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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Garfield forever

Vou lhe mandar um papo reto: eu tenho esse costume feio de reclamar da segunda-feira, toda vez que é segunda-feira, pode a segunda-feira ser a segunda-feira mais espetacular do calendário, pode a segunda-feira despontar verde, azul, amarela, encarnada e lilás, lilás, aliás, é um  tom de segunda-feira que adoro; pode a segunda-feira romper caleidoscópica, vária e multicolorida, com pedrinhas de brilhante para o meu amor passar, a segunda-feira pode travestir-se de nacarado domingo madrepérola, quando e o quanto ela bem quiser, segunda-feira é segunda-feira, aqui, no Cariri, no meu pequenino Miraí ou em Madri. Deus não quer que eu fique muda às segundas-feiras, então vou lá e reclamo. Esse semestre sucedeu de eu nem trabalhar às segundas-feiras, mas estremeço, do pé à ponta, ante a súbita ameaça de me descuidar e perder o hábito de xingar a segunda-feira, traindo, assim dessa maneira, meu ídolo de ontem, de hoje e de depois de amanhã, Garfield dos meus amores, aquele pão de quem sou a maior fã incondicional.  Sigo, portanto, me lamuriando por ali afora, resmungando queixas incompreensíveis até para mim, ciscando no terreiro sem saber direito por quê e para quê, completamente enfeitiçada e seduzida por aquele gato sedutor, até a raiz dos bigodes. Vou lhe mandar um papo sem subterfúgios ou chorumelas de percurso: odeio segunda-feira.
Meu salário foi depositado hoje, segunda-feira, a primeira de outro dezembro inadimplente. Meu décimo-terceiro era doce e se acabou-se no dia mesmo em que bateu lá no banco, uma coisa impressionante. Fazendo as contas por alto, de cabeça,  sem a calculadora, calculo que minha conta corrente deve menstruar até o dia quinze, permanecendo nesse estado vermelho vivo hemorrágico até janeiro, quando a gente recebe as férias, minha última esperança de equilibrar um terço das minhas finanças combalidas. Não é possível que exista alguém das minhas relações  interpessoais, que viva mais pendurada de dívida do que eu, que devo até os dentes da frente, literalmente, porque mandei fazer dois dentinhos novinhos em folha e o dentista, até a presente data,  não viu sequer a sombra do pico da primeira parcela da montanha de dinheiro  que me cobrou, coitado dele e de mim, coitadinha de mim, que, a propósito, pretendo, apesar da vergonha e dos pesares, dever com a máxima dignidade, dever e negar, sempre que possível, de peito aberto e coração tranquilo, até quando Deus quiser, enquanto eu puder.
Quando chega o verão é esse desassossego por dentro do organismo porque o verão é a estação da vadiagem, é quando a gente conclui o projeto SAMARA, a gente já comeu alpiste noventa e sete dias corridos, a gente já gastou três solados de borracha, bufando e regurgitando os bofes na ergométrica, já misturou lambaeróbica com samba, frevo, jazz e pilates localizado, a gente só fica esperando a hora de exibir esSA MARAvilha de corpinho escultural, espetacular, esbelto, rijo e sarado, nas areias de Copacabana, e correr pro abraço. Em dezembro, no meu parco entendimento das coisas da vida, se a pessoa não estiver na beira da praia, devidamente leve, livre, desocupada, tomando sol e água de côco, todo dia da semana fede à segunda-feira. Agora a pessoa imagine o meu estado psíquico nesse pós-greve filho de uma égua, com o semestre letivo acabando de começar, em dezembro, a minha estante se desconjuntando toda com o peso das provas ainda por corrigir, isso fora as redações e afins, as visitas chegando para as festas de fim de ano, Papai Noel a três por quatro, pipocando a dar com o pau, pelas esquinas da cidade, no âmago da decoração natalina mais cafona e esquisita que eu tive oportunidade de conferir desde o meu nascimento, a pessoa imagine o meu estado psíquico, se for capaz. E silencie, compadecida.  Monday sucks, that’s it. 

Um comentário:

  1. Ronaldo disse: Papo reto, sem tropeço, sem tropico, segunda feira é demais pra qualquer um. Mas ela existe e sabemos que apesar dela temos a sexta, o sábado e o domingo. Te amo!!!

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