“As
árvores lá fora se meditam. O inverno é quente em mim, que o estou berçando”. Sem
a possibilidade de colher, no asfalto, a pedra de riscar a lousa da nebulosa manhã
(escuridão, já vi pior...), espremo o miolo para escorrer Drummond: “penetra
surdamente no reino das palavras”. Da mais íntima palavra. Palavra acesa, que te traduz o coração, o pensamento. Cada vez que conto
a história da construção desse conceituado blog líder de audiência no horário
nobre, blog bem ou mal criado pela minha conta e risco, para o meu pesar e para
o meu contentamento, como tem de ser, cada vez que conto, aumento um ponto.
Tanta gente deu palpite, tanta gente se meteu pelo meio com seu bedelho, que
findei por perder o fio da meada, não sei direito de quem partiu a ideia, “de mim, de ti... ah, abre os vidros de
loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória”. Finjo não saber. Fica o dito pelo
maldito, prevalece, no frigir dos ovos, a minha ínfima vontade de realizar
coisas mais importantes, aliada àquela enorme atávica disposição para o
registro em ata da conversa fiada cotidiana, três vivas para a conversa fiada,
a tábua de salvação de toda a reles humanidade. Fato é que, ventre livre, sofri cada
bem aventurada contração e dei à luz a palavra. Palavra com aroma, cor, sabor e
personalidade. De cão. Palavra com
temperatura, Chico. Deu-se que meu adorado rebento tomou impulso e decolou, agora é flecha lançada, a palavra pronunciada independe-se e indefende-se, como tem de ser. O DNA da palavra foi levado pelas mãos do acaso para o hemisfério da sombra onde viceja o avesso da integridade e da verdade. Só não me queixo para o bispo porque sou do
tamanho da minha boa índole e do meu irrepreensível caráter. Não faz muito tempo, revelei aqui, sobre minha doce natureza, que
peço perdão até às pedras do chão, por meu duro e lento caminhar. Nada me é
mais caro e precioso do que o sentimento de respeito pelo homem que, diferente,
é igual a mim, isso, quem não me conhece, procure, definitivamente, entender. Se lhe extirpassem da cria um rim, minha senhora, para comércio, sua alma sangraria? Seus filhos são seus
filhos na sua ilusão, minha senhora. Desejo a seu filho o futuro. A plenitude de ele ser ele
e sua unha encravada, sem censura. A liberdade de ele existir e insistir, do jeito que nasceu, com todos os
defeitos, trejeitos, traços, tripas, membros, neurônios legitimamente preservados, para cirandar
pela roda viva da vida, encardindo a cambraia da saia na lama da tempestade.
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sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Filhos da mãe
“E
me pergunto e me respiro na fuga deste dia que era mil, para mim que esperava
os grandes sóis violentos, me sentia tão rico deste dia, e lá se foi secreto,
ao serro frio”. Da árvore adiante, avisto o topete... ensopado.
It has been raining cats and dogs, desde
cedo, no presente imperfeito da sexta-feira alagada. Invejo a sorte grande de
Valentim, meu fiel perdigueiro, que nunca inventou essa maluquice de escrever
para fora, noutras palavras, a essa hora, o cachorro dos sonhos de qualquer
criança – feliz dia de brincar de criança, jovens e menos jovens leitores do
meu Brasil varonil! – Valentim desistiu de passear, dorme feliz o sono dos
justos, enroscadinho na coberta cinzenta de sete dias sem sabão, não lhe interessando
saber quem envernizou a barata, dorme de roncar, de bem consigo, comigo e com
Iemanjá rainha, soberana das águas, dorme nos braços da paz. Um filósofo. Um alquimista. O que não tem remédio,
remediado está. Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei. A
minha recomendação para os pais que andam com a mão na beira do chifre, mais perdidos do
que um filho da puta no dia das mães, os pais identificados com o crachá de
diretoria do aperreio, sem a mínima noção de como orientar seus moleques para o
exercício de estar entre os outros moleques do mundo, a minha recomendação para
os pais é singela como a canção de ninar: amanhã vai ser outro dia, minha
senhora, deixe o seu cachorro guiar.
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Eu vou para o inferno, mas PORRA que final foi esse?!
ResponderExcluirMuito lindo, tia!
Orgulho das mulheres “pestes“ dessa família.
Orgulho de ter esse exemplo e de não me permitir usar viseira. Vocês me ensinaram a ser gente, a ser livre e a ter fé.
Só uma coisa, Iemanjá é negócio pra catimbozeiro, tá?! Kkkkkkkkkkkkkkk
Eu toco percussão em um maracatu, rezo pra Nossa Senhora toda noite(aprendi) e carrego uma bíblia na bolsa. Quer coisa melhor?!
Sou livre e feliz por conviver intimamente com tanta gente gentil, educada e inteligente.
Bjinho
Manu
Queria dizer que me senti obrigado a baixar "Mais uma vez" depois de ler esse texto maravilhoso(coisa que sempre me neguei à fazer, sempre achei essa música muito clichê). Além de ler cada trechinho na melodia exata fiquei com ela na cabeça.
ResponderExcluir-Felipe Santos
Tia, assisti a uma peça esse final de semana que acredito ser a mais incrível de todas. Um grupo paulista que abriu as portas do Cênicas para o público. Sim, vamos investir em nosso lindo espaço alternativo para realizarmos os nossos espetáculos lá. Pois bem, os atores são maravilhosos e a peça montada para espaços alternativos. Pode ser montada em um apartamento! Até uma escola pode contratar. Palavras do diretor. Eu recomendo muito! “Dizer e não pedir segredo.“ Tá no google, é só procurar. Logo na primeira página. Perguntei a um dos atores se fariam temporada no Rio, mas ele disse que agora só em Sampa. Bom, eu gostaria muito que todos vissem pq é de uma profundidade incrível. Não recomendo aos Xiitas.
ResponderExcluirBjinho ;)
Manu
Me fez lembrar "tia Isis" :
ResponderExcluir"Olha as minhas meninas
As minhas meninas
Pra onde é que elas vão
Se já saem sozinhas
As notas da minha canção
Vão as minhas meninas
Levando destinos
Tão iluminados de sim
Passam por mim
E embaraçam as linhas
Da minha mão
As meninas são minhas
Só minhas na minha ilusão
Na canção cristalina
Da mina da imaginação
Pode o tempo
Marcar seus caminhos
Nas faces
Com as linhas
Das noites de não
E a solidão
Maltratar as meninas
As minhas não
As meninas são minhas
Só minhas
As minhas meninas
Do meu coração
homenagem a minha mae, sobretudo pela liberdade.
obrigada, tia, por fazer lembrar.
Beijo, Lu