Ai
de mim, se começo a não achar mais graça... Ano passado, em
dezembro, escrevi uma historinha fosca, sem muita projeção, para meia dúzia
mais dois gatos pingados, chama-se Rebento
a cria natalina de 2011, um textículo acanhado, coitadinho, baços olhinhos
baixos, dedinho timorato da prosa de que tanto gosto, a senhora
interessando-se, não faça cerimônia, sinta-se na varanda da sua sogra, que é
feito mamãe para a senhora, rá rá rá, use e abuse, vai lhe custar três minutos
do já esgarçado tempo, se muito, e, repare bem, absolutamente nenhum tostão, é dezembro, mas é grátis, a senhora pode confiar. Dezembro
é fogo na roupa... velha. Trajes inéditos, depilação de verão, limpeza de pele,
esteticista, salão de beleza, compras desenfreadas (todo mundo tem dinheiro,
menos eu...), trocas equivocadas, sempre pelo artigo ainda menos desejado, a
gente nunca acerta, novos e reprisados amigos e inimigos ocultos e
declaradíssimos, o megafone na praça: Amo tu, tatu! Te odeio inteira, vadia!
Parto para cima, esmago esse teu miolo mole de minhoca com tosse, eu mais meu
top rolo compressor quatro por quatro! E
as confraternizações fêmeas férteis, então? Todo dia nasce a caçulinha,
impressionante! A São Silvestre arranca,
acelerada, é da minha esquina, ai ai, meu
Deus, alô, adeus, é tarde até que arde, yells the psychotic White Rabbit daquele filminho enjoado. A festa do trabalho, a festa do
trabalho do marido, a festa da igreja (para quem ergueu seu templo fora de si),
a festa da hidroginástica, a festa da padaria, a do condomínio... na rua, na
chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Meus oito leitores do ano passado,
desocupados em edição extraordinária, que são uma categoria de gente muito
competente e labradora, assaz atuante no mercado, nesse mês de pouca séria
labuta e de muito faz-de-conta - ninguém me garanta que inaugura grandes
empreendimentos aos quarenta e quatro do segundo tempo de dezembro, que é
mentira que lorota boa – meus compenetrados, atarefadíssimos oito leitores perdigueiros,
desde o ano passado, estando por aí, de bobeira, pela cidade do sol, engatem a
ré só um tiquinho, releiam Rebento,
aposto que não estão lembrados da croniquinha fraquinha de feição, pobrezinha
de atrativo, um flashback modestamente
indicado por mim, para o momento, convém recuar sem susto, e conferir.
A questão é primeira série primária, I’m not in the mood for compassion, simples assim. Meu peito sofre,
desapontado, estou chateada com farofa, nada me entristece mais que a premiação
do mau caratismo ululante de que me cerco, mãos e pés atados, não tenho
escapatória, isso é o tipo da coisa que mexe com as vísceras do contribuinte, contamina
o sangue bom da pessoa, dá vontade de puxar a cordinha e saltar no próximo
ponto, sinceramente. Curioso é que perdi a voz, ando afônica por opção,
sobreveio-me um abatimento, uma catatonia, sei lá, hoje, para a senhora fazer
uma ideia aproximada, deixei o trem da memória recente descarrilar, que se dane,
desgovernado de más lembranças, fosso adentro, silêncio, por favor, escolho a
palavra rouca, sem ruído, não quero mais piar um pio de pinto, não acho mais um
alfinete a respeito de coisa alguma, ponto final, ando deveras preocupada com
minha flor da pele, preciso higienizar e tratar as perebinhas íntimas e
pessoais, deixar esse barco correr, sem tanta interferência, quem se importa? Se o malandro soubesse como é bom ser
honesto, seria honesto, só por malandragem. O malandro não sabe,
entretanto. Decidi privilegiar dois assuntos maneiros e aderentes, emplastro no
meu juízo, acontecimentos institucionais, dignos de publicação no site da escola
e nos jornais de maior circulação do país, no meu ponto-de-vista, ai de mim, se começo a não achar mais graça.
Eu e minha parceira de todas as horas, Cibellita amiga
daqui até a eternidade, fomos convidadas a participar, essa semana, sob a
batuta do colega Maurecir, de um evento organizado pelos alunos do grêmio,
salvo engano, um show de talentos, um intervalo poético-musical no meio do
caminho das abomináveis avaliações de recuperação, um coquetel de cantoria para
desopilar o fígado; colorido, perfumado encontro do verbo com o som e com o
riso, desses encontros que integram, sem o distraído sequer dar fé, os mais sensíveis e mansos de coração, os
bobos da corte iffeana, fiquei bastante
emocionada, feliz por sermos, eu e minha parceira de todas as horas, mais uma
vez, convocadas para o samba, justamente quando o tom da conversa envolve amor e arte, beleza e
alegria. Improvisamos no requinte, ficou bacana. Os meninos têm extraordinárias
habilidades, além do destemor característico dos hormônios em fúria. Parabéns, moçada. Nossa instituição abriga grandes,
múltiplos artistas, ninguém segura esses bebês. Meu receio é despertar
sozinha um belo dia, sem amanhã de manhã que me valha, Cibelle longe daqui, eu completamente estrangeira de alguém que fale a minha língua enrolada.
Se
começo a não achar mais graça, assisto a uma etapa do
torneio brasileiro de dedobol, o
risível bálsamo das minhas horas de pesado trampo a seco, sem bisnaga de
vaselina. Muito comentou-se acerca dessa
extraordinária modalidade esportiva indolor e inodora, que não deforma, nem
solta as tiras, pelo contrário, traz diversão só, pura zoação e providencial
alívio laboral, o primitivo artefato de fazer e de conservar amigos, não me
recordo de registro escrito, aqui no blog, dos efeitos analgésicos e
cicatrizantes dessa oitava maravilha da terra, sobre a minha falta de culhão
para os pepinos do dia-a-dia, é a chateação recomeçar, proponho uma partidinha
ligeira, para desanuviar a cabeça, para a energia da sala dos professores mudar. Gosto
do esporte, mas não pratico. Prefiro apreciar os disputadíssimos embates, engasgar
de tanto rir, escutando a narrativa do gigante Bruno radialista, uma figura
inoxidável esse menino graúdo, o juiz
ergue o braço, apooooonta para o centro do campo, final de jogo, a equipe da ‘Bicicreta na Cicrovia’ deixa o gramado, soturna, cabisbaixa, sorumbática, eu diria, a fiel torcida ‘Cacareca’ vai à
loucuuuura, delííííírio na arquibancada... Dedobol é invenção de Bruno,
aposto. Se não é, podia ser, borbulhando por dentro do gigante Bruno, a inteligência, a paixão, a imaginação e a indignação equivalem-se, incontestavelmente
buliçosas, aguerridas, brilhantes, apesar de todos os pesares. Lamento por
vocês, caríssimos fuchique addicts,
que, a essa altura do baile, perguntam-se de
que diabos ela está falando? Um caixotinho rústico, fileiras de pregos
fincados, uma moeda pelota de cinco centavos, dedos ágeis de marmanjos barbados, duas dúzias de craques, no núcleo do cáqui tapete cor-de-rosa - futebol, sua tradição e glória - duelo de titãs costurando o campo de madeira... e a
Copa do Mundo, na Baía Formosa, em plena segunda-feira. Meu receio é despertar
sozinha um belo dia, sem amanhã de manhã de final de campeonato que me resgate,
Bruno e demais atletas alhures, longe daqui, meu olhar forasteiro, fatigado,
vazado de fitar o contorno do nada.
Que pontinha de tristeza no final Dri! Dezembro, uma semaninha só para as sonhadas férias (ou uma semaninha só para Recife, uhul), é melhor ficar feliz com o agora do que sofrer por alguma coisa antecipadamente, haha.
ResponderExcluirAh, li Rebento, claro que não ia perder a indicação, que crônica mais lindaaa! Apesar do estilo diferente, arrisco-me a dizer que foi uma das que mais gostei, é linda, emocionante, gostei de você ter escrito uma crônica tal como Rebento.
Sobre o dedobol, eu estava certa, sei o que é, só não tinha idéia de que ele fazia a alegria da galera assim hahaha
Bjs, Luana.
Quanto lirismo! Quanto lirismo!
ResponderExcluirNão podia esperar mais perfeito presente de Natal que essa epopeia em prosa dedicada ao mais vagabundo e sem-vergonha desporto praticado em nossa instituição de ensino, bem como aos seus desacreditados e indigentes atletas. O Dedobol acaba de inscrever-se na posteridade! Para mim, pessoalmente, encaro esta crônica como uma das mais maravilhosas declarações de amizade (que é um tipo raríssimo de amor) que até agora recebi na vida. Pode deixar, Adriana, não se avexe não, enquanto este "clown" respirar, a manhã agourenta que descreveste nunca alcançará a nossa sala dos professores! Todo dia será dia de final de campeonato, com o nosso time campeão!
Beijo,
Bruno.
P. S.: Em janeiro, Camilinha e eu esperamos você mais Ronaldão-coração-de-Leão para um peixe ensopado com vinho branco aqui no nosso apê.
Já é, parceiro!! Beijinho pra Camis!!
ExcluirTia Drika, sempre com suas crônicas tão tocantes e singelas...
ResponderExcluirLinda. Não aprecio muito esportes não, nem dedobol (Mentira, recalque porque nunca consigo ganhar.)
E a apresentação, queria ter visto você e Cibi cantando, deve ter sido lindo!!!
E compartilho desse seu sentimento, de as vezes sumir e viver bem longe, de tudo e de todos... Mas, eu sei, que mesmo que seja um mísera alma, eu sei que alguém precisa do meu sorriso pra estar bem.
E se a senhora sumir assim de uma hora pra outra, como fica os seus "filhos", os seus fuxiqueiros fiéis...
Não suma. Mas se um dia der a louca e ir, pra longe, leve um notebook e um modem 3g junto... (rs')