Ladeiras que só interessam a ti e a mim... Conversa mole para boi
dormir, digo logo. O errado é da conta de
todo mundo, isso era Dona Rita, botando pra quebrar nos ditados, eu sou
essa pessoa transbordante de sabedoria popular, nos dias pares, rá rá rá, só
por causa dela, as flechas certeiras apontadas para o direito, Mainha era um ‘compêndio
proverbial’, um negócio impressionante, de cair o queixo, e sem alisar banca de
escola, isso Dona Rita frisava bem frisado, na lata, na cara da gente, empilhava
a penca de filhos letrados, uns frangotes pelados metidos a cavalo do cão, a
prole no seu devido lugar, trinta e seis degraus abaixo do salto alto do sapato
dela, rá rá rá, mais rasteiros que poleiro de pato. Lamentavelmente, não dei
cria que crescesse amparada pelos ensinamentos da minha saudosa mãe, teria
imitado Dona Rita, do meu miolo frouxo à
panturrilha, na educação de uma criança somente minha, estaria abalizada, coberta inteira de
razão, duvidava que a brincadeira não desse certo feito dedo na venta.
Alceu Valença escreveu adoidado
sobre as ladeiras de Olinda, as ladeiras de Olinda são o palco mais apropriado
para as peripécias de quem deseje experimentar o raro tempero da melhor receita
de beleza, ao delicado molho da poesia completa deste glorioso país-continente
sem eira nem beira. Um dia, as misérias do pão e da idoneidade vão desaparecer
do meio do Brasil e do mundo, vivo de acreditar, de fazer, devagarinho, mais ou
menos, a minha parte insignificante. O amigo leitor que ainda não visitou
aquele épico monumento, cidade parideira de bem-aventurança, Olinda, tens a paz dos mosteiros da Índia,
tu és linda, pra mim, és ainda minha mulher , meu amigo, faça a si mesmo a
gentileza, sinta nos veios da face a inebriante carícia, providencie um pé-de-meia, que
nem precisa ser tão estribado, Olinda sabe receber sem espalhafato, sem o
sujeito precisar vender as córneas, pode confiar, já foi, nêgo? Não? Então, vá! Olinda também sabe esnobar, chique de
doer, toda trabalhada na elegância e no cartão de crédito de quem pode, pode. Tem
um lugar lá em cima, que não é para qualquer bico, vem justamente do Beijupirá,
a historinha que pretendo lhes contar. Beijupirá é peixe e é o nome de um
restaurante arrochado, o estabelecimento é luxo só, desses do cabra entrar na
aba dos outros, passar bem, comer e beber da fina flor, tirar um bocado de
retrato, se exibir no facebook, fazer
um agá, aparecer às custas do besta da ocasião, que ninguém é de ferro. Quando
retornamos daquele passeio de barco por baixo das pontes do Recife, a senhora
deve estar lembrada, estávamos os quatro, eu, Ronaldo, Nilde e Isis, varados de
fome. Minha irmã das altas rodas, rá rá rá, Tia Isis, convidou a gente pra
conhecer o famoso Beijupirá. Tia Isis é essa figura inoxidável, é ela que see dead people, troca uma ideia legal
com os desencarnados da família, rá rá rá, espírita convicta, de carteirinha, pós-graduada
com louvor, aluna laureada no Liceu de Allan Kardec, só vendo. Me deu um frio na
espinha, visualizei a carreirinha de zero na conta, aguardei o veredito de Ronaldo,
ele concordou, relaxei, meu marido sempre sabe o que está fazendo, rá rá rá, já
que tá dentro, deixe, ora ora! Minha senhora, para encurtar o causo, basta
descrever o acesso ao palacete assobradado: um suntuoso elevador panorâmico,
desses transparentes, acanhado, porém, no tamanho, vamos combinar. Para baixo,
todo santo ajuda, distribuímos o peso sem querer, obra e graça do acaso,
Ronaldo e Isis, eu e Nilde, a capacidade máxima do bicho era essa, duas
pessoas, para cada viagem. A janta foi da hora, espetacular, idem para a
despesa, Tia Isis fechou de badoque, assumiu sozinha todos os zeros, não rachou
nem com o anjo da guarda, anfitriã arretada... e abastada. Para cima, o santo
tem de contar com mais sorte. Isis e Nilde subiram na frente, claro, que eu
precisava de um mico king kong para a posteridade do blog. Ronaldo e eu
emperramos a dois passos do paraíso, sem saber os desejos aonde é que iam dar.
O bicho parou antes do fim da linha, rá rá rá. Ficamos presos, no alto, de
repente, o solavanco e uma ré inesperada, rá rá rá, anarriê!!, voltamos, com mais de mil, para a base, Nilde viu tudo, ria de perder o chapéu, Isis, abiscoitada de
nascença, aluada com pedigree, sem perceber a confusão, comunicando-se,
decerto, com um Gasparzinho camarada do lugar. Quando a gente aterrissou, a
bela jovem, muitíssimo educada, quebrando tudo na pantalona e no bico fino, rá
rá rá, sugeriu que subíssemos um de cada vez. Ronaldo não perde a piada,
disparou, no quente: esse caixote é de papelão, é, menina? Não levanta duzentos
quilos? Tinha que pendurar uma plaquinha exclusivo
para magros, né não, madame?
A gente ainda tentando respirar,
recuperar-se das gargalhadas, eu ria de engasgar, de mijar na roupa, rá rá rá
rá rá rá, só vi foi um aborígene da velha Marim, na minha janela, o rasta surgiu do nada, trancinhas eriçadas, gritando é contramão, minha senhora!!!! Tá doida, é???, para Tia Isis, a
motorista. Isis já não é muito orientada do juízo, na pândega, como diria Dona
Rita, a coitada errou o caminho, entalou numa ladeira estreitíssima,
escorregadeira, rá rá rá, um magote de turista mais perdido que filho da puta
em dia dos pais, encostou logo na bunda do carro, não demorou, a cena era essa:
uma carreata atrás, outra na frente, a gente no meio, Isis danou-se a rezar, nunca
ri tanto na minha vida. Nilde decidiu chamar a polícia, desembestou a pé,
ladeira abaixo, potoco, potoco, o salto no paralelepípedo, rá rá rá... Com
pouco, avistamos a luzinha vermelha, a viatura, os guardinhas tiveram uma
trabalheira dos diabos, explicando, é uma
contramão, ela deve ser turista, rá rá rá rá rá rá rá, turista com placa de
Recife, rá rá rá rá rá rá. Abriram um espaço para Tia Isis manobrar, uma ruazinha
de nada, inclinada pra raio, Ronaldo não podia dirigir, tinha bebido, o jeito
foi apostar todas as fichas na espiritualidade, rá rá rá rá rá rá, meu Deus,
que coisa mais engraçada! Quando a gente, finalmente, conseguiu sair daquele
novelo, entrando em Recife já, Nilde comentou bem assim: olha, Isis, se eu não tivesse ido buscar, com os meus adorados
pezinhos, rá rá rá, os policiais, a gente tava fodida, não saía dali era nunca
mais! Tia Isis: engano seu, Nilde.
Você foi o instrumento, é diferente. Meus amiguinhos desencarnados, meus
mentores espirituais trouxeram aquela viatura. Nilde: e foi, foi??? Mas era só o que me faltava!!! Pois você vá tomar bem no centro 'daquele canto' por causa disso,
sua porra!!!!!!!
Eu lembro daquela
menina subindo ladeiras
Ladeiras de frevo e preguiça da velha Marim
Ladeiras tão carnavalescas, escorregadeiras
Que na terça-feira jogaram você sobre mim
Ladeiras sugerem saudade, minha companheira
Ladeiras que só interessam a ti e a mim
Eu subo e descubro
Que a vida é feito ladeiras
No seu sobe e desce contínuo
Princípio e o fim
Perdi um amor tão bonito naquela ladeira
Que vai dar no Alto da Sé
No Bar Querubim
E hoje a saudade me aperta de toda maneira
Ladeira da Misericórdia tem pena de mim
Ladeiras de frevo e preguiça da velha Marim
Ladeiras tão carnavalescas, escorregadeiras
Que na terça-feira jogaram você sobre mim
Ladeiras sugerem saudade, minha companheira
Ladeiras que só interessam a ti e a mim
Eu subo e descubro
Que a vida é feito ladeiras
No seu sobe e desce contínuo
Princípio e o fim
Perdi um amor tão bonito naquela ladeira
Que vai dar no Alto da Sé
No Bar Querubim
E hoje a saudade me aperta de toda maneira
Ladeira da Misericórdia tem pena de mim
Ladeira da Sé, ladeira preguiçosa
Ladeira do Amparo, da Misericórdia, amor...
Ladeiras, ladeiras...
(Alceu Valença)
Olha, quem tem um medo descomunal de elevador é minha mãe, não pega de jeito nenhum. O único incidente amedrontador que tive com essas "caixinhas de papelão", foi quando estava descendo em uma delas pro primeiro andar do Lagoa Shopping. É que ela parou de funcionar por LONGUÍSSIMOS 2 segundos kkkk, não mais que isso. Deu uma piscadinha na luz, um tranco, e depois continuou descendo. Foi o bastante para me causar um infarto, um AVC, uma crise epilética com uma pitada de morte súbita kkkkkk, já estava a ponto de encomendar minha alma! Imagine só ficar trancado dentro de um cubinho escuro, suspenso, sem saber o porque daquilo tudo! Foi horrível, foram só alguns segundos, mas ainda sim foi horrível.
ResponderExcluirEu fico maravilhado com a coordenação motora e força nas pernas daquela galera que dança frevo nas ladeiras de Olinda! Além de fazer aqueles paços rápidos, descem e sobem as ladeiras mais verticais do mundo como se fosse fácil. É um escândalo pra meros mortais como eu hahahaha
Agora vou te falar hein! Essa Tia Isis encomendando policiais via comunicação espiritual, foi demais kkkkkkkkkkkkkkk. Preciso de uma dessas pra resolver meus problemas! Linha direta e privilegiada com o Além. Adorei o final da crônica!
Pois é, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Tia Isis num é fraca não... Ainda ontem, despachou um time de desencarnados, da primeira divisão, sem reserva, kkkkkkkkkkk!!, pra cuidar da minha enxaqueca... Uma figuraça! Aceitei, kkkkk, de bom grado, a pessoa com dor, filhote, faz qualquer negócio, kkkkkkkk!!
Excluirkkkkkkkkkkkkk muito bom, tia.
ResponderExcluiressa eu também queria ter visto, misericórdia kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk literalmente
e mainha não me contou menina....
essa crônica me lembrou que vou passar o carnaval ai,quem sabe em uma dessas ladeiras, carnavalescas, que sugerem saudade;;;;
a vida é feita de ladeiras..
adorei, sua crônica arrasou tia!! pra variar...
beijo,
Lu
beijo com saudade
Kkkkkkkkkkkkkkkkk... Parece mentira, kkkkkkkk... Não é! No dia que eu mentir, o mundo se acaba, kkkkkkkk, num frevo rasgado!!
ExcluirGente... Acho que tia Isis já mandou o seu esquadrão desencarnado pra Cabo Frio, partes dos meus problemas foram resolvidos. Menina, Doutorado pode não ensinar a dar aula, mas foi a nossa salvação né Lipe? Hilariante, ri do começo ao fim, muito bom. Eu particularmente adora Elevadores, os de Cabo Frio nem tanto por que são poucos andares, nem tem graça.
ResponderExcluir