“Eu conheço a minha liberdade, pois a vida não me cobra o
frete.” Liberdade para escolher o melhor diretor geral para a escola onde dou
meu sangue, em pleito a realizar-se logo mais, em outubro, against all odds, pela graça divina. Dar o sangue nas empreitadas
nas quais mete o bedelho, aliás, nem é exclusividade do meu virtuoso candidato
ao espinhoso e indigesto cargo de gestor do nosso campus, admito que também
carrego o cacoete, modéstia à parte. Trata-se, inclusive, de apanágio familiar,
arriscaria. Se ergues da justiça a clava forte, verás que um Guimarães de
Oliveira não foge à luta, corre em nossas veias o ascendente senso de dever,
saber que o certo é certo é herança de Biu de Rita, meu pai grande, que Deus o
tenha em Sua glória infinita, assim seja. Minha religião é o trabalho, desde o
princípio era o verbo, isso lá para os idos de 1986, me lembro como se fora
anteontem à tardinha. Já da crônica perdida, querido leitor, nem um acento,
lamento. Minha religião é a palavra
empenhada, hoje postarei uma historinha pé quebrado e dente sujo, necessito
honrar o sobrenome e o compromisso. Sem querer tocar no assunto e já
beliscando, amanhã vai ser outro dia. Cada paralelepípedo da Baía Formosa vai
se arrepiar. Da esperança descerrem-se as esplendorosas cortinas, Alexander, o
grande, vai passar.
Saber que o certo é
certo. Ontem presenciei uma cena de partir a geleira de qualquer coração
embrutecido pelas borrascas da vida. Na clínica veterinária, enquanto aguardava
a vez de Valentim tomar vacina, um acontecimento, diga-se de passagem - a
ferinha ferida é uma fera - tive a oportunidade de constatar, indignada, até
onde pode chegar a maldade das pessoas. Uma criança de apenas cinco aninhos
amealhou moedinhas o ano inteiro - 700 reais - para comprar uma cadelinha. Três
dias após a chegada do animalzinho em casa, uma convulsão, o atendimento de
urgência, o esclarecimento da médica: Nina desmamou muito antes do período recomendado,
é minúscula, fragílima, vai ficar internada, tem poucas chances de sobreviver.
Nina foi vendida por uma senhora muito da calhorda, uma tal de Adélia, que não
quer tomar conhecimento do ocorrido, diz que não tem nada com o pato. A criança adoeceu, a mãe me contou, entre
soluços. Uma garotinha de cinco anos, sofrendo feito gente graúda. Fiquei horrorizada.
Podia ter orientado a moça a lutar por seu direito na Justiça, pedir um laudo
ali mesmo, entrar pesado, brigar pelo ressarcimento das altas despesas. Paralisada,
não movi uma palha, entretanto. Solidarizei-me no pranto calado, tristíssima da
vida, desiludida da humanidade.
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domingo, 16 de setembro de 2012
Carga pesada
Lá
vou eu de novo, como um tolo, procurar o desconsolo que cansei de conhecer. Arrematava
a nova crônica, o pior aconteceu. Computa, computador, computa! Travou a porra
toda aqui, foi-se o textículo pelo ralo, escorreu para o buraco negro da
memória escassa, não sobrou uma onomatopeia, um ditongo sequer, para eu fazer
um chá de camomila e desistir de me eletrocutar! Puta que o pariu, meu gato pôs
um ovo! Gato não põe ovo, puta que o pariu... de novo! Três vivas para a folha
nua e crua e para a fiel companheira bic
ponta porosa, no suave deslizar
sobre a pele branca do papel. Três vivas para o eterno enrabichamento por meu love affair, minha adorada caligrafia,
meu caso sério, você mais eu e um bolero. É por essas e outras que não dispenso
meu caderninho de páginas recicladas, um baú de côncavas reentrâncias, um passo de dança, minhas roliças letrinhas afoitas, jardim de
maravilhas azuladas a bailar. A dificuldade reside entre a máquina e o assento,
o marido reitera, zombando da minha escancarada ignorância, o que não sei
sempre foi da conta de todo mundo, não ligo um tico, ria rios, Ronaldo, ria de
rachar o bico. Confesso que não atino na razão por que não me levanto dessa
maldita cadeira para um revigorante banho de mar. Na janela o domingo avança, verde,
anil e amarelo, insistindo no convite impossível da criatura recusar.
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As pessoas insistem nesse comércio tenebroso e o pior, sem procurar saber os detalhes. Quem são os criadores? São qualificados? Sabem o que estão fazendo? Tratam os seus animais bem? Tão simples adotar um vira... O meu é só amor.
ResponderExcluirOuw meu Deus... Vixe, já botei pra chorar pensando nessa criança, imagina se eu tivesse lá... :(
ResponderExcluirRonaldo disse: Eu não ri de rachar o bico. Lembrando uma piadinha... "Só Jesus salva!", o problema está no mal de Osmar, os mar contato, kkkk. A gente se sensibiliza com a sua sensibilidade, meu amor. Te amo.
ResponderExcluirSabe quem é o meu amor? Ele é você.
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