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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Depois dos temporais I

Ninguém arrote indiferença, não engulo essa, não mesmo. A morte ronda a vida, do primeiro encontro à despedida, que eu vejo e aspiro, a morte germina toda hora, todo acorde, todo ritmo, em todo negro buraco, é sempre um novo último ensaio, geral, tombos e perigos e ausências de amanhãs, a gente errando, errando e errando, até os passos mais fáceis dessa dança corrosiva. Desista de aprender a bailar com a morte, minha senhora, desista. Lá vem a besteira do surrado discurso, ah, a juventude tão brutalmente interceptada, o clichê dos meninos tão meninos na flor da idade com um belo futuro pela frente, tal e coisa, a morte só quer mesmo uma desculpa, quanto escarcéu, quanto sensacionalismo, meu Deus, para quê? Para eu sofrer à maneira de bicho, de cachorro sarnento do meio da rua, isso só. Para eu chorar desconsoladamente as pitangas alheias, as minhas pitangas, essa dor é muito minha, ninguém jamais procure me convencer do contrário, é completamente meu o desejo de correr doida varrida para o oco do mato, carregando no colo as mamães amputadas que me são tão íntimas, mulheres do mundo, uni-vos!, sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas e ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos, magnânimo poeta. Não é o incêndio - labaredas, asfixia - não é o culpado, não é o noticiário apelando para a emoção da gente, não é a estatística, não é nada, é compaixão, é humanidade, é puro sentimento. Quero que seja logo dia de aula, meu Deus, quero ver viva a rapaziada que segue em frente e segura o rojão, que não foge da raia a troco de nada, não foge, não foge, não foge, meu Deus, estrangulada. Quero tocá-los, quero para ontem, com a máxima urgência. O drama dos pais e filhos de Santa Maria me aflige, me açoita, me atinge feito uma bala perdida, encontrada aqui mesmo, jazendo por dentro da caixa dos peitos.  
Meus alunos exigem que eu desenhe a história, tantas vezes figurinha repetida, agora na caverna do blog. Iracema dos lábios de mel - o mito - a professora que eu esperava ser, a oraculosa que mora na Filosofia e não tá prosa, rá rá rá, tem essa maluquice também, de repente, quer saber como foi tudinho, tim-tim por tim-tim, arregala o olhão assim, a senhora jura que ela desconhece o enredo, a desparafusada  já escutou tanto que decorou, fica me lembrando de detalhes que esqueci, minha senhora, é o seguinte, cobriu é circo, cercou é hospício, entenda bem, a máxima serve direitinho para definir aquela valorosa escola, cada um de seus adoráveis e abomináveis frequentadores, inclusive. Uma história de amor, minha senhora, o sujeito vive ou conta, li outro dia e concordo, desde criancinha. Love is in the air faz três anos, nesse programa de rádio, escorre aos litros o amor pelas escadas, relaxo na certeza, portanto, de que o relato estará anos-luz aquém das grandiloquentes expectativas, não importando o quão desesperadamente eu tente, inutilmente, impressionar a distinta audiência. Amo demais os meus alunos, faço tudo que eles pedem, seu desejo é uma ordem, ainda mais nessa segunda-feira sem sol e sem razão, particularmente comovente e comovida. Se os maiores cronistas do Brasil fatiam o bolo, por que não eu, a mais miúda, de todas, de longe, a mais insignificante?
Em julho de 2007, participei de um congresso em São Paulo, muito mais para bater perna sob a garoa, rá rá rá, do que para me atualizar acerca de qualquer coisa na minha área de atuação, eu gosto muito de estudar pouco, disso até meu diretor já sabe. Hospedaram-me duas sobrinhas, Luciana e Ana Paula, ambas morando por lá, uma em Perdizes, outra na Vila Mariana, dez dias de acomodação gratuita e muita farra, maravilha das maravilhas. Surpreendeu-me demais, fiquei abismada de carteirinha, com a coragem de mamar na onça, quando tomei conhecimento do tal par perfeito, fiz um escândalo ao descobrir que as duas loucas de pedra tinham cadastro nesse site de relacionamento, uma confusão dos diabos, sou essa pessoa cismada com a própria sombra, ameacei abrir o bico para minha irmã, a mãe delas, foi engraçadíssimo, minha irmã já estava careca de saber, claríssimo, sempre fui esse despertador enguiçado, disparando atrasado, rá rá rá, sei lá como aconteceu, me recordo mesmo foi do momento em que as meninas (a cachaça ainda mata um corno desse!) decidiram criar, no par perfeito, um perfil para a minha humilde pessoa. Latinha de loura na mão, para não perder o costume, entrei de sola na brincadeira, afirmando, categoricamente, jamais, em tempo algum, acessar aquela porcaria recheada de cafajeste e de psicopata, as duas, na maior gandaia, digitando todas as leseiras embriagadas que eu dizia: busco um homem de caráter, honesto, decente, trabalhador, sincero, sobretudo bem humorado, um homem de riso fácil, com habilidade para fazer do limão, uma saborosa limonada. Frase de apresentação: só não se perca ao entrar no meu infinito particular, docinho! Início de partida na arena dos sonhos. Sexta-feira tem mais. Aguardemos.

12 comentários:

  1. Que bom lembrar desses dias, tia, foram super dez,
    Vou acompanhando as próximas crônicas, é muito bom lembrar pelo teu olhar, rss

    vou avisar a Paula,

    um beijo,
    amo vcs,
    Lu

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  2. ah, o que te fez entrar nesse assunto da crônica???
    curiosinha.. rs
    bj, Lu

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  3. Vamos logo pra segunda parte!! Estou curiosíssimo.

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  4. Esperando a segunda parte ansiosa.Com a sensibilidade a flor da pele,disposta a chorar mais.kkkk

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  5. Haste makes waste. Slow down some, kkkkkkkkkkkkk, que o santo é de barro, bebês!!!

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  6. Liiiiiiiiiiiinda!
    Acho que vou entrar nesse site! Kkkkkkkkkk
    Bj

    Manu

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  7. Kkkkkkkkkkk entra sim, manuca!!
    beijo, Lu

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  8. Querida Adriana estou lendo suas crônicas e devo dizer que não vejo a hora de ler a segunda parte

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  9. Essa história eu já ouvi contada,agora escrita é bem melhor!!! Bj

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