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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Maracujá de gaveta

Nada de mais, nada de mau, ninguém comigo, além da solidão. A senhora deve estar indagando a seus botões e ao próximo, ‘crônica de segunda-feira?’, não é esse o combinado. De fato. Entretantomente, cá para nós e para a vizinhança faladeira, a senhora arrasta uma asa pelo bloguinho, hein, minha senhora, vai dizer que não gosta de uma fofoca recém-desabrochada, fresquinha feito o café da manhã sem sinal de sol  e sem coisa mais edificante para projetar, operacionalizar e parir, a minha avaliação, na opinião que a senhora nem pediu, aliás, é a seguinte: a pessoa da minha idade dispõe de duas alternativas estruturantes de amadurecimento (eufemismo da porra, rá rá rá!!), uma é a batata frita, a outra, o azulejo, coloquemos assim, tamanho o contraste, duas concepções diametralmente opostas, antônimos vieses de vida. Conheço cinquentões com a fogueira no rabo, umas gentes que parece que tomam uma bolinha e assumem a compleição e a personalidade verdes do incrível Hulk, saem com mais de mil, inventando e realizando coisas extraordinárias, do cabra ficar besta, acomete-lhes aquele comichão desenfreado de co(a)çar novos conhecimentos e considerações sobre a roda da rebinboca da parafuseta, aperfeiçoamentos vários, na sua e noutras áreas nada a ver, o cabra fica é polivalente, rá rá rá, aprofundamentos abissais, a cabeça do sujeito chega fumaça, o corpo carece de acompanhar, a todo custo, essa gente pesquisa o DNA e as novas modalidades de manter a forma de menino, tome-lhe academia, tome-lhe carreira na rua, na chuva, na fazenda, fazia tempo, a propósito, que eu não via o povo correndo tanto por aí, aonde a gente vai, topa com um bravo brasileirinho irmão, trajadinho de Papa-léguas, me lembro logo do desenho animado, vejo a hora o Coiote materializar-se ali mesmo, no calcanhar de Aquiles do atleta maduro com tudo em cima, devorar-lhe voraz a panturrilha, para o sujeito saber o que é bom para tosse. Na curva perigosa dos cinquenta, da qual me aproximo, a contragosto, em ritmo bem diferente, a passos muitíssimo menos largos e frenéticos, acentuadamente limitados e artríticos, deixo claro, quem não malha os bíceps, tríceps e quadríceps, naquele intervalo entre a aula de Inglês Instrumental e o amaldiçoado abstract das trevas, ainda por concluir, está estudando de perder a arruela do juízo, uma temeridade azulejada. Não está vendo? Não estou nessa! Eu quero sossego! A outra gente é a minha praia, a da batata frita do topo do rol das preferências gastronômicas, categoria em que me incluo dos pés ao cerebelo, eu e eles, na marcha da formiga, sem lenço, sem documento e sem vontade, devagar quase parando para um chope na birosca da esquina da segunda-feira com o desnaturado domingo que partiu sem um furtivo aceno, custoso que só, de regressar.
Pra ver encorparem os caules. Pra me ver mais tarde, sabendo o que sabem os velhos. Lá vou eu, eu queria ficar. Argumentarão tratar-se do inferno astral da caprina aniversariante de janeiro, dia letivo ano que vem, quero festa na escola, digo logo. Não se trata disso, o caso é mais sério. Raciocine comigo, caro leitor interlocutor do meu desvario matinal: definitivamente, não estou no meio do caminho, isso é conversa mole para dar de comer à insônia crônica do cara preta, senão, vejamos: batidas na porta da frente, é o tempo. Às vésperas de completar a dura prova dos 47, fiz uma continha de cabeça e percebi, assombrada, que atravessei os primeiros cinquenta por cento já, faz um pedaço de chão, a menos que o Senhor das Esferas, brincando de mau gosto, tenha me reservado um porvir meio ruim das pernas, que jamais desejei, doído, arrastado, de privações as mais humilhantes para um ser humano, e de esquecimento. Meu pai morreu aos oitenta e três anos, lúcido de dar inveja a qualquer fedelho que desfrutasse do privilégio de conhecê-lo, os da minha casa sabem a que me refiro, PRIVILÉGIO maiúsculo, não existe outra palavra. Tanto que, no hospital, minutos antes do acorde final, que não presenciei, nem poderia, Deus soube afastar daquele quarto os que não teriam sobrevivido à cena, ele avisou, “eu vou morrer”, e morreu. Desse dia em diante, aprendi que não preciso de noventa e quatro anos perambulando vida afora, a menos que os pecados sejam tamanhos, que eu mereça o castigo.
Não procuro esmiuçar as cem razões por que o novo semestre acaba de raiar, pras bandas do IFF, onde não estou no momento, pela graça divina, minha preguiça pesa hoje duas vezes mais que meu corpinho roliço, as importantes razões por que o semestre começa sem que haja necessidade de esforço algum, de minha parte, no sentido de recepcioná-lo, com toda a devida pompa, circunstância e sacrifício. Das duas, uma e meia: posso estar completamente vagabunda de carteirinha, senil, caduca dos últimos lançamentos didáticos e metodológicos concernentes ao ensino-aprendizagem da língua do patrão, por pura opção, uma pobre alma desinformada, desatualizada, ultrapassada, obsoleta, dando aula do tempo que Dondon jogava no Andaraí, salvem a jurássica professorinha e os desafortunados aprendizes de um futuro imponderável... e breve. Outra possibilidade, a menos provável, é a da minha pessoa já ter visto de um tudo nesse mundo das letrinhas estrangeiras, sobrando sempre duas palavrinhas esquisitas para tocar gaita, o privilégio maiúsculo de ser muito velha no métier, de haver esfolado adoidado o solado do pé, no terreno quente e arenoso, de preferir, doravante, a maciota corrediça, o recapeamento asfáltico tinindo das boas estradas, fartas de água fresca e de sombra, as quais percorro vendada, de cor.
Para não dizer que meu planejamento acadêmico está puído de tão gasto, se bem que não se mete o bedelho em time vencedor, ora bolas, acrescentei uma proposta de trabalho ao pergaminho, a única, indivisível e multiplicadora, para o desafio que virá: estreitar os laços de afeto com os meus alunos de ontem, de hoje e de amanhã. Procuro ser muito cuidadosa na minha relação com eles, apesar do pavio cada hora mais curto as time goes by, perdão, queridos. Devem queixar-se de mim por aí, nem ligo, é da gênese do aluno reclamar da vida e da gente, rá rá rá, mas amo esses meninos como se cada um fosse um filho que a vida não me deu, simples assim. We’re giving love in a family dose, that’s it. Ainda ontem, conversava com Luana, que não estuda comigo, a propósito, lá no face dos desocupados, rá rá rá, sobre uma coisa engraçada que identifiquei num dos comentários de Evelyn, a respeito de Epígrafe. Evelyn acha que Luana é minha sobrinha, não é bacana isso? Luana me disse que, às vezes, sente como se eu fosse professora dela, não é muito bacana isso? Luana achou que o Francisco da foto era meu sobrinho, isso não é bacana demais? A senhora agora teve a certeza absoluta de que eu estou gagá, mas não me importo um tico. É o meu jeito de perecer sobre a face da terra, ninguém tem de me acompanhar.

10 comentários:

  1. Os amigos são a família que podemos escolher! Muitos escolhemos, e outros nos escolhem, e nunca sabemos onde e por quem começou, simplesmente, porque a amizade é via de mão dupla, é sentimento recíproco, é escolha que a razão desconhece!!!
    Penso que a vida não deva ser contada pelo número de anos, mas pelos momentos vividos ao lado dessa família. Assim, não saberemos se estamos no meio ou no final da jornada, pois o que há pela frente? Quem está por vir? O temos para viver? Momentos bons ou ruins? Quem estará ao nosso lado lá? Aonde e quando é o lá? É bom saber que eu não sei o que vai ser! kkkkkk!!!
    Olhe Adriana, as coisas que você provoca em nossos pensamentos. Tem hora que dá um nó, mas é bom demais! Bjs!

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    1. Lenon, querido amigo... Adoro seus comentários! É o nó da madeira! Lenha na fogueira, rs! Um beijo.

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  2. Posso dizer uma coisa, sei que não foi o sentido do texto, ou talvez tenha sido, ~whatever~ mas chorei(Pois é, os demônios também vertem lágrimas.) com suas palavras, foram tão vívidas pra mim, tão cheias de sentimento. Muito mais que um tia, pra todos nós, você se faz uma mãe, e não é da boca pra fora que digo isso, até porque a hipocrisia, essa eu tento afastar de mim, mas desde o começo, desde o primeiro "Mobiiiiiiiiiile", "Italy is a repetition, you have a point." Desde aquele dia, eu percebi algo diferente nessa professora e com o passar dos dias, a sua unicidade, permitiu que cativássemos por você, um sentimento bem mais forte que de simples alunos e professores, o que não é comum como você mesma disse, pois nessa vida reclamar de tudo e de todos é o que fazemos.
    Não sei o que me fez chorar, talvez tenha sido a tristeza de ser órfão de mãe? Não sei, não sei mesmo. Mas nesse mundo, onde cada canto eu tenho uma mãe, uma pessoa que zela e se preocupa por mim, vixi mamãe Adriana, não me importo não vice? Quanto mais, melhor.
    Amor nunca é demais e é esse amor, carinho e respeito que devoto a você, muito obrigado, Adriana.

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  3. Uiii...quem chorou fui eu agora com o comentário acima !!! Ai ai...rs. Eu achei que Luana fosse mais uma sobrinha "oficial"...me enganei mesmo! Mas de Manu tá tudo certo, é até minha amiga no facebook da vida...kkkk. Ah, e agora eu sei porque não corro por aí, me exercitando...é que tenho medo do Coiote, só por isso, nada mais! kkkkkkk. Bjos. Evelyn

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  4. Wellington, amigo, a cada dia você me surpreende, mais fofo e sensível!!! Mas eu o entendo viu Dri, pois não sei como professora, mas já sei que você é uma dessas pessoas que lembram carinho, colo, bondade, que conseguem encarar a vida com bons olhos e que acabam sempre transmitindo bons pensamentos... pessoas queridas que ficam em nosso coração! Não seria nada mal te ter como tia... como eu queria... apesar de, por ter inventado de ler em voz alta como você, estar ouvindo coisas do tipo ‘’nem vem que eu não te dou, nem te empresto’’, hahah. Toda Adriana deve ser um pouquinho possessiva assim, querendo proteger sua prole... kkkkkk
    Bjs. Luana.

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    1. Se eu tivesse uma filhinha como você, faria pior, kkkkkkk... Sabe que ontem meu dia foi salvo pelo gongo, não é? Fui dormir com o coração aliviado, aos quarenta e seis do segundo tempo, por causa das suas 'tenras' palavras... Obrigada, visse? Beijo!

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  5. Um esclarecimento à trupe de fuxiqueiros, kkkk, leitores dos comentários alheios, kkkk... - a luxuosa moldura da minha pobre palavra, o regaço da poesia, o ninho de afeto onde meu texto se acomoda, feliz e passarinho: a mãe de Luana chama-se Adriana, como eu. Vamos seguindo, entrelaçados. Distraídos, venceremos. Um beijinho para você, Adriana, mãe de Luana. Amém.

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  6. Pode se tranquilizar Adriana! Eu afirmo com toda a certeza e com o respaldo de toda Hospedagem I, você é a melhor professora do mundo! Não há nada de ultrapassado no que você diz, esses "mobiiiiiiiles" e o sotaque mais fofo do universo (o britânico e principalmente o nordestino) é bom de mais ouvir! É um abraço, é um cheiro no canto do rosto! Nós percebemos seu amor pelos alunos, é evidente que uma professora tão engraçada, que converso conosco como se fossemos amigos nos encontrando pra jogar papo fora, tem algo de especial, não é qualquer uma que faz isso! É só você! Pois saiba que a cada dia esse blog me conquista mais, não dá pra ficar sei ler. Sou fuchiqueiro de carteirinha e "com farofa" kkkkkkkkk.

    P.S.: Até os comentários dos outros leitores aqui são lindos! (entende-se: chorei lendo-os)

    Felipe Santos

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  7. "és um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho... tempo tempo tempo tempo.. és um dos deuses mais lindos.."

    impermanência. e ponto.
    bela cronica, tia. (dia 23 faço 40...)
    beijo, Lu

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