Sol malandrinho, sem mover a palha. O dia mal clareou, o
galo do terreiro adjacente sequer abriu o bico, coitadinho, na madorna, cochilando,
sonhando um farelo de sonho, raspinha de quimera dourada, fantasiando
loucuuuras, rarará, com sua doce e guapa garnizé adorada, decerto, Ronaldo já
controlando os tradicionalmente titubeantes passos da minha hesitante pessoa,
está direito isso? Categoria para gostar de dar as ordens é marido, a senhora
concorda? Leonino então, cruzencredo! Helena, mulher, nem procure saber como
toca a banda, não vale um vintém da pena. Vá decretar na Central de
Arquivamento, chefinho, rarará! Vá pela sombra, coração! Vade retro, entojado! Farei as compras, sim senhor, meu coronel,
sossegue a periquita! Só que tem um detalhe, o seguinte: ouvido de mercador,
larita banana frita, vou na hora que bem entender. Uma semana sem comida, na
minha humilde residência, é um santo remédio para a família carga pesada.
Ademais, quem manda em mim não nasceu, prefere que eu desenhe? Essa pentelhice
só pode ser inveja do meu merecido descanso: férias esquálidas, mixurucas,
paródia medíocre que nem dá para o gasto.
Ronaldo é um anjinho de candura, sério mesmo. Ele é
carioca, ele é carioca, basta o jeitinho, rarará. Aposto que a senhora ainda
não prestou atenção nas propagandas da Itaipava,
cerveja carioquíssima. Faz tantas eras que não saboreio uma loura véu de noiva, tiritando no fundo
do pote, nem posso julgar a supracitada, dizem que é leve, gostosa, pode ser.
Sei que eles vendem o peixe direitinho na TV. São várias situações. Tem aquela
do quiosque na beira da praia, o casal pede uma cerveja, chega o Bruno
Gagliasso, Bruno Gagliasso vai embora, carregando a garrafa, o rapaz pergunta
se a moça viu o ator, a moça faz aquela cara de paisagem, dispara: “quem é? que ator? nem reparei”...
Ignorar artista famoso em beira de praia: 100% carioca. Carioca feito a Itaipava. Tem a outra, a dos amigos
conversando na porta do bar, chega um sujeito, um dos caras faz uma festa
danada, cumprimenta, aperta a mão, tapinha no ombro, tal e coisa, bate um papo
porreta, o sujeito vai embora, o amigo pergunta: “quem é esse?” O cara responde assim: “sei lá! nunca vi mais gordo”... Fazer a social, na maior
intimidade, com uma alma penada que você não conhece: 100% carioca. Carioca
feito a Itaipava. Na minha modesta
opinião nordestina, entretanto, a melhor da série é a do cara passeando no
calçadão. Essa é digna de prêmio, sinto na pele. O cara encontra um amigo,
aquela alegria, “que saudade tua!”,
isso e aquilo, marca de visitar o amigo na manhã seguinte: “vou na tua casa, me espera!”. Três metros adiante, o cara encontra
outro amigo, o mesmo estardalhaço, “quanta
saudade, meu camarada!”, uma lengalenga parecida, o cordial convite, na
lata, em cima do outro compromisso: “tô
te esperando lá em casa amanhã de manhã! fechou! olha lá, hein?” . Essa é
extraordinária! Marcar encontros concomitantes, reuniões paralelas que
florescem e fenecem no âmbito da interlocução de cortiça, da prosa fiada: 100%
carioca: Itaipava. O formidável da
história toda é que o Rio é um território poroso, arejado, onde a dor não tem
razão, as contusões não vigoram, fluidas com pedigree, os cariocas tão de boa, fora do prazo, sapateando no
toró - maceteados, descolados – compreendem-se, defendem-se, relevam, ninguém
dá pano para blazer esporte fino,
menos ainda para mágoas e melindres.
Satanás é os pés da besta para juntar França e Bahia, dessemelhantes
continentes. Minha psicoterapeuta é da gema, nascida e criada na encosta do
Corcovado, as sessões são os naufrágios e os resgates ensolarados, push and pull, trazem-me à tona, sal na boca e no olhar marejado, uma cena de cinema, a senhora avalie. Meu fundamento é custoso
porque é sertanejo, madame, meu passado é jagunço, maciço, solo rachado que me
condena. Nordestino flutua menos que mergulha, agita-se no limo espesso do açude de si próprio. Absolve-se pelo corte, o buraco, a imensa sutura, a cicatriz: precisa afundar, explorar o abismo, tatear
as entranhas do poço, agarrar o cordão partido, amarrar as tiras poídas, reatar
vínculos tão esgarçados, nós cegos a romper-se outra vez, outra e mais outra, como se um grande e intenso relacionamento, tão verdadeiro, tão cúmplice, tão repleto de graça e beleza, jamais houvesse acontecido, deixado um resíduo bom, um ponto de cruz, um símbolo sagrado, na parede atrofiada da memória. Um nó cego, subitamente lasso, a romper-se com o sopro mais delicado. Não. Comi todos os brioches que o diabo amassou. Todas as perdas irrecuperáveis são minhas. Fiz das tripas oração. Para quê? Desperdício de luz. Batalha vã. Inútil sofrimento. Não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais. Cansei de ilusões, minha irmã. Você que esforçou-se tanto
para desamar, deve ter conseguido, a gente vive como pode. Fique em paz, longe do meu abrigo. Pá de cal. The
greatest thing you’ll ever learn is just to love and be loved in return. Recife
borbulha de outros amores.
Um genuíno merchandising da Itaipava né? hahahah
ResponderExcluirBeijão!