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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Azulzinho

“Hoje eu estou sozinha e não aceito conselho, vou pintar minhas unhas e meu cabelo de vermelho... Se eu perder, eu perco sozinha, mas se eu ganhar, sou só eu que ganho”. Eu nem sou muito fã de Ana Carolina, do repertório dela, sei cantar uma meia dúzia de seis ou sete baladas maneiras, mas dessa aí eu gosto muito. Essa é daquelas que a gente canta alto, forçando a garganta, assim como a gente imposta a voz para cantar Garganta. Garganta é outra música que ela gravou, acho até que foi por causa de Garganta que ela ficou famosa, “não sou beata, me criei na rua, não mudo minha postura só pra te agradar... Aprendi a me virar sozinha”. Esses versos que tratam desse assunto delicado e inflamável, “a solidão é fera, a solidão devora”, essas letras mexem demais com os meus sentidos. Eu poderia discorrer, sem susto e prolixamente, sobre o tema, sempre me senti like I don't belong, uma boa alma, mas por demais sozinha, nesse vasto mundo. Acontece que hoje é sexta-feira, o dia da graça, o dia da caça e do caçador, não convém, portanto, cutucar o cão com vara curta, magoar ferida mal cicatrizada.
Transgressora da moral e dos bons costumes, hoje pintei minhas unhas de azul new york, pra ficar com mão de puta. De uns tempos para cá, dei para me enxerir para o inusitado, tem que ver, com a cara de pau que Deus me deu. Não me importo mais um tico com a opinião pública, e digo isso com a alma lavada e enxaguada, cabendo inteira na palavra franca, a palavra franca, francamente, me faz jus, do pé à cabeça. A minha franqueza ainda vai acabar comigo, pode apostar. Na sapataria, de manhã cedo, a moça me perguntou se eu gostava das sandálias que ela estava experimentando. Disse que não, sem sofrer, esclarecendo que o problema estava nela, não nas sandálias. De quebra, no ápice do atrevimento, ainda aconselhei a moça a esconder o joanete num modelinho mais adequado à sua deformidade, a moça tem aquele calombo na lateral do pé, uma coisa horrorosa. Eu não estava gostando mesmo, só falei a verdade, e funcionou feito uma peça original de fábrica. A moça ficou tão agradecida, ficamos melhores amigas, desde então. Às vezes, a minha franqueza me causa um transtorno dos diabos, às vezes consigo contornar, outras vezes nem tanto, aliás, quase sempre nem tento, que se dane. Para cada amigo perdido, faço novos três ou quatro, saio no lucro. Da sapataria, segui a pé para o salão, com as rubras rosas todas se abrindo pelo caminho, hoje é sexta-feira. Faz um tempo bom que eu frequento esse salão, o Star, e não é pela cabeleireira, digo logo. A cabeleireira é uma gordinha muito da gente boa, olha a redundância, conversadeira que só, acho que ela sabe passar o melhor café do Rio de Janeiro, adoro o cafezinho de lá. A gordinha muito gente boa, pasmem, não me inspira a menor confiança, francamente. Ela exibe uma fragrância de cabelo, um cortinho modernoso, curtinho, de uma cor meio indefinida, um penteado esquisito, duvidoso, prefiro manter inabalável a minha relação de fé e de amor profundo com Cavanellas, meu hair stylist predileto, meu adorado mãos de tesoura, dono do Marcus Cavanellas Coiffeur, um salão de responsa aqui na Baixada Litorânea. Minha fidelidade ao Star, deve-se ao indiscutível talento da minha manicure, Renata, uma jovem linda, mãe de duas crianças lindas, uma mulher batalhadora que teve a infelicidade de se juntar com um troglodita cafajeste, coitada, eu tenho um carinho tão grande por ela, vira e mexe dou aula de reforço pra menina dela, torço muito pela felicidade dessas pessoas queridas, Renata, Vivi e Gustavo, seu filhote caçula, um menino de ouro. Quanto ao marido, desejo a ele uma boa morte, lenta e dolorosa, falando francamente.
De uns tempos para cá, dei para me ocupar de futilidades diversas, pela graça divina. Meu passatempo preferido, emparelhado com palavras-cruzadas de nível difícil, para quebrar a cabeça e afugentar o alemãozinho, é fuçar sites de esmalte na net, atrás de novidade. Fazia tempo que eu andava louca pelos lançamentos de Ana Hickmann. Ana Hickmann é aquele mulherão que fatura alto, vendendo bolsa, roupa, sapato, óculos de sol, esmalte e outras coisas que esqueci agora. Não sei dos outros produtos, no que se refere a esmaltes, francamente, não existe Colorama que afete a hegemonia de um Ana Hickmann, as cores são deslumbrantes, todos os esmaltes são de secagem rápida e têm durabilidade incontestável, mas são caros, vamos combinar. Entretanto, vale a pena, uma vez na vida, pagar mais por um Ana Hickmann. Lembrei-me agorinha de um episódio engraçado, um dia eu mandei vir do estrangeiro um esmalte caro pra raio, o bicho não secava era  nunca, devia ser coisa para a pessoa usar em dia de frio e de neve, suponho, um desastre absoluto. Rio quando penso na minha bestagem de gastar dinheiro com aquela porcaria, gente besta é a imagem do cão, minha santa mãezinha me dizia. Pois bem,  hoje, quando saí do Star, decidi passar na Aroma, uma loja de cosméticos e outros bichos, na tentativa de encontrar os tais lançamentos. Para a gente ser feliz às sextas-feiras, basta perambular pela cidade, ver a rua. Comprei todos os esmaltes de uma vez, na Aroma, e, de alma lavada, enxaguada e trajada de bom velhinho, fiz o caminho de volta, bem ligeirinho, com o saco nas costas, ho ho ho. Cheguei fazendo arruaça, distribuindo esmalte adoidado, o salão virou uma festa de riso, de cor e de brilho 3D, que eu não sou fraca. As manicures, cinco ao todo, naquele alvoroço, pareciam crianças abrindo os embrulhos de brinquedo novo, protagonistas de outro singelo capítulo do livro de historinha besta da minha vida. Para a gente ser feliz e fazer o outro feliz, por Deus do céu, basta muito pouco. Bom Natal.

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