caviar. Eu lido com jovens, bicho, que sem o Instituto Federal, não teriam perspectiva alguma de ingresso na universidade pública. Você não enxerga os que ainda ficam de fora, cara? Minha intenção era conversar de boas, cara. Aí, do nada, o idiota dispara: "Aécio é bem nascido, é bem criado, é bonito, é elegante, é culto, casado com uma galega linda, alíás, que primeira-dama a gente teria... Sabe que é por isso que ele não vai ganhar, não é? Tinha que ter se casado com uma crioula de cabelo crespo". Estarrecedor porque é o discurso do capataz, tenho certeza absoluta de que ele não é o senhor do engenho. Sonha, Creonice, sonha. Comentei assim: bicho, eu tô numas de voto crítico na dentuça, e bote crítico nisso, mas é muito na vibe de eu ser fêmea, preta, pobre e nordestina apreciadora inconteste de uma maciota. Pairou um constrangimento, craro, o idiota veio com um papo de ‘brincadeirinha’, auto-definiu-se um ‘gozador’. Não é. Desse particular, leitora, eu entendo. Morreu pela boca, feito um peixe palerma. Não diga que me perdi, não mande me procurar.

Um comentário:

  1. É impressionante como as pessoas conseguem ser idiotas de jeitos tão diferentes. Em uma das vezes que dei meu sábado para panfletar pelos candidatos do PSOL, um homem na faixa dos 30 anos ao receber meu panfleto apontou pro Jean Willys e disse "eu quero que essa raça morra!". Parei e conversei com ele sobre os outros candidatos: Freixo, Chico, Tarcísio, Renato Cinco... Ele perguntou de cara se eu era maconheiro. Disse que não. Ele falou que era a primeira vez que viu alguém que vota no PSOL não fumar maconha. Derrubou por cima de mim, uma tonelada de ódio e ofensas à Jean. Foi naquele momento que defini meu voto pra deputado federal. É preciso combater essas pessoas e esses pensamentos, cara. Massacrar seres humanos que não se enquadram na fórmula perfeita que os outros acham é de uma crueldade absurda. É preciso combater! Ainda mais se tratando de Jean. Eu acompanho sua atuação parlamentar porque ele lida com direitos humanos, coisa que ninguém quer fazer. Ele é um deputado necessário. Assim como Freixo é na ALERJ. Jean não é só a pauta LGBTq, é a pauta dos negros e negras, da liberdade religiosa e do estado laico, é dos diretos da criança e dos direitos das prostitutas também! Ele tem coragem pra tratar desses temas, assim como Freixo faz no RJ. Essa foi minha dobradinha pro parlamento estadual e federal, tenho certeza que não me arrependerei. Precisamos alargar as margens da nossa democracia, essa tarefa só será vitoriosa quando inserirmos na sociedade de forma plena, todos os brasileiros. Todos.

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