Brincadeirinha,
meninas. That chronicle is yet to come, yet to come. Acho
brilhante a ideia de escrever na língua do patrão, não vou mentir. Penso em construir
um textículo sem firulas, completamente desarticulado do ranço da estupenda vaidade
que corrompe a essência do professor desavisado, um mero textículo rasteiro e
enxuto, a cabeça e os tentáculos devidamente encaixados, cada coisa em seu
lugar, um despretensioso chiste, uma graça apenas, dedicada aos diletos pupilos
do Instituto Federal Fluminense casulo Cabo Frio, a exuberante caçarola de
hormônios em fúria, borbulhando no meu cotidiano – os meus meninos, “passando
por mim e levando destinos tão iluminados de sim”, assim seja. Aprendi
pouco na universidade, não posso mentir. Jazia ali, entretanto, dentro do
pouco, camuflado de nada, o papel da verdade: simplificar é o caminho.
Simplificar é caminharmos para o amor. Ensinar é olharmo-nos e tocarmo-nos. Ensinar é trilharmos juntos, simples e
serenos, a vereda das pedras, de nada adiantando apenas apontar. Quer que aprendam,
minha senhora? Faça você mesma o pão, grão sobre grão, deixe-se contemplar e
aguarde o convite para a ceia, o lauto banquete que virá.
O assunto da historinha de hoje, propositadamente
adiantada porque a minha sexta-feira vai ser punk (dia de consulta médica é dia de consulta médica e nada mais,
os médicos sofrem dessa abominável superioridade profissional, têm essa
empáfia, mania de grandeza, sei lá, acham-se no sagrado direito de engolir a
manhã e a tarde do sujeito, feito se o sujeito vivesse de brisa e não tivesse
que, assim como ele, trabalhar!), o assunto da historinha aportou, de mala e
cuia, impedindo qualquer outro de chegar. Amanheci com o rags na cabeça, cantarolando Noel. Rag é trapo, molambo, farrapo, pano roto, “com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?” . Do amor, da poesia, do cigarro e do
álcool, das madrugadas insones brotou a tísica, no peito de Noel. Sem a
tuberculose, Noel Rosa teria vivido bastante, suponho. O gênio e a tuberculose,
entretanto, fizeram de Noel o imortal que ele é, coisas do mundo, minha nêga. Com que roupa foi composta em casa, a
sua mãe e a sua esposa mantiveram o doente gravíssimo no quarto, enquanto sua
mente fabulosa saía a saracotear pela noite boêmia da minha gloriosa cidade de
São Sebastião, saravá! Arrepiante com farofa, tenho dito.
Quem salta de rags
para riches, despede-se da miséria,
mergulha na opulência. Quem salta de rags
para riches, segue do anonimato para
a famigerada fama, com mais de mil, desembestado, ansioso por deletar da
memória o trajeto de volta às humildes origens, Deus nos livre de andar para
trás, caranguejo, Deus nos livre. Retornando a Bangu, entretanto, minha
senhora, ninguém se perde. Segunda-feira próxima é dia de celebração. O novo
diretor-geral, legitima e democraticamente eleito em berço esplêndido, pela
esmagadora maioria da comunidade escolar, em pleito caracterizado por acirrado
embate entre adequados e equivocados conceitos de gestão, de política de
desenvolvimento educacional, de política pura e adulterada, de liberdade, sobretudo - briga
boa e bonita da qual fiz parte, com o coração transbordante de orgulho
funcionário público e civil - onde é que eu estava?, ah, sim: o novo diretor
será, finalmente, empossado. Por infeliz coincidência, segunda-feira próxima é
o dia do meu teste vestibular, noutras palavras, o doutor pretende estimular
adoidado o labirinto de labirintos dentro da minha cabeça oca, cutucar até eu
ficar vinte e quatro horas tonta de cair, de matar de chapéu, quem submeteu-se
à porra do exame, já confirmou, para meu desassossego. Perder a posse não
quero, nem que a constipada vaca corize e espirre pra danar. Minha grande amiga
Evelyn prometeu levar, na bolsa, uma fita dupla face, para a eventual necessidade
de prender o robusto pião na pilastra, rá rá rá, não desejo nem ver a cor de
quem me segura, sei que é com Anderson Cortines que vou para a festa, ainda que
a tísica vaca escarre e tussa. Não é porque o nosso bebê Johnson’s dispõe de sobre-humana força interior, de física
inteligência e de faceira alegria para desviar a órbita do planeta, se lhe
aprouver, não mesmo. Vou por respeitar e admirar demais a sua doce, mansa e
generosa resistência aos obstáculos do acidentado percurso, inabalável
resistência ao que passou e ao que não passará. Vou pela sua nobre intenção de
proteger a nossa casa, meio caminho andado, vamos combinar. Vou ao quente sabor dos
ventos e da ternura. Com que roupa? Vou vestida dele, por que não? Surradíssimos jeans e camisa polo preta. Com
frango, farofa e a vitrolinha. Não encontro
maneira mais afetuosa de lhe render minha modesta e sincera homenagem.
Parabéns, querido amigo. Boa sorte.
Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
Thiago de Mello
Artigo I
Fica decretado que agora vale a
verdade.
Agora vale a vida
e, de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra,
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio,
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável, fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha, no homem, o sinal de seu suor.
Mas que, sobretudo, tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante,
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Agora vale a vida
e, de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra,
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio,
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável, fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha, no homem, o sinal de seu suor.
Mas que, sobretudo, tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante,
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Lindo, amiga... Emocionante... Também mexe com meus brios de funcionária pública orgulhosa da instituição na qual serve, ciente da seriedade, da grandeza e da alegria do momento que vivemos. Estamos entre os muito bons de coração e mente!
ResponderExcluirPerfeitas palavras, Adriana, a Cronista, e Adriana Peixoto! E vos digo igualmente a todos (presta atenção aqui, bebê Johnson!): tendes também, a vosso serviço, na defesa de nossa tão amada e delicada "casa", a espada da minha mente e o braço forte do meu coração - "Diante do perigo, coragem!". Contem comigo, SEMPRE! Sinto muito orgulho de trabalharmos juntos.
ResponderExcluirAdriana Barroso, eu prometi escrever e escrevi. Só que, no afã de escrever (ainda sob os efeitos da leitura da crônica), escrevi, escrevi, mas esqueci-me de assinar. Antes tarde que nunca, tô aqui pra reconhecer a paternidade do meu comentário: "- Pequenino comentário acima, eu, Bruno "Chaplin", é que sou o seu pai!". Beijos!!!
ExcluirEu já sabia, Bruno Bobo, kkkkk...
ExcluirAdriana, queres mesmo me fazer chorar... Esse texto foi especial demais. Como a Evelyn te disse, gosto de todas as maluquices que você faz, e essa homenagem (hehehe) representa nosso espírito leve que busca o bom humor e a felicidade sempre, mesmo nos momentos mais difíceis, porque não tem que ser de outra forma.
ResponderExcluirSabemos que a vestimenta é apenas um adorno, o que importa é a essência. Seja de esporte fino, grosso, polo, gala, Bangu ou Divino style, vamos celebrar na próxima segunda-feira o fim de uma batalha, e o início de um novo livro. Um livro que certamente será escrito em forma de crônicas, acompanhado como um folhetim por centenas de seguidores por todo o Brasil e o Mundo, por uma BRILHANTE e emocionante escritora.
Anderson Cortines
Gente! Que poema é esse?? E o cara é FÍSICO!!!!! Vamos de mãos dadas, nobre colega, vamos de mãos dadas...
ExcluirLindo e emocionante, como sempre!! No entanto, entenda bem: apenas os puros de coração e de caráter se emocionarão. SOMENTE aqueles que conduzem com ética e brio, entendento que a instituição pública é para o bem coletivo, comemorarão. Que todos os astros estejam alinhados neste dia e esta equipe mostre a que veio...e, last but not least (é assim?), " a burrice é invencível" (adoooooooooooro!)
ResponderExcluirMônica Athayde
E esses comentários me fazendo chorar... Somos todos cronistas extraordinários! Cheers!
ResponderExcluirCoisa bonita é gente inteligente e sensível na direção.
ResponderExcluirAdoro!
Amigos da minha madinha também são meus... que ela tá aí sozinha com meu padinho e eles precisam desse carinho todinho.
Cuidem dela p ela não cair!! :D
Bjinho da afilhada
Manu
Salvem a professorinha, kkkkkkkkkkkk! Eu te amo, Manu!
ExcluirRonaldo disse: Pano de fundo: rapaz banguense. Honesto, competente. Trazendo na bagagem toda a riqueza de uma vida de sacrifícios, e de um saber único, que as coisas e pessoas são conquistas diárias. Parabéns, Anderson Cortines - Beijo em seu coração - Ousar, Lutar e Vencer!
ResponderExcluirO Bangu tem também a sua história, a sua glória,
Enchendo seus fãs de alegria!
De lá, pra cá,
Surgiu Domingos da Guia.
Em Bangu se o clube vence há na certa um feriado,
Comércio fechado.
A torcida reunida até parece a do FlaFlu:
Bangu, Bangu, Bangu!
O Bangu tem também como divisa na camisa:
O vermelho-sangue a brilhar.
E faz cartaz,
Estouram foguetes no ar!
Em Bangu se o clube vence há na certa um feriado,
Comércio fechado.
A torcida reunida até parece a do FlaFlu:
Bangu, Bangu, Bangu!
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Festa, folia! Uma partida de futebol!
ResponderExcluirLindo ver esse sentimento de conquistas , aquele emoção juvenil, todo esse momento me faz sentir assim aquela aluna do ensino médio que ia revolucionar o mundo, apesar da certeira de identidade insistir em dizer contrário, kkkk.... Mas Adrina, my english teacher,suas palavras me fizeram dar um grande suspiro com um arrepio de esperança... de confiança...
ResponderExcluirVejo jovens recém saídos da adolescência, pessimistas, sem fé nas pessoas, pragmáticos... eu voltei no tempo e voltei a acreditar...
Mais uma vez agradeço por fazer parte de tudo isso, mais uma vez enalteço .. suas palavras traduzem nossa emoção...
A vestimenta ideal.... tem não isso de ideal, copiando um amigo meu aí pra cima : " apenas um adorno, o que importa é a essência"
Walkiria
Pedindo licença a uma empresa de refrigerante famosa sito o slogan de sua campanha: "Existem razões para acreditar. Os bons são maioria." Show de bola Adriana, parabéns!!! Será que podemos ter um campus melhor? Yes, we can!!!!
ResponderExcluirLuciano
Labirinto
ResponderExcluirLugar que parece sem saída, anatomia que quando afetada nos tira do prumo, vícios, paixões e qualidades negativas que devem ser conhecidas e superadas. Com amor, inteligência e força o Minotauro foi superado. Perfeito Adriana, total equilíbrio, equilíbrio que vem do coração e não há labirinto que te tire do prumo.
Beijos
Victor (Polegar!!!)
Como é belo o que tu escreves! Como é belo sobre o que escreves! Usar as palavras para enaltecer o bem, o bom, falar de amor, de esperança, de liberdade!!! Falar de alegria, de união, de verdade! Falar de coração e da força que emana dele, da força e esperança que emana de tantos corações! Parabéns! Parabéns a tantos outros que também escreveram sobre isso tudo por aqui! É muito bom saber que, além de brilhantes profissionais, tenho ao meu redor corações de carne, de sangue, de sabedoria, de emoções, de humanidade!!! Um abraço bem apertado de comemoração!
ResponderExcluirLenon
É muito bom expressar nossa felicidade com palavras belas e isso, Adriana, do pouco que conheço, você faz e bem! A nossa instituição terá vitórias inimagináveis nesse momento e no futuro, com a continuação da nossa devoção à uma qualidade de ensino e disponível a todos. Tenho orgulho de trabalhar (mesmo que por pouco tempo) nessa instituição. Trocamos o Windows pelo Ubuntu! Abraços a todos e a você, Adriana, milhões de beijos!!
ResponderExcluirFernando Trindade
Digo, Windows pelo Linux.. pequeno erro.. :)
ResponderExcluir"Simplificar é caminharmos para o amor", você disse isso em sala de aula, em Hospedagem I, a mais pura verdade! Adorei a crônica, meus parabéns.
ResponderExcluirFelipe Santos
Primeiro uma que foi dedicada, agora outra com meu nome...desse jeito, já já vou querer uma inteirinha só pra mim...kkkkkkkkkkkkkkk Felicidade e orgulho de conviver com você Adriana, e com tantas outras pessoas que admiro tanto. E vamos seguindo, com nossas calças jeans e polos pretas (menos Peixoto, claro! rs), pois não precisamos nada mais que isso!!! Beijos.
ResponderExcluirparabens pela belissima cronica, te amo
ResponderExcluirLu