Os capricornianos nascem velhos, li outro dia, não sei onde, não sei quando, minha memória é fogo, li e concordei de pronto, lembrada de mim. Sou velha desde criancinha, nasci do tamanho de um bebê de dois meses, fui me criando assim, grande para a idade, madura para a idade, lia e fazia conta muito antes do jardim da infância, nem sei por que não assumi o posto da professora, para alfabetizar eu mesma os queridos coleguinhas da sala de aula, estatura e discernimento eu tinha de sobra, muito mais que a tia, teria realizado um excelente trabalho, suponho. Não bastasse tamanha maldição astrológica, cresci cercada de adultos metidos à besta, uma contribuição importantíssima para a minha formação de anciã prematura. No dia em que eu assisti ao extraordinário O curioso caso de Benjamin Button, um filme que, a propósito, recomendo para todas as faixas etárias, do berçário à casa de repouso, chorei, chorei e chorei, "requintada e esquisita como uma dama", explicações aqui obviamente desnecessárias, esclarecer demais é uma coisa que cansa pacas, quem não viu a película, cuide de ver, enquanto há tempo, cinema é a maior diversão.
Na curva perigosa das 47 primaveras ‘de praga’, vez por outra, ansiosa por novidade, buscando ampliar meus horizontes melódicos, reciclar o tom, remoçar o ouvido, virei cantora meia-boca, não sei se sabem, desprezo Francisco Buarque de Hollanda, aventuro-me por outros oceanos azuis, pesquiso revelações musicais, escancaro o peito para os jovens intérpretes e compositores nacionais, sem quaisquer entretantos, sem um pingo de preconceito, juro por minha mãe mortinha. Faço descobertas fabulosas, chego a decorar uns versos, para cantarolar depois, alegre da vida, debaixo do chuveiro. Por outro lado, o lado bom da canção, "pra mim basta um dia, não mais que um dia, um meio-dia e eu faço desatar a minha fantasia." Que barcos virão pra resgatar os sobreviventes da paixão? Francisco Buarque de Hollanda injetável, inoculado nas veias abertas da sexta-feira. A droga é pesada, o bagulho é doido, transcendental, sobrenatural até. Francisco Buarque de Hollanda, o maior de todos os homens do Brasil, recentemente completou 68 anos de beleza e de genialidade, pela graça divina. Vida longa para o rei. Tremo de pensar no seu desencarne, que já esteve bem mais distante, vamos combinar. Tenho certeza igual à certeza de que ambos morreremos um dia, de que jamais haverá, no íntimo das letras brasileiras, uma criatura equivalente, em forma e no conteúdo da redentora poesia.
Para os fãs... de Chico, claro.
Ronaldo disse: A maturidade é fato. Ficamos mais seletivos, escolhemos melhor as coisas, pessoas, as formas pronunciáveis que não venham a ferir o eterno "tic e tac" da engrenagem terrena. Muito bom. Cada vez melhor.
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