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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A casa dois

Entre os dias vinte e nove de setembro e primeiro de outubro, o Sol continua em sua primeira casa astrológica, mas a Lua transita para a Casa Dois. A idéia para este período envolve uma consciência emocional maior de seu próprio valor, uma percepção mais concreta do que você deseja e dos recursos de que necessita para realizar seus intentos. Por isso, você se concentrará mais nos aspectos práticos de seus desejos, nestes próximos dias, na medida em que a Lua cresce. Num sentido negativo, cuidado para não comer em excesso, como forma de satisfazer ânsias e carências.
Eu me cadastrei em um site de horóscopo personalizado, que, vez por outra, me surpreende com cenourinhas, couvezinhos e abobrinhas dessa ordem. Pense numa previsão mais sem pé nem cabeça, é essa aqui. Pra começo de conversa, a recomendação disparou atrasada. Eu como em excesso desde o dia dez de agosto próximo passado, a greve me suscitou um apetite de leoa parida, coisa de não se controlar nem com tarja preta. Meu cloridrato de sibutramina é de farinha, aposto meus rins nisso. Cada vez que sou obrigada a abandonar o meu parceiro travesseiro, para resolver qualquer assunto na rua, o que, diga-se de passagem, nunca resolvo, sequer parcialmente, me assoma aquela preocupação velada, a de não caber mais no que tenho no guarda-roupa. Vivi dessa maneira desde que meu mundo é mundo. Sou gorda de março a agosto, e muito gorda, de setembro a fevereiro, justamente quando as celulites migram para o litoral, tomam muito sol e muitos cristalinos banhos de mar. Acrescente-se a isso o fato de que, nem mesmo em dia de festa da padroeira dos cognitivamente prejudicados, a minha pessoa pernambucana dos olhos de mel, jamais teve a mais remota ideia, a mais leve suspeita de quem ela vem a ser, do que verdadeiramente deseja da vida, que dirá dos recursos necessários para a concretização dos tais intentos. Desde que meu mundo é mundo, eu faço a linha desconhece-te a ti mesmo, que é o melhor que tens a fazer para o teu bem, meu bem. Segue cantando na batucada da vida. Eu entrei de gaiata num navio, e entrei pelo cano. Pré-adolescente ainda, já sofria daquele mal da incompreensão da razão de viver e de sofrer. Sofria mais do que duzentas e oitenta e três adolas juntas num quarto escuro. Eu me lembro da primeira vez que a vida me deu um safanão no pé da orelha, virou uma pereba que ficou supurando anos a fio, foi quando as minhas mães postiças, todas de uma vez, combinaram de sair de casa pra brincar de casinha longe da minha fuça. Doeu, viu. Afaguei meu peito, aliviou, passou. Fico mais dura. Cresci olhando a vida sem malícia, ninguém acredita quando eu digo isso, parece até que eu era a messalina mais turmalina do bacanal, eu até já desisti de insistir nessa besteira, o achômetro existe é pra cada um acionar como acha que deve, pois bem, cresci olhando a vida sem malícia, até que um cabo de polícia despertou meu coração. O coração e os lábios. Lábios até aquela ocasião, jamais tocados. Da chaga aberta nascerá uma flor. Não.  Como eu fui pra ele muito boa, me largou na vida à toa, desprezada como um cão. Tem homem que é cachorro que de hora em hora nos arranca um pedaço. Fico mais dura. Descobri na revista dos signos, que os capricornianos vivem com uma eterna dor de dente, são os mártires do zodíaco. Pensei assim, Maria das Dores és tu, agora sei quem sou. Deu-se que a idade foi me desconstruindo, fui virando outras, completamente diferentes daquela que mais ou menos deduzi que eu era, pelo menos nos dias pares, antes das onze horas da manhã, você tá me entendendo, que eu sei. Num é que me disseram que o meu ascendente fecundou em mim uma nova mulher? A essa altura do campeonato, mais velha que jovem, nada elucida coisa alguma, jazo cega em tiroteio, mais por fora do que umbigo de vedete, mas não me importo. Tudo é muito importante, nada é tão importante. A consciência emocional do meu próprio valor esfinge se expor, pra me estraçalhar, engolir a presa, membro atrás de membro, porque não me decifro. A consciência emocional do meu próprio valor devora as camadas de couro curtido e lambe os beiços. Fico mais pura. A crônica de hoje parece que adensou, ganhou peso, e é isso mesmo. Nem sempre o dia está para papoulas e para cortiças.

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