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sábado, 15 de dezembro de 2012

Valentim's Day

Amanhã é 16 de dezembro, aniversário natalício de Valentim de Oliveira Barroso, meu caçulinha adorado.Três anos de festa em casa, meu cachorro nasceu para fazer a gente feliz, é isso. Impossível esquecer o narigão torcido da minha valorosa ex-professora de canto, ainda entre as minhas relações, rá rá rá, Itália querida, cada vez que declaro ao mar, ao clarão da lua, à terra e às estrelas do meu céu de estrelas, como é grande o meu amor por você, minha salsichinha jabu, jabu de jabuticaba, meu cachorro é afrodescendente, rá rá rá, como eu, a coisa mais linda de se ver e ter. A minha ex-professora de canto é uma flor de pessoa com esse gravíssimo defeito de fábrica, tirando eu, ninguém mais é perfeito, rá rá rá, releve, coração de melão, releve. Agora falando sério, minha senhora, a senhora também, bem que aproximou simetricamente as sobrancelhas, no súbito franzir da testa ultrajada, trejeito que não lhe fica nada harmonioso, a propósito, não faça careta, minha senhora, sou capitã do time dos que preferem bicho a bicho-homem, no mais das vezes, tudo dependendo do apelo da ocasião. Não troco meu cachorro por uma criança pobre, mas nem que a vaca tussa sangue pisado. Meu saquinho arrastando no chão encerado, no que se refere à questão, rá rá rá, do acolhimento das idiossincrasias coletivas e individuais, venho lubrificando tanto a minha tolerância zero, de uns tempos para cá, acomodando, assim, assado e cozinhado, no sofá da minha sala, o ‘uterinamente’ diverso de mim, vive la différence tem limite!, tenho sido tão hímen complacente, que sonho acordada com a manhã da compreensão universal, meu semelhante entenderá, sooner or later, na encarnação vigente ou na próxima, que criança e cachorro são departamentos completamente distintos, apesar das idênticas desproteção e inocência, desproteção e inocência características de ambas as espécies. Meninos e caninos são grãos superiores, convivem recíprocos, profundamente identificados um com o outro, dentro do mesmo patamar mais elevado da existência de animal e gente e pedra e parafuso. Entretanto, ninguém, nunca, jamais, em tempo algum, deixará de amar um cão para amar um filho, assim como é puro e verdadeiro que o sujeito, fazendo bom uso das atribuições da própria sã consciência, jamais deixará de amar um filho para amar um cão, não se trata de excluir, nem de substituir, digníssimo leitor, a sua colher não pode azedar o pirão de amor do outro, não interfira na decisão de amor do outro, a particular decisão do quê, de quem, de onde, de quando, de como e do quanto amar, que um cristão possa tomar na vida. É uma lição tão simples, que embasbaca: abrangei, multiplicai. Percebe? Ou precisa que eu desenhe?
Houve um momento, na minha difícil batalha para melhorar a voz, nem pense que cantar é um mar de rosas, cantar direito exige exercício, disciplina, é punk, tanto que pelejo faz uma era, estou é longe ainda de aprender, sigo cantando errado porque tenho de estar envolvida com um atividade de que goste tanto quanto gosto de ensinar, para o dia do lenço branco, flor de ir embora é uma flor que se alimenta do que a gente chora, já esteve tão longe a hora da despedida da sala de aula, por incrível que pareça, cochilei no recreio, suponho, esse adeus, de repente, acompanha todos os meus hesitantes passos agora, não sei mais mentir, qualquer extrema alegria ocasional, e são muitas, praticamente diárias, admito, na minha profissão, qualquer entusiasmo é sobrepujado pelo desejo intenso de parar. Conto com a sorte de contar com alunos fabulosos, sensíveis a ponto de perdoar a exaustão da professorinha, são tão parceiros, incansáveis colaboradores, da senhora duvidar, minha senhora, da senhora duvidar. Meus vinte e seis anos de dedicação exclusiva à bela causa, acabaram comigo, às vezes sinto que exagerei na dose, falta gás para fechar o ciclo com alguma possibilidade de medalha, uma pena.
Houve um momento em que não dispúnhamos de espaço físico para o canto. Itália ficou sem teto, tadinha. Espaço físico é feito hemorragia de sangue? Sei lá, deixa como está. Sugeri que os encontros semanais acontecessem na minha casa, fiquei contente de oferecer meu modesto lar para o aconchego da música, sou devota de Nossa Senhora, de São Francisco de Assis... e do violão. Animada com farofa, pinto no lixo, expliquei para a minha ex-professora que Valentim era muito novo ainda, que a veterinária tinha me orientado bem certinho sobre como uma visita deveria se comportar com ele, aproveito o ensejo para vender esse peixe, se a senhora precisa de uma veterinária com pedigree, anote aí, o nome dela é Érica, Drª Érica Toledo, pode confiar. Quase escrevo uma cartilha, de tanto que expliquei, minha senhora: quando entrar, Itália, não encare o cão, deixe que ele vai latir até cansar, não faça gracinha, não chame a atenção dele, faça de conta que ele não existe, não chegue muito perto de mim, ele pode achar que é uma ameaça, pode avançar, não tem mistério, Itália, é chegar, ignorá-lo, a gente tem aula numa boa, ele vai se acostumar com você, não vai haver problema, logo, logo, vocês vão ficar amigos, você vai ver. Valentim precisava de indiferença, quanta nobreza, Itália não viu. Nem Itália é indiferente a cachorro, a senhora veja bem. O discurso não surtiu o efeito esperado: “Adriana, querida, não irei porque você está trocando as bolas. Seu cachorro precisa ser adestrado, eu não”. Cerveja o que a vida é. De tudo se faz crônica. E canção.

Para você, Valentim do meu coração.

4 comentários:

  1. Vida longa, saudável, feliz e produtiva para Valentim! Bjs para toda família, caninos e humanos.

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  2. Como assim? É sério isso que a Sr(a) ficou sem professora por causa do Valentim? Mas precisa desses cuidados todos? O cachorro é tão arretado assim... Bem, eu "tenho" uma pincher linda, um pouco maior que a minha mão. A amo demais. E parabéns pro Valentim, já tá ficando velhinho. Daqui à pouco dá trabalho correndo atrás das namoradas... hahahaha!

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  3. Eu tenho uma gata, Hipotenusa o nome. O nome tem uma razão especial, não foi castigo não hahaha, é que ela entrou na minha casa como se já a conhecesse, isso sem ninguém perceber. Nós só a vimos quando ela se aproximou da mesinha de centro da sala, se inclinou e ficou cheirando meu livro de matemática. Se você estivesse lá na hora e olhasse a cena do mesmo ângulo que eu, veria ali um triângulo retângulo (o mais fofo do universo), e ela seria a bendita hipotenusa, o maior lado dele se espichando curiosa pra olhar a mesinha. Daí veio o nome dela.
    Nunca vou esquecer a foto do seu "cão-pinguim paradoxo" kkkk, a foto dele na praia em pé sobre as patas traseiras parecendo um pinguim, lindo!! Que outros lindos aniversários cheguem pro Valentim e outros aniversários da senhora junto dos seus alunos, não vamos deixar você ir embora ;)

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