Quem não pode Nova Iorque,
Zeca Baleiro sabe e ensina, quem não pode Nova Iorque... Vai de Madureira, meus
amigos e minhas amigas da Rede Globo. A gente viajou no feriadão do corpo de
Cristo, uma excursão pra longe pra raio, o comboio foi bater em Grussaí, passei
tanto tempo no sacolejo do asfalto, vi a hora chegar a hora de apear em Recife,
haja vista a demasia de poeira e de demora. O lugar é São João da Barra, aquele
do conhaque de alcatrão, achei simpático, afora um pedaço de terra acolá, que o
mar tá recuperando na raça e na unha, o povo invadiu, construiu, a água pegou
ar, arrepiou-se, veio com a macaca, varrendo tudo, a onda lambendo pau, pedra e
beira de estrada, é o fim do caminho. Vi, da janela, uma singela amostra de
Campos dos Goytacazes, terra feia do cão, bem que me alertaram, meu olhar
exigente, acostumado às formosidades do meu rincão, benzadeus, fiquei abismada
com tanta escassez de belezura. Acomodamo-nos modestamente num SESC honrado e
decente, por sinal, pense num SESC gigante e multiplique por seis, é mais ou
menos o tamanho. Dentro de quatro dias, a gente num viu metade da área cercada,
pra onde se olhava era o mundo, o mundo sem porteira, visão de imensidão, o
mundo, preste atenção, o mundo é um moinho, inté a vista se atrapaia, cansa e
não alcança. O saldo do passeio é esse resfriado aloprado, três dias de febre
já, moída de corpo e de alma, do cocuruto à sola do pé, a gente se arvora a
cutucar coisa que não devia, só dá é nisso. Mas foi bom. Deu-se que o tempo virou, na
horinha mesmo que a gente chegou na minha pequenina Grussaí. Choveu, choveu, a
chuva botou seu barraco no chão. Choveu canivete, da quinta-feira até o domingo, por essa luz que me atravessa as
carnes, pela graça divina. Pra onde se andava, tome-lhe aguaceiro. Eu, metida a
cavalo do cão, pinotando pra lá e pra cá, feito uma jia acrobata, até
hidroginástica fiz, ceguinha de pai e mãe, dentro da piscina, cada pingo dessa
grossura, o dilúvio comendo no centro e o povo mais eu, com mais de mil, na
atividade física regular recomendada, é cada doidice, que Deus me livre. Na
volta, comprei um caminhão de vitamina C, jurava que ia dar certo. Qual o quê.
Adiei a constipação bem uns quize dias ou mais, porém a bicha chegou foi estribada.
Minha vida eu levo assim, de sol a sol, fungando, corizando e espirrando, desde
que, para a minha pessoa, o mundo é o mundo.
Meu amigo Bruno me pediu uma
crônica nova semana passada. Aposto o que não tenho na certeza absoluta de que
meus leitores dispersaram-se tem é tempo, que ninguém é besta de ensinar
caminho a doido, deitar na linha do trem e esperar por quem não vem. Confesso
que andei desmotivada. Quanto mais leio, menos quero escrever, calçada de
vergonha, a mais pura verdade. Ainda faço uma lista dos sessenta e três maiores
cronistas de todos os tempos, Bruno encabeçando a supracitada, e dou esse caso
por encerrado, ora bolas. Nem disposição para dar um trato na aparência desse
blog eu tenho. Sonho com uma configuração minimalista, tudo às claras, mas não
pego a vassoura. Tinha uma professora em Petrolina, coitada, que não devia
bater muito bem da cachola, Elisabet o nome dela, de Português, uma das
mulheres mais sabidas que já tive oportunidade de invejar, Bet me dizia que eu
não era escritora por falta de disciplina, avalie a sandice. Nem se eu fosse
militar, colega. Nem se eu fosse militar.
Teve um arraial porreta em
Grussaí, isso no sábado da inundação. A gente chegou na festa num trem, uma
autêntica maria fumaça linda de morrer, para ser perfeita a serpente de ferro
carecia só de uma meia dúzia daqueles botes infláveis do Titanic. Teve quem
ficasse nos chalés, debaixo das cobertas, os descontentes, que sempre os há...
Eu não. Desembestei no terreiro, atolada na lama até as tranças, espanando a
asa feito uma pata, farejando pamonha. Nem adianta eu querer saber por qual
arte do diabo vim parar nessa cidade de arraial com pizza, espetinho e cachorro
quente. Pra não dizer que não falei das flores, comi um pedaço de bolo de milho
mais coca-cola. Não tinha café. Nem pra fazer um chá.
São João acende a fogueira
do meu coração, é isso. Minha mãe era a maior especialista em comida de milho, que tive
a oportunidade de invejar. Gastava muito do seu precioso tempo, esquecida das
coisas da vida, ocupada em ornamentar, minuciosa, o alto dos pratos, com pó de canela.
Fazia desenhos geométricos sobre as travessas de canjica, perguntando-me se
estava ficando bonito. Será arte? Deixa chover, deixa a chuva molhar... Dentro
do peito tem um fogo ardendo que nunca, nada vai apagar. Eu sei que é junho,
esse relógio lento, esse punhal de lesma, esse morcego em volta do candeeiro e
o chumbo de um velho pensamento. Boas festas.
Para Bruno.
Morri de rir, tia!!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
"cidade de arraial com pizza, espetinho e cachorro quente"
Putz como deve ser foda p um nordestino ficar longe da sua terra em pleno São João...
E no final a imagem da velhinha mais linda do mundo decorando as canjicas com losangos perfeitos. Melhores do que os dos meus professores de calculo 1,2,3 e 4! Dona Rita era foda!
Beijos
Manu
Enfim, mais uma crônica formidável. Valeu à pena aguardá-la, ali, no pé do blog. Sempre vale! Grato pela dedicatória. Beijos, e "VIVA SÃO JOÃO!!!".
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