Minha suspeita virou fato consumado. Fábio Lima, da
crônica passada, crônica passada é o máximo, acabei de me lembrar da minha mãe,
de quem jamais esqueço, questão mesmo de sobrevivência, a minha mãe dizia ‘coma não, está passado!’, referindo-se
ao alimento esquisito ao seu apuradíssimo olfato, àquele pão de aspecto e aroma
vencidos, às frutas, principalmente, ‘coma
não, está passada, é comer e adoecer!’, parece até que, no preciso instante
de que preciso, preciso instante de que preciso, ali na esquina da Saudade com
a Sossego, a dois passos da União, assisto, carpida de nostalgia, à cena: o nariz enfiado na
geladeira, supervisionando as catequinhas plásticas, isso sim, isso não, isso
Deus me livre. Deus é que sabe como escapo da disenteria e da cólera (é mágoa!), sem o seu cuidado, Dona Rita, minha estimada mamãe, mamãe querida do meu pobre
coração atormentado... Deus é que sabe. Darei continuidade ao pontapé
desalinhado de mais uma resenha antecipada, minha senhora, com fé no Altíssimo,
vá desculpando tamanha escassez de foco. Antes, entretanto, imodesta com
farofa, por todos os meios e para todos os fins, declaro que os mais belos
nomes de rua do mundo inteiro, e de Marte, floresceram no glorioso Recife da
dona da história. Rua da Saudade, do Sossego e da União. Rua do Sol, da
Harmonia, da Amizade e da Aurora da minha vida que os anos não trazem mais. O miolo da Veneza Brasileira estende os braços para a Rua do Hospício - asilo, exílio - um privilégio para poucos. Receio enlouquecer. Acuda, mainha! Não bastasse a cor do acolhimento nos
muros do meu Recife Antigo – abrigo, percorrendo os caminhos de volta para
casa, piso poeira e poesia na polpa do meu chão adorado.
A crônica passada está dentro da validade, fique à
vontade para ler a Trança, você,
bem-vindo amigo recém-chegado à ciranda, García Márquez foi um upgrade, rá rá rá, convém intercalar,
vez por outra, entre os meus devaneios idiotas, alguma coisa que, de fato,
preste para alguma coisa, sabe como é, um vestido novo emprestado, para valorizar as curvas
do blog, do contrário, uma hora dessas, aposto meu caçula que ninguém mais me
visita. Trança tem fim, metade e
começo, essa aqui, pelo andar da carruagem, não garanto. Por falar em dar uma
passadinha para um café e duas cuias de conversa mole, soube que Fábio escreveu
um comentário sobre Trança, ele próprio me disse, fiquei em cólicas para ver, Fábio
é balaio cheio, minha senhora, um cara de discernimento e profunda
inteligência, opinião abalizadíssima, portanto. Um pitaco favorável de Fábio, e
eu, depois de amanhã bem cedo, publico uma brochura de devaneios idiotas, com
direito à noite de autógrafo e tudo, tudo devidamente organizado por meus
impolutos alunos do curso de Eventos, os melhores fazedores de festa do Rio de
Janeiro. O lance final nada mais é que o seguinte: as pessoas pensam que
escrevem coisas bacanas (ou não, rá rá rá), eu corro para autorizar as
postagens, a resposta é o silêncio que atravessa a madrugada, uma brochação com
pedigree, pense aí. Aconteceu várias vezes. Lamento informar, leitores do
Brasil, mas não tenho como resolver isso porque não aprendi, eu abro a boca
quando tenho certeza, do contrário... Gastei três dias e três noites
construindo este virtuoso espaço de baixa tecnologia, uma janelinha chinfrim
com varal para pendurar letrinhas, nada mais. Não sei otimizar o blog, até
porque odeio o verbo otimizar, imagina
se tenho cacife para orientar meus colegas sobre como comentar meu texto. A
escola está recheada de informáticos de todas as fragrâncias, outra categoria
de gente do melhor cetim, outros que trabalham pouco, rá rá rá. Aliás, as incansáveis operárias daquela instituição
são as professoras de idiomas, coitadinhas, sendo, delas todas, eu, de longe, a
que mais trabalha, cada um venda o seu peixe, né, meu diretor? Minha sugestão
para os nobres colegas é rasteira feito poleiro de pato: troquem uma ideia com essas
adoráveis criaturinhas cibernéticas, meus respeitos e um beijo em cada um, busquem
a luz no fim do túnel. Eu já morri de ensinar que o sujeito pode arruaçar à
vontade, soltar a língua, picotar o verbo a valer, a moderação de comentário
existe, ora bolas, sei fazer bom uso dela, basta o sujeito assinar depois,
escolher a opção anônimo e enviar o
presente. Se for de grego, eu mando para o raio que o parta, simples assim. Só não me deixe só, que eu tenho medo do inseguro, gentil senhora.
Desconfio que perdi o fio da meada, uma atipicidade. O
mote de hoje, doçuras, em qual esquina dispersou-se, realizo que não sei.
Sentei-me diante do computador, cabeça latejando, na intenção de aliviar a dor
do peito opado de saudade. Engraçado é que meu cérebro doente sabe de cor a
trilha sonora de todas as ausências. Não
posso esperar tanto tempo assim, me sinto só, me sinto só, me sinto tão seu.
Que culpa a gente tem de ser feliz? Que culpa a gente tem, meu bem? É o velho
amor, ainda e sempre. As torcidas botafoguense, fluminense e rubro-negra
sabem que Ronaldão bateu asa, está fazendo um curso sobre um desses assuntos
jurídicos que ele ensina a qualquer desembargador, com o pé nas costas, desde
criancinha. Ronaldo é rato de escola, tem uma disposição invejável para estudar
o que já aprendeu, um troço impressionante. Ninguém tire meu marido por mim,
sou completamente diferente, daí o encaixe perfeito. Eu sou de sair de sala de
aula assim, totalmente impactada com minha esférica burrice sem vestígio de
quina que eu perfure para acessar o conhecimento de qualquer besteira fundamental
para a minha condição de humanidade diuturnamente (des)construída. Sempre
contei com a sorte e com o correr da vida para entender um pouco de tudo, bem
mais para adiante, no futuro de um pequeno dia. Desisti de fazer conta das
intactas novidades descartadas à beira da estrada, investigações que sequer
desembrulhei, esgotada de susto e de preguiça. Se alguém quer matar-me de amor, que me mate na Hospício, onde
ainda hei de residir, beleza maluca, decerto. A solidão é
fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima- irmã do tempo, e faz nossos
relógios caminharem lentos. Meu cérebro doente sabe de cor a trilha sonora
de todas as ausências, meu amor. Onde é
que você some? Que horas, me diga que horas, me diga, que horas você volta?
Para ele, minha bússola.
Para ele, minha bússola.
Acredito que as indas e vindas servem para despertar essas necessidades de aproximação, que talvez não percebemos sua devida importância no dia-a-dia. Agradecemos compartilhar com o "mundo" suas "pérolas literárias". Não existe solidão na internet.
ResponderExcluirCongratulations...
Luciano
Adriana, seu blog é uma delícia de ler! É muito bom poder ter acesso a um lugar onde sobra espontaneidade. Acho que nunca faltarão visitas, rs. Aliás, o blog já está sendo comentado em sala, pois é ‘’uma referência de bons modelos de crônica’’, como diz Fábio. Sou grande admiradora da dona da história ok? Haha, bjão.
ResponderExcluirLuana Garcia (aluna da Giseli, rsrs).
Querida Luana,
ResponderExcluirOs professores de Português da escola são uns desocupados inventando moda, rs... Anyway, fico lisonjeada, essa gente é fera. Volte sempre para um café mais um dedinho de prosa.
Beijo grande.
Adoooro, como sempre.Desta vez devaneou mesmo!! Só discordo de serem idiotas, afinal, quando os blogs "nasceram", vieram com a intenção de substituir os antigos diários que guardávamos a sete chaves (ui, isso é antigo...). Agora, esses diários contemporâneos são livros abertos da vida alheia, alguns estúpidos, outros maravilhosos. Até porque, precisa-se de muita sensibilidade para devanear.Bjs
ResponderExcluirMônica Athayde
É uma deliciosa conversa, né? Vamos conversando, entra assunto, sai depressa, volta de novo, e falamos de tudo um pouco!! Rsrs!! Disse "falamos" porque parece uma roda de conversa, em que você vai contando... e encantando... em contando... encantando!!! Bjs!
ResponderExcluirLenon
Em volta dessa mesa velhos e moços
ResponderExcluirLembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras
Falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua
Vivendo seu normal
Em volta dessas ruas uma cidade
Sonhando seus metais
Em volta da cidade lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá lá...
Ronaldo disse:Se naquele dia
ResponderExcluira coragem não me faltasse
se contigo eu não me casasse
e se o vento não levasse
tantos sonhos meus e teus...
Que teria sido
desse destino vencido
que percorremos separados
porém unidos, ligados
pela filha que tivemos...
E depois, muito depois
qual seria a história de nós dois
se naquele carnaval
entre risos e cuba libre
eu tivesse aceitado você de volta...
Se eu pudesse, se soubesse
que serias tão infeliz
quem sabe teria aceito
o teu amor aprendiz
e te ensinado a viver...
Não fui a dona da história
perdoe-me, se puder
você se foi desse mundo
sem nem aprender sorrir
só agora a história eu li...
Que bom seria
se a vida fosse um roteiro
com direito a remanejo
com direito a reversão
história de segunda-mão...
Mas não é.
O escritor desse roteiro
dá o direito de escolha
só que é feita no escuro
ninguém é dono da história.
Somos nossa própria história.
Amo.
Muito interessante,amiga! Estou adorando o blog. Ideia maravilhosa mesmo. Bjs.
ResponderExcluirAdorei o texto Adriana! O título "A dona da história" me lembrou um filme brasileiro de mesmo nome. Vale à pena assisti-lo, tão bom quanto ler uma crônica sua ;)
ResponderExcluirFelipe Santos
E de onde você acha que eu tirei esse título?? Vi o filme, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Na natureza, tudo se copia, vá aprendendo, bebê, kkkkkkkkkkkkkkkk! Estou muito feliz que os meus meninos entraram na roda... Aventura de voar... Beijo nessa sua bochecha mais gostosa do mundo, querido...
ExcluirCaríssima cronista, encontrei-me novamente em suas linhas, entrelinhas, metalinhas... Eita, que não me reconheci. rs
ResponderExcluirObrigado pelo carinho crônico!... Fábio Lima
"Sempre contei com a sorte e com o correr da vida para entender um pouco de tudo, bem mais para adiante, no futuro de um pequeno dia",,, (...) cada vez mais poeta, tia, mas nao se trata de sorte vai;; :)) vc tem luz propria, BRILHA!!!!
ResponderExcluir"Que o meu destino é raro/ Eu não preciso que seja caro/
Quero gosto sincero do amor,,, Eu sou de paz, eu sou de bem mais"... nao me deixe so...
com carinho, para a dona da história.
Lu