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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Carrossel

Morrendo de escutar o songbook do Edu Lobo, que fez aniversário essa semana, de quem sou fã de carteirinha, desde sempre. Destaque para Ney Matogrosso interpretando, com brilho e galhardia, a contundente Vento Bravo, “como um sangue novo, como um grito no ar, correnteza de rio que não vai se acalmar”. Mais destaque ainda para Alceu Valença, “quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar”, pintando e bordando com as nuances de Ponteio. O apocalipse acontece sob o comando do Bernardo Lobo, fica um pouco do teu queixo no queixo do teu filho, fica a mesmíssima terna voz, um descerra os lábios e o outro (en)canta, Bernardo Lobo me arranca suspiros e lágrimas sentidas, singelamente entoando o Cordão da Saideira, “lembro do corso na Rua da Aurora, moço no passo, menina e senhora no bonde de Olinda, pra baixo e pra cima do caramanchão, esqueço mais não... E frevo ainda, apesar da quarta-feira, no cordão da saideira, vendo a vida se enfeitar”... “Deixo que as águas invadam meu rosto, gosto de me ver chorar”. Edu Lobo conhece a minha terra adorada, como a palma da inspirada mão criadeira, seu pai nasceu e cresceu ali, o herdeiro da fecunda poesia pernambucana caiu em tentação, fica um pouco do teu chão no coração do teu filho, “mesmo que você feche os ouvidos e as janelas do vestido”. Essa manhã fria de agosto deixa a gente comovida como o diabo veste prada, eu gosto é de me ver chorar.
Digitação nunca foi meu forte, digito pouco e perco muito, insipiência tecnológica é o fim da picada. Dou preferência ao  acúmulo das inúmeras folhas, haja vista os cadernos que mantenho há seculos em conserva, delicadamente rabiscados do mais valioso nada, com letra redonda de professora primária, inutilidades públicas e privadas as mais variadas, sou viciada em bolor de papel, uma mui avantajada traça. Imaginem vocês, meus respeitáveis quatorze leitores, gratíssima pela generosidade em flor, o transtorno que experimento ao escrever hoje, sexta-feira internacional da vadiagem, em estado de labirintite aguda, zoró feito um peru descabeçado rodopiando no terreiro. Os caracteres cismam em rebelar-se, inscrevem-se onde bem entendem, linhas sobrepostas, nem sei como foi que cheguei até aqui, se cheguei, ora, persisto na batalha, mister é mesmo fofocar, ainda mais se a fofoca diz respeito ao próprio consorte, o marido é meu, deixo-me falar.
Quem assistiu ao capítulo de ontem, entendeu, mais ou menos mais para menos, a cena, a acusação de desrespeito à individualidade virou um pandemônio, lembram? A questão toda é que tem dia que de noite o engolidor de faca em fogo não deglute uma muriçoca com tosse, não é verdade? A frase reverberou por dentro do meu organismo, foi dilatando, fiquei cega de raiva, sentindo na pele o meu desrespeito à minha individualidade, inaugurado no dia em que decidi partir, despedi-me de tudo e de todos, sem vacilar, para vivermos os dois em um, aqui, condenados à felicidade, sem chance de escapulir. Os capricornianos são essa raça esquisita e melodramática, fazendo na vida a pior escolha: sofrer. Gastei minha terça-feira em pranto convulso, chorei o novo e o velho, de adoecer, até ficar com dó de mim, muita falta do que fazer, digo logo.  No dia seguinte, não deu outra, acordei zonza, tonta de cair, o mundo girando feito os cavalinhos de brinquedo do parque, aqueles que, menina, via na praça, sem poder brincar... Levantei-me a custo, botei os bofes para fora, gritei pelo algoz, ele veio louco, desembestado, em meu socorro, nunca foi diferente.  Voei para a urgência do hospital, o médico acertou no centro da mosca: “a pressão está normal, havendo o histórico familiar, como no seu caso, algum estresse deve ter desencadeado a labirintite, minha senhora. Quinze dias de LABIRIN. Nada de café, chocolate, mate, chá preto e coca-cola. Passada a crise, procure um otorrinolaringologista para a realização dos exames e confirmação do diagnóstico. Ah, e a senhora precisa livrar-se do agente desse estresse, faça uma reflexão cuidadosa, jogue esse problema fora no lixo, combinado?” O amor é uma atividade aglutinadora, fato. Já confundimos tanto as nossas pernas e os nossos quereres, não é, Ronaldo?  A individualidade sobrevive de dicionário. Até a gente aprender, meu querido, a vida vai dar lição. Combinadíssimo então, doutor.

Um comentário:

  1. Eu também tenho muita dificuldade em digitar no computador, apesar de ter nascido na "era digital" não troco meu papel e caneta por algumas dúzias de teclas frias. Sem falar que na pressa eu acabo trocando uma letra por outra no computador. Isso já causou erros desastrosos!

    Felipe Santos

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