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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pescador de ilusões

Valeu a pena. Se meus joelhos não doessem mais, teria chegado mais longe. A caminhada matinal da imaculada sexta-feira, despudoradamente azul, debaixo do morno sol de outubro, eu mais meu parceiro vira-lata, transcorreu a contento. Como tem gente de bem, bem acompanhada de cachorros de bem, nessa magnífica cidade dos sonhos, já reparou? Deve ser porque há pouquíssimas diferenças entre os grandes homens e os cachorrinhos. Alguns homens reduzem essa diferença a nada, a um pé de cobra, são tão bons, meu glorioso São Francisco de Assis, tão notoriamente bons, desinteressadamente bons, compulsivamente bons, bons pra cachorro, o nosso recém-eleito diretor, o camarada Anderson, é um exemplo redondo, ops! I did it again!, troco o amigo pela piada, perdendo qualquer dinheiro, e sem pantim, desde pequena. Quem bem souber viver de rir daquilo que perdeu, meu caro leitor de outrora e de anteontem, este venceu. Tempo haverá para o minucioso relato dos acontecimentos referentes ao pleito, à redentora vitória – esmagadora, emblemática com farofa, à celebração que começou sem hora pra acabar. Uma surrealidade, de fato. Meu coração Lady e o vagabundo guarda em mim o mundo, minha senhora. Da chaga aberta, à superfície de qualquer manhã, não mais que de repente, a flor da palavra, inapelavelmente, brotará, que eu sei. Tempo haverá.
Enquanto passeava com Valentim, olhando os adoráveis cães e suas respectivas donas do mundo, me lembrei de uma coisa no meio do precipício das coisas que, um dia, no susto, aprendi. Valeu a pena. Deve ter sido por conta desse meu chamego ancestral com os ditados: it’s raining cats and dogs, uma expressão bonitinha, a gente diz isso quando a chuva cai pesada, varrendo tudo. Pois, acredite que ri foi de perder o prumo, no meio da rua, imaginando um temporal fora de hora, a penca de pedigrees de todas as estirpes, rodopiando ao sabor do vento, a dondocagem cabofriense histérica, batendo pino, chapinhas encharcadas, a mulherada desabalada, no oco da tempestade, atrás de sua estimação, quanta besteira. Estudei tanta literatura, aqueles poemas ingleses de 1600 e guaraná de rolha, vez por outra era um toró de gato e de cachorro, a origem da expressão é velha como a soberba Inglaterra, os vendavais do passado arrastavam os corpinhos inertes dos bichinhos de rua pela rua, dizem. Criança e cachorro é seis e meia dúzia. Amanheceu ensolarado, é tiro e queda: o sujeito que não pisou em cocô, vai esbarrar num carrinho de bebê, líquido e certo. Outro ditado sensacional é aquele do bebê. Não se trata de retomar o assunto do nosso bebê Johnson’s a lid(b)erar a revolução dos bichos (gente acuada vira bicho), não mesmo. Nem visualizei criaturinhas rosadas e rechonchudas a bailar, em rodopio, sobre a minha cabeça de siri. Do not throw out the baby with the bath water, ei-lo. Esse é do arco da tataravó da soberba Inglaterra, que era alemã. Para quem não gasta seu precioso tempo com a língua do patrão, do not throw out the baby with the bath water é o seguinte: não jogue água fora da bacia. Será? Mentira de quem não perde a piada, rá rá rá. A tradução é não jogue o bebê fora, junto com a água da banheira. Muito medievalmente antigamente, tanto que nem me lembro, os nobres banhavam-se muito raramente, e na mesma água, obedecendo, à risca, a hierarquia: primeiro, o pai e todos os outros homens da casa (vê se pode!), depois, as mulheres e, lá no rabo da gata, a molecada, pobrezinhos. Pela imundície restante na tina, no fim das contas, não duvido um tico que vários inocentes tenham sido lançados morro abaixo, por descuido. É, cidadão, assim ou assado caminha a humanidade. Do not throw out the baby with the bath water, vai a dica para o bem-vindo leitor confortavelmente abancado nesse valoroso alpendre de letrinhas à beira-mar. Leitor que aqueço em meus braços, leitor que acolho em meu desajeitado verso, leitor que desprezo com todas as fibras do ser. Não se distraia tanto. Veja as coisas como elas são. Não descarte a rosa pelo temor de um espinho eventual. Que não lhe escape dos dedos hesitantes o bruto diamante, perdendo-se no fundo do rio enlameado. Não abandone sua mais legítima doce ilusão de menino, em razão de um pesadelo circunstancial. Hoje, preparei minhas mãos de afeto para retornar ao blog, para tocar, de novo, a desnuda face, tão duramente lanhada, desse espaço sagrado, todo meu, criado para o meu usufruto, desfrute e deleite. Foi sofrido. Foi regenerador. Valeu a pena.  Esse mar aberto é meu, meu o abismo, meus os corais mais coloridos, meu o anzol, minha a isca.

12 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Tia, acho que herdei de você essa paixão por observar o homem. Eu só não sei escrever, mas me ajuda muito a compor personagens. Quase racho o bico imaginando a cena do temporal. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Amanhã as 16:30h estarei mais uma vez no palco do luxuoso Dona Lindu. Tava saindo para ensaiar, mas assim que vi a sua postagem no Face parei para ler o brogue. Vicia, tia. A gente passa a semana esperando pela sexta. Consegui entender os ditados mesmo sem “perder tempo“ com a lingua do patrão. kkkkkkkkk Acho que foi osmose. bjos amo

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  2. Esperei com ansiedade! "Valeu a pena"...
    Bjs

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  3. Lindo, lindo...
    Bjs,

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  4. Ronaldo disse: Valeu a pena ver que o botão abriu em rosa, e saber que, antagonicamente, sei que ela fala, e assim como sua crônica, fala aos nossos corações. Te amo.

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  5. Só queria ver chover gatos e cachorros em Cabo Frio, se um ventinho mais forte o povo fica louco, animais serão o apocalipse encarnado. O que de fato é puramente compreensível, onde já se viu? Bicho caindo do céu?

    Felipe Santos

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  6. "Ilusões de menino".... bonito isso, luto para não perdê-las também... manter o sonho a fé e esperança no homem, bichinho complicado.... mas vamos que vamos, vivendo e aprendendo cada dia mais, depois de uma quarta feira de forte e intensas emoções.
    Descobri talentos amigos e pessoas maravilhosas junto dessas emoções, essa é minha busca, minha constante pesca por algo bom,
    Você está me inspirando....
    Beijo e obrigada por este lindo e delicioso momento
    Walkiria

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  7. Adriana, mais uma vez, sua crônica foi emocionante. E cada vez melhor, mais engraçada e mais lírica. Lutamos uma longa e dura batalha. Felizmente o resultado foi fantástico. Valeu a pena. Somos todos pescadores de utopias, de ilusões. Muitos saíram machucados, maculados, porém fortalecidos, prontos para enfrentar batalhas maiores. Seu diário já faz parte das nossas vidas. Quem lê seus textos, torna-se adicto das doses do elixir de vida que vem dessa sua mente fabulosa. Estamos juntos. Agora e sempre.
    Anderson Cortines.

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  8. Oxente - tentando ser igual a vc de algum jeito, Xará, rs - esse nosso Diretor é bom demais, né não? O cara é físico mas escreve bem que só (físicos, é brincadeirinha, tá?). Como disse nossa amiga Walkiria aí em cima, acho que parte da inspiração vem mesmo de vc. Bjão

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  9. Valentia e talento para expor o que pensa e pq não expor também as suas fraquezas de forma tão digna. Um dos princípios clownescos, meu amor. Oferecer-se em sacrifício é isso.
    Tia, você está no picadeiro!
    E escolher caminhar sozinho até o centro do picadeiro não é para os fracos. O nariz do palhaço é a menor máscara que existe pq a função daquele nariz é revelar e não esconder. O público aplaude pq em algum momento se reconhece alí, naquela figura tão humana. Isso é uma troca. Quanto mais verdade(doendo ou não) no jogo do palhaço, mais vitórias e admiradores ele terá.
    Bjinho :D
    Manu

    P.S: Ahhhhh esqueci de falar. Apareci na globo no intervalo de Gabriela. Ninguém me reconheceu, mas eu apareci!! ;D kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  10. Adriana Peixoto, "O cara é físico mas escreve bem que só (físicos, é brincadeirinha, tá?)"
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Que bom que você avisou que era uma brincadeira pq do jeito que tem gente fraquinha das ideias, minha filha, isso poderia virar uma catástrofe. Tenho muito medo! kkkkkkkkk
    Bjos
    Manu Costa


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  11. Apesar de atrasada na leitura, fiquei emocionada em ter nos dedicado esta crônica. Quem dera a vida fosse simples assim... Ficar emocionada com uma crônica!! e a dedicatória, óbvio. Mas, mais maravilhoso é me deleitar nas suas palavras, como já disse, adoooooooooro seu estilo, que mistura suas memórias à retórica acadêmica, lindo! Sou suspeita porque também adoro um ditado bem dito! Na hora certa diz tudo sem a gente precisar explicar demais.
    Parabéns!! bjs

    Mônica Athayde

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