Precisa
amar sua amiga, irmão, e relembrar que o mundo só vai se curvar, quando o amor
que em seu corpo já nasceu, liberdade buscar, na mulher que você encontrou. Milton
Nascimento e Fernando Brant passaram do ponto, nesse pequeno dia de tanta
inspiração, Sentinela está entre as
dez mais belas canções do mundo, no meu top
ten, bem entendido, a senhora brinque de fazer sua lista, é um passatempo
interessante, a gente vai escrevendo, mudando de ideia, apagando, troca a ordem
dos fatores, altera, na cara dura, o produto, rá rá rá, meu top ten é libriano, minha senhora, signo da indecisão, sofre
de permanente hesitação com pedigree, uma mobilidade alarmante, comete cada
deslize, é cada injustiça, meu Deus, prefere ser essa metamorfose ambulante, predomina o arrepio do preciso
instante, dando e arreganhando o tom da conversa. Hoje, beforehand, esclareço: não estou boa para pobre, dia de dor de
cabeça é assim. Abri a janela, de manhã tarde, dez horas do dia, veio a
fisgada, tchun, contraí a fronte, cenho pavoroso, chegaste, companheira de jornada?, o
beliscão da inconveniente machuca com gosto, exatamente um mindinho acima da
sobrancelha esquerda. Presença. Parece que vai doer com propriedade, a
desalmada, de um lado só, rá rá rá, vamos jogar, Pollyanna? Apanha ligeiro o
tabuleiro, contente. Duas neosas, de seis em seis horas, e seguir, a gente se
acostuma com tudo nessa vida bandida. Morrer agora? Não quero. Os cdzinhos aguardam,
enfileirados, a vez de se lançar. Engraçado isso do sujeito ter playlist no computador e no raio que o
parta, a modernidade tem muito fôlego, os artríticos, tadinhos, extenuados,
bufando, quedam-se, humilhados, à acolhedora sombra do frondoso jambeiro. Não
sei o que há comigo, não consigo não tocar as coisas. Sou a maior compradora de
cd do Brasil, carpindo a minha dor
sozinha, alguns lps da minha juventude jamais foram remasterizados, o lp de
Clara Nunes, por exemplo, aquele de Regresso,
cortei um dobrado para baixar Regresso
no pc, alivia, decerto, mas não cura. Careço estudar as capas, os encartes, esparramadinha
no sofá, fico girando o acrílico entre os dedos, sabe como é?, cafuné nas
notas, tens as minhas digitais, o que
salva a gente são os rituais particulares. Essa semana, na TV, ouvi que uma
grande loja francesa, de cds e afins, fiquei besta, fechou as portas! Não
precisa explicar, minha senhora, eu só queria entender. Se a molecada,
nowadays, só conhece música por meio da internet, a molecada desconhece o que é
bom para tosse, o passado mais remoto e inteligente, os sons e as letras pais e
mães da humanidade. A indústria fonográfica, no meu ponto-de-vista, precisa de uma
drástica desatualização, urgente, fossilizar-se para sobreviver.
Sem medo de ser feliz, reafirmo que Milton e Fernando
passaram do ponto. Uma overdose de Sentinela,
sem as devidas precauções, a saudade, nas noites de frio, em meu peito vazio, virá se aninhar, Sentinela pode matar da emoção da saudade. Nenhum contribuinte
com cabeça, tronco, membros e o músculo pulsante, que tenha sentido, das tripas à superfície da
pele, a ceifa de um ente querido, tenha certeza disso, minha senhora, vou mais
longe, nenhum ser vivente atravessa, incólume, este poema, esta melodia. Se a
senhora curte as veias abertas de Nana Caymmi, então, fodeu, a senhora pise
nesse chão devagarinho. Eu sou completamente apaixonada pela voz dessa mulher.
Para mim, é o seguinte, o compositor querendo impressionar, entregue seu
rebento às cordas vocais de Nana Caymmi, o mais será contemplação extasiada.
Surpreendi-me, na escola, recentemente, com Maurecir, nosso querido professor
de pintar o sete, Maurecir é um sujeito talentoso pacas, toca, canta, dança e
sapateia com categoria, acho Maurecir um sujeito bem bacana, tirando o fato do
colega não gostar de Nana, Nana Caymmi é
uma lamentação enjoada, uma choradeira que não me agrada, rá rá rá.
Continuamos muito bons amigos, as minhas relações de amizade resistem ao insondável, a tudo
nessa vida, exceto à calhordice da desonestidade, seguimos parceiros, entre nós, rá rá rá,
interpôs-se essa restrição, apenas. Nana distende, enobrece essa versão de Sentinela, é isso. Assisti a quatro
shows de Nana Caymmi, saio completamente chapada, de perna bamba, para o meu
paladar, a diva come com farinha, esculacha. Aliás, os cds de Nana estão na
agulha, prontos para rodar, depois de Milton, a vibe do momento é cantar para liberar tanta saudade, saudade engole a gente, engole a gente. Longe, longe, ouço essa voz que o tempo não vai levar. Memória não
morrerá. Minha saudade cheira a leite de rosas do sovaco de Seu Biu. Painho, eu não sou digna de que entreis em
minha pobre morada, porém, se tu desejas, queres me visitar, dou-te meu
coração, dou-te meu coração.
Nunca peguei em um LP na minha vida, apenas em fitas de áudio e vídeo. Qual é a criança que nunca se divertiu rebobinando fita na caneta né?
ResponderExcluirConheço pouquíssimo de Milton Nascimento, somente as Marias: "Maria, Maria" e "Maria Solidária", essa última somente porque tocava em uma novela por aí. Recentemente conheci uma que se encaixa perfeitamente pra esses dias em que Zeca Pagodinho virou o salvador de Xerém, ajudando as pessoas atingidas pelas fortes chuvas e a inundação, aquela que diz "Todo artista tem de ir aonde o povo está. Se foi assim, assim será.", acho que ele cantou-a em uma manifestação popular à favor das Diretas Já, não me lembro bem. Ele cantou pra mostrar, como a letra diz, que o artista tem que ficar do lado do povo. Ele está certo, tem que ser assim mesmo.
Você me enche de orgulho de ser sua professorinha, meu filho... Um beijo.
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