“Eu
não sou eu, nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio”... Numa festa imodesta como esta, vamos
homenagear todo aquele que nos empresta sua testa, construindo coisas pra se
cantar. Três vivas para Adriana Calcanhotto, xará com pedigree, por tanta
emoção, tanto tino, tamanha bem sucedidíssima ousadia, pintando o sete com a
nobre palavra de pluma e de chumbo da bichinha
complicada com poesia não menos densa, rá rá rá: Mário de Sá-Carneiro, minha
senhora, poeta gigante, regulando mais ou menos a estatura do Pessoa, gosto da pessoa no Pessoa e em
Sá-Carneiro, sei que a poesia está para a
prosa, como o amor está para a amizade. Adriana Calcanhotto, uma mulher do
calibre de um trem, linda e lésbica bem resolvida, pela graça divina, fazendo o
diabo com a bichinha complicada, noites de redentora loucura, mais um concerto
que eu gostaria de haver sorvido, gota a gota, verso a verso, entre vinho e
voz. Eu não sou eu, nem sou o outro. Não
sei o que há com as Adrianas, minha senhora, todas as Adrianas da minha estreita,
cotidiana convivência, são puro malte, grãos selecionadíssimos, de
primeiríssima qualidade, adoráveis fêmeas especiais de luxo, a senhora tire por
mim, essa flor de ser vivente, essa criatura tão bacana, desvencilhada das
obrigações, assim tão cedo, num passe de mágica, às 11 horas da sexta-feira,
acredite, minha senhora, sem um fio de cabelo de culpa, Deus nos livre da
culpa, esse mal sem lenitivo. Ocorre que amanheci doida para conversar, estamos
cada vez mais íntimos, minha senhora, sem hora para fechar o bar. Tinha
consulta com a dentista, a moça do consultório ligou, desmarcando, adiaram meu
sofrimento para quinta-feira, achei quase perfeito, sugeri nova consulta em 31
de fevereiro, para o meu calendário, de longe, a data mais adequada, a
atendente não achou a menor graça, nem sempre o dia está para pilhéria, vou
dizer, eu é que preciso aprender. Acabo de elaborar, muitíssimo a contragosto,
deixo claro, três provinhas de recuperação, mandei para a reprografia, com
sorte, cruzem os dedinhos, ninguém providencia as cópias, a molecada vai adorar
passar por média, eu, de minha parte, quero é prazo, jogue fora a rabichola e deixe a tanga voar, né não, meu camarada?
Ia corrigir uma pilastra de exames finais, de Petróleo e Gás, especificamente,
me deu um esmorecimento de repente, procrastinei, rá rá rá, amanhã vai ser
outra manhã, tudo pode acontecer, até rebentar, por dentro do meu organismo,
uma súbita, incontrolável vontade de trabalhar, quem sabe...
Quase nada na vida me dá mais prazer que escrever, sempre
fui assim, desde caprichosa menina nordestinada a no Rio vir morar. Nas salas de aula do Colégio Nossa Senhora
do Carmo da minha infância chatinha, que podia ter sido diferente, mas nunca
foi, ora essa, fico com ela mesmo e mesma, é o que se tem, eu escrevia demais
na sala de aula, por Deus do céu, matemática com biologia, tome-lhe física,
química no toitiço, uma tortura, disciplinas de fazer o sujeito gostar de
escrever, é isso. Religião, puta que o pariu, aula de religião, então, Virgem
Santíssima, aliás, no instante em que eu, finalmente, compreender o que a aula
de religião está fazendo dentro da escola, minha senhora, prometo que conto,
imediatamente, a você. Para não faltar com a verdade verdadeira, minha grande
diversão, meu passatempo, meu deslumbramento era a aula de Português. O meu
semblante denunciava, provavelmente, nunca fui de abrir meu bico, nada disso, o
olho da professora de Português atravessava o mar de gente, acredita? Olhar de
imergir e trazer à tona, resgatar-me do fundo da sala, para eu respirar. Sempre
arrastei um bonde pelas professoras de Português do Colégio Nossa Senhora do
Carmo – Vera, Xênia e Zezé, as melhores da cidade, porque elas me viam, queriam
saber de mim. Nem desconfiava, na época, que aquela casa abrigava nada menos
que o crème de la crème das tecelãs das letrinhas. Essas três mulheres
pescadoras de ilusão, em diferentes fases da minha vida escolar, conquistaram a
minha alma e o meu coração. Tanto que desisti da Psicologia aos quarenta e três
do segundo tempo, na fila do banco, prestes a fazer a inscrição para o
Vestibular Unificado que os anos não trazem mais. Pisei o chão do CAC - Centro
de AIDS e Contaminação, rá rá rá, o Centro de Artes e Comunicação da Universidade
Federal de Pernambuco, carregando no
peito a única certeza: serei professora de Língua Portuguesa.
Jamais consegui lidar com estrelismo, é uma brochação só,
coisas de Seu Biu, minha senhora. A empáfia e o pedantismo não conseguem
expressar-se no meu idioma, eu, de minha parte, nunca comprei o dicionário. Simplificar a vida, meu lema e bandeira. Eu
não sou eu, nem sou o outro, rapte-me,camaleoa.
Vou de mim para o outro e vice-versa, misturando as tintas. Uma história de
amor vai e vem em ondas, como o mar lambendo a encosta, na rocha esculpindo o desenredo infinito. Pedra e água desencontradas, inacessíveis e indisponíveis, produzem
desencanto só, e a inevitável, tantas vezes providencial, mudança dos ventos. Sou
felicíssima, pinto no lixo, exercendo a minha profissão: I'm an alien, I’m a
legal alien, I’m an English... teacher, that’s it! Quase instantaneamente, desisti
de ganhar o pão às custas da última flor
do Lácio, inculta e bela, apesar da Licenciatura concluída com toda honra e
toda glória, capricorniano é fogo. Fiz da língua do patrão a minha última morada,
devo isso a Abuêndia Padilha e seu British accent I take tea, my dear, rá rá rá, a essa altura do baile, merecidamente aposentada,
decerto, um beijo, querida. Professora Abuêndia e seu jeitinho manso de ninguém dar nada por ela, o
cão de camisolão, foi ela quem, sabidinha com farofa, vislumbrou uma brechinha de acesso, na minha cara pálida de desgosto. Pois bem, Abuêndia descalçou ligeirinho as
sandálias da fama, olhou, sorriu, acenou... e me tomou pela mão.
Para Lu, que puxou o assunto.
Para Lu, que puxou o assunto.
Devo acrescentar que as Literaturas Brasileira e Portuguesa (pausa para um suspiro, kkk...), ambas estiveram sempre muitíssimo bem colocadas, na classificação geral do repertório acadêmico das Letras da minha época. O professor de Literatura Portuguesa, José Rodrigues de Paiva, sabia tudo sobre tudo, menos que eu era doida pra me casar com ele, kkkkkkkk... Coisas do mundo, minha nêga, kkkkkkk...
ResponderExcluirKkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk adorei o comentario, tia.
ResponderExcluirMas o que queria falar é que deve ser incrível para um mestre ler uma homenagem como essa.
Bjim
Manu
Desde pequena sabendo contar historinhas como ninguém... Quem nasce com talento, não tem jeito: começa com passinhos curtos, mas depois consegue encantar quase que um Instituto inteiro! haha
ResponderExcluirAh, e como assim matemática = tortura??? Matemática e português, coisas mais lindas que existem no mundo, Dri! kkkkkkkkkkk
Um beijo,
Luana.
Luana, menina!! QUASE é a palavra mais exata de todos os comentários já postados aqui, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, no que 'se refere' à 'acumuladora de desafetos', kkkkkkkkkkkk... Sabe que me lembrei de um ocorrido de 10.000 anos atrás? Tirei a nota mais alta do primeiro simulado de matemática do terceiro ano lá da escola, já pensasse, kkkk??? Os nerdinhos ficaram putos, kkkkkkk!! Era foda, pressão absurda, eu tinha de passar por média, do contrário, adeus bolsa, adeus colégio particular... ODIAVA matemática, mas endoidava de estudar, kkkkkkk... Dureza de vida... A vida é muito dura. Moleza é o sujeito sentar num pudim, né não, doçura?? Um beijo!
ExcluirSem dúvida as Adrianas têm um jeitinho especial! E já me entrometendo nos outros comentários... ODEIO MATEMÁTICA T.T
ResponderExcluirEla me faz perder noites de sono, dias de alegria e tardes prazerosas, me lança no abismo sem fundo dos números, conjuntos funções e o diabo todo.
Felipe Santos
Adorei tudo, em especial aquela parte das Adrianas...hehehe.
ResponderExcluirTem momentos na vida da gente que o que a gente mais precisa é que alguem nos veja, nao é? Simples assim,,, mas tao importante quanto é a gente chegar un dia e poder enxergar isso sozinhos e assumir nossos encantos, sem culpa e medo de errar..... Obrigada fuxique! Obrigada tia por compartilhar, sua cronica foi um presente p mim hoje.. Mes q vem é meu niver... Rss obrigada por fazeelembrar do colegio, da infancia, da querida xenia... E que vou completar 40 aninhos mes q vem e um dia quero te ouvir contar sobre isso, a entrada nos enta.. Kkkk mas isso ja é uma outra historia. Te amo, tia linda! Beijo grande, Lu
ResponderExcluirSempre tem aquela professora que nos inspira... com seu exemplo, seus ensinamentos ou seu simples jeito de olhar pra gente! Quem não tem na lembrança aquele professor que marcou sua trajetória, né? E o pobrezinho, muitas vezes, nem sabe disso! Não que isso tenha o poder de lhe dar riquezas materiais, mas deve ser um orgulho saber que alguém seguiu sua vida inspirado em você! Com certeza é recompensador saber que alguém ou alguéns tem algo de você, ou melhor, que não é ele somente, nem você, mas algo nesse intermédio!!!
ResponderExcluirAdriana, conte-nos: como é saber que muitos têm um pouco de você?
Bjs!
Lenon
Oh gosh! Adriana tu é foda mulher, sem mais.
ResponderExcluirEntão foi assim que você se encantou por esses símbolos doidos. As queridas letras. rs'
Queria eu ter a astúcia da minha amiga Luana pra matemática, mas eu e ela já nos tornamos inimigos mortais desde que minhas amadas letras começaram a se juntar com a bandida. Depois desse dia, devoto o meu ódio a ela. (Exagerado eu? Magina!)
Achei linda a homenagem às suas mentoras, sempre tem aquele professor que nos inspira, nos direciona na vida, o exemplo que falta no âmbito familiar. Tenho casos assim também, apesar de ter nascido apaixonado por algo que pouco se vê na escola. rs'
A minha caligrafia já gritava desde pequeno o que eu iria ser. kkk'
Ótimo texto.
"E seu jeitinho manso de ninguém dar nada por ela"...vc não perdoa não é Adriana !!! kkkkkk Com toda licença do mundo a Manu e Luana, fiquei lendo os comentários e me peguei pensando "queria ter tido uma tia assim para conviver"...rs. Bjo no coração Adriana. (Não que não goste das minhas tias, tá gente...tenho uns exemplares na família que tb adoro, mas um exemplar de Adriana desses, seria bem proveitoso! kkkkkkk) Evelyn
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